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O fascismo das redes, segundo Moraes

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, criticou as grandes empresas de tecnologia em discurso em São Paulo e, ainda por cima, associou as redes sociais ao fascismo. Sobre as big techs, ele disse que tais empresas não são neutras e que “são grupos econômicos que querem dominar a economia e a política mundial, ignorando fronteiras, ignorando a soberania nacional de cada país, ignorando legislações, para terem poder e lucro”.

Não há muita diferença entre o que diz o ministro sobre as corporações de tecnologia, em 2025, e o que pregavam os militantes de esquerda, nos anos 1960, sobre as multinacionais. Para esses indivíduos, as empresas transnacionais tinham apenas interesse em lucrar e, para isso, precisavam interferir em decisões de autoridades locais para tirar proveito dos países que supostamente exploravam.

Mais adiante, Moraes associou as redes à extrema-direita. “Estamos começando a entender como se deu esse processo de transformar as redes sociais em instrumentos de uma ideologia nefasta, o fascismo, disseminando discursos de ódio, misoginia, homofobia e até ideias nazistas”, afirmou o juiz a uma plateia de estudantes de Direito da Universidade de São Paulo.

Em relação às empresas de tecnologia serem movidas pelo lucro e poder: qual é o problema? Por acaso as big techs são diferentes das companhias siderúrgicas ou redes de varejo? Toda empresa é dirigida para obter margens de lucro – e o mundo da tecnologia não é diferente. Além disso, todas as companhias do mundo querem interferir nas estruturas de poder para obter vantagens (pode-se fazer isso, contudo, de forma legal ou ilegal; obviamente, práticas marginais à lei devem ser criticadas, combatidas e punidas).

Sobre o fascismo e as redes sociais, é o caso de se perguntar: a culpa é do meio (a rede) ou dos usuários? O brasileiro Santos Dumont, no início do século passado, entrou em depressão porque viu o avião ser utilizado na Primeira Guerra Mundial e, depois, na Revolução Constitucionalista de 1932. Por conta disso, acabou tirando a própria vida no Hotel de la Plage, no Guarujá (onde hoje fica o shopping de mesmo nome na praia das Pitangueiras). O avião, em si, era apenas um meio para atacar as pessoas – mas, ao mesmo tempo, era uma ferramenta utilíssima para o transporte público.

Diante disso, uma aeronave pode ser visto apenas como arma? Não. E as redes, podem ser consideradas apenas um instrumento dos fascistas, misóginos, homofóbicos e nazistas? Também não.

Temos cerca de 144 milhões de usuários de redes sociais no Brasil, algo como dois terços de nossa população. É óbvio que esse grupo não tem, em sua maioria, extremistas machistas e reacionários.

Por que, então, o ministro insiste neste discurso?

A razão é simples: ao associar o meio digital ao fascismo, Moraes se coloca como alguém indispensável para controlar eventuais excessos e abusos cometidos pelos internautas. Ocorre que é impossível controlar a enxurrada de baboseiras que se posta diariamente neste mundo – e, neste contexto, o mundo digital é composto por bolhas que só se tocam em momentos de confronto.

Assim, misóginos, homofóbicos e fascistas geralmente ficam falando entre si. O mesmo vale para qualquer outro tipo de extremismo, seja de origem política ou de costumes. Não vale a pena reprimir esses discursos rancorosos – a não ser que as postagens sejam contrárias à legislação (e a lei brasileira, diga-se, proíbe explicitamente a divulgação de ideias nazistas).

Ninguém precisa de curadores de conteúdo, muito menos aqueles controlados pelas autoridades. Se as mensagens idiotizadas são postadas por uma minoria barulhenta, cabe à maioria pressionar para que as imbecilidades deixem de ser discutidas à luz do dia. Cada vez que nos calamos diante de uma estupidez, estamos dando um aval silencioso para que os néscios se unam e ganhem mais força. Preconceitos hediondos e ideais antidemocráticos devem ser debatidos e combatidos pelos próprios usuários das redes sociais. Chega de tutela: não precisamos de ninguém para nos dizer o que é certo ou o que é errado.

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