Os solavancos da economia brasileira têm um efeito muito específico. Os juros altos e outras adversidades atingem prioritariamente empresariado, mas produzem poucas consequências entre os trabalhadores. O crescimento da massa salarial é evidente e o cenário econômico dá mostras de pujança. Um exemplo disso é o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) de janeiro, que apresentou alta de 0,89%, superando com folga a previsão dos analistas do mercado financeiro, que apostavam em uma alta de, no máximo, 0,7%.
Apesar disso, a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva teima em não subir, mostrando um comportamento cadente desde o ano passado. Este fenômeno mostra que, em determinados momentos, a economia não é o principal fator de avaliação de um governo. No caso de Lula, certamente há outras razões para explicar a popularidade cadente.
Mesmo assim, a grande aposta do presidente, agora, também tem um pé no aspecto econômico: trata-se da isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5.000 mensais. O tema passou a ser pautado sistematicamente pelos veículos de comunicação, seguindo as declarações das autoridades.
Nesta semana, o ministro Fernando Haddad, por exemplo, veio a público para dizer que a renúncia fiscal embutida no processo de isenção foi recalculada pelo governo: os cofres públicos vão deixar de arrecadar R$ 27 bilhões com a medida, contra estimativas anteriores de R$ 35 bilhões.
O ministro da Comunicação, Sidônio Marques, percebeu que um dos maiores desafios da atual administração é a falta de uma bandeira, como foi o Bolsa-Família nos primeiros mandatos petistas. A isenção de impostos para quem ganha menos pode suprir essa lacuna e produzir resultados palpáveis.
A pergunta que fica, no entanto, é: quando os eleitores se sensibilizariam com essa medida?
O efeito prático da isenção se daria apenas na declaração de IR do ano que vem, caso o Congresso aprove a intenção do Planalto. Portanto, é muito provável que os índices de popularidade de Lula continuem claudicando até o final deste ano, o que pode provocar tensão no núcleo duro situacionista.
O governo, desse jeito, está agindo na base do tudo ou nada, esperando resultados a partir de uma única bala de prata. Na história recente, vimos que esse tipo de estratégia não costuma dar muito certo.
Além disso, talvez o problema relativo à aprovação de Lula não esteja nem na economia ou nos benefícios sociais. Há uma parcela expressiva da sociedade que não deseja mais um discurso que ataque deliberadamente os ricos – seja na classe média como entre os trabalhadores. No fundo, esses eleitores desejam ascender e enriquecer, trabalhando para atingir tal objetivo.
A ambição parece ter chegado de vez ao Brasil. Infelizmente, nosso país, até pouco tempo atrás, via a riqueza como um pecado mortal.
Lembremos das palavras do personagem Gordon Gekko, vivido por Michael Douglas, em uma performance que lhe rendeu o Oscar de melhor ator. Em uma reunião de acionistas da fictícia Teldar Paper, ele diz:
– O ponto é, senhoras e senhores, que a ambição — por falta de uma palavra melhor — é boa. A ambição é certa. A ambição funciona. A ambição esclarece, penetra e captura a essência do espírito evolucionário. A ambição, em todas as suas formas — pela vida, por dinheiro, por amor, conhecimento — marcou a ascensão da humanidade.
O empreendedor é a força motriz do crescimento econômico. E ele é movido pela ambição. Este brasileiro ambicioso, nesta nova fase, não quer mais o Estado para aumentar direitos que serão pagos pelos empregadores. Ele quer ser, isto sim, um empregador. Assim, não quer um Estado gordo e ineficiente. Estes cidadãos não se identificam com Lula – e daí vem a sua impopularidade junto a esse grupo.
Como o presidente não vai mudar de personalidade a essa altura do campeonato, o trabalho do ministro Sidônio terá de ser hercúleo para garantir a recuperação popular do governo. A ideia de isentar o IR de quem ganha até R$ 5.000 pode ser o começo. Mas está longe, ainda, de resolver todo o problema de imagem que ronda o Palácio do Planalto.