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“Os homens da moeda”: erros e acertos na política econômica

Coletânea aborda a trajetória dos 15 ministros que ocuparam a Fazenda do governo Sarney até Temer. No caminho, recessões, hiperinflação, paridade com o dólar, planos, congelamentos, crises, impeachments e bons momentos

Uma análise sobre a condução da economia brasileira durante a Nova República é um assunto tão relevante quanto desafiador. Portanto, é bem-vindo “Os Homens da moeda: O que pensavam os ministros da Fazenda da Nova República (1985-2018)”, organizado por Ivan Colangelo Salomão. A obra dá sequência à trilogia inacabada iniciada com “Os homens do cofre” (520 páginas), que analisou os ministros republicanos da Fazenda, entre 1889 e 1985. O trabalho revela como as decisões econômicas são influenciadas por crises, planos de estabilização e mudanças de rumos políticos.

Cada capítulo é dedicado a um dos 15 ministros da Fazenda nos 33 anos cobertos, desde Francisco Dornelles, o primeiro da Nova República, até Henrique Meirelles. Ao longo da narrativa são exploradas as trajetórias e desafios de Luiz Carlos Bresser-Pereira, Dilson Funaro, Zélia Cardoso de Mello, Rubens Ricúpero, Fernando Henrique Cardoso, Pedro Malan, Antônio Palocci, Guido Mantega, Joaquim Levy e outros. O prefácio, assinado por Bresser-Pereira, contextualiza os principais desafios, como a hiperinflação dos anos 1980, o Plano Real e a crise fiscal dos anos 2010.

A obra respeita a cronologia. Cada personagem é tratado por três autores, garantindo perspectivas diversas. Além das análises individuais, o livro aborda como a sofisticação do embasamento teórico nem sempre se traduziu nos resultados desejados, evidenciando a complexidade da economia brasileira. Um exemplo emblemático é a teoria da inflação inercial, que influenciou tanto os planos fracassados dos anos 1980 quanto o sucesso do Plano Real na década seguinte.

Novo arranjo

Entre os pontos altos da obra está a análise do impacto das políticas adotadas por cada ministro e sua relação com os eventos políticos e sociais no Brasil e no mundo. A passagem de Zélia Cardoso, única mulher a comandar a Fazenda, enriquece a discussão por sua controversa atuação no Plano Collor, que congelou depósitos bancários e gerou grande insatisfação popular. O mesmo vale para o congelamento fracassado de Funaro no Plano Sarney. No caminho oposto, o trabalho de Ricupero, FHC e Malan na consolidação do Real.

Na introdução, Salomão deixa claro que o período pós-eleição de Bolsonaro, está fora do livro. “O arranjo político sobre a qual Tancredo neves e Ulysses Guimarães arquitetaram a Nova República foi encerrado com a eleição de 2018”, escreveu, alertando que a atualidade ainda precisa ser dissecada e interpretada.

Apesar de sua abordagem detalhada e equilibrada, “Os Homens da moeda” poderia aprofundar mais as consequências de longo prazo das decisões econômicas, especialmente no que diz respeito às reformas estruturais e ao impacto do neoliberalismo. A abordagem técnica em alguns momentos pode tornar a leitura densa para quem não tem familiaridade com economia. Felizmente o texto bem estruturado e fluido.

Ao fim, a coletânea se estabelece como uma leitura eficaz para quem deseja entender as dinâmicas que afetaram cotidianos passados. Ao lançar luz sobre o pensamento e a atuação dos chefes da pasta, a obra levanta reflexões sobre os desafios que persistem na busca por estabilidade e crescimento deixando um alerta. Feitos que também serão dissecados na última parte da trilogia, “Os homens do sonante”, sobre o Império (1822-1889), que deve ser lançado em 2026.

430 páginas
Preço sugerido: R$ 80
Editora Unesp

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