Período deve registrar primeira queda no faturamento do varejo desde a pandemia

Com o chocolate quase 20% mais caro e a disparada nos preços de produtos importados como bacalhau e azeite de oliva, o comércio projeta uma Páscoa menos aquecida em 2025. A expectativa de faturamento do varejo para a data é de R$ 3,36 bilhões, segundo levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O valor representa uma queda real de 1,4% em relação ao ano passado — a primeira retração desde o colapso de 2020, no auge da pandemia.

“O principal fator que explica essa queda é o choque de preços dos produtos relacionados à data”, afirma o economista sênior da CNC, Fabio Bentes. De acordo com ele, mesmo com o mercado de trabalho em relativa estabilidade, o impulso ao consumo perdeu força, pressionado pelo encarecimento generalizado dos itens típicos da celebração.

A cesta de oito produtos e serviços mais consumidos na Páscoa está, em média, 7,4% mais cara em 2025, superando novamente a inflação oficial do período, medida em 5,8% pelo IPCA-15 acumulado até março. O chocolate lidera os reajustes com aumento de 18,9% — a maior alta registrada nos últimos 13 anos. Em seguida, aparecem o bacalhau (9,6%) e o azeite de oliva (9%).

A disparada no preço do cacau, que acumulou valorização de 189% no mercado internacional em 2024, é apontada como a principal vilã por trás da alta do chocolate. A desvalorização do real também pesou: o dólar, que estava em torno de R$ 5 no ano passado, agora gira em torno de R$ 5,80 — encarecendo ainda mais os produtos importados e pressionando os preços ao consumidor.

Os reflexos já são percebidos nas prateleiras e nos estoques. Em março, mês que antecede a Páscoa, as importações de chocolate recuaram 17,6%, totalizando 1,43 mil toneladas. No mesmo período, a importação de bacalhau caiu 11,7%. “Se o varejo estivesse apostando em aumento de vendas, certamente estaria importando mais”, observa Bentes.