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Marina diz que campanha começou com entrada de Haddad na disputa e critica voto útil

SÃO PAULO (Reuters) – A candidata da Rede à Presidência, Marina Silva, disse que a campanha eleitoral começou para valer apenas com a entrada do candidato do PT, Fernando Haddad, na disputa e fez uma pregação contra a ideia de voto útil, ao defender que, numa disputa de dois turnos, os eleitores devem escolher o candidato que mais lhe agrada na primeira rodada de votação.

Após participar de evento realizado pela revista Veja, em São Paulo, a candidata da Rede, que tem caído nas pesquisas de intenção de voto, afirmou que o patamar que se encontra –6 por cento segundo Ibope divulgado na véspera– é “excelente” para o que ela avalia ser o início da campanha.

“Agora nós temos a realidade do processo político com todas as candidaturas postas, e eu e Eduardo estamos partindo de um patamar excelente para poder dialogar com os brasileiros e brasileiras pelos próximos 15, 16, 17 dias”, disse Marina a repórteres após ser sabatinada por jornalistas da Veja.

“Nós estamos no processo, estamos na disputa, mas não vamos lançar mão de todo e qualquer subterfúgio. Vamos fazer uma campanha com base na verdade, com base em propostas com propósito”, garantiu.

Antes da entrada de Haddad na disputa, em substituição a Luiz Inácio Lula da Silva, Marina tinha o dobro de intenções de voto, segundo o Ibope, e as pesquisas a apontavam como uma das principais herdeiras do voto destinado ao ex-presidente.

Durante a sabatina, a candidata da Rede fez a avaliação de que, com a entrada de Haddad, depois de Lula ser barrado pela Justiça Eleitoral com base na Lei da Ficha Limpa, as coisas estão em “base real”.

A presidenciável afirmou que o eleitorado não pode escolher entre o “saudosismo autoritário” –em aparente referência a Bolsonaro– e à “conivência com a corrupção” –em aparente alusão a Haddad e ao PT. Lula está preso desde abril após ser condenado por corrupção e lavagem de dinheiro.

Ela também afirmou que o Brasil não pode escolher entre a tentação autoritária “nem de direita, nem de esquerda”. Bolsonaro apareceram em primeiro e segundo lugar na pesquisa Ibope divulgada terça-feira e dispontam como favoritos para irem ao segundo turno.

Apesar das pesquisas, Marina manifestou confiança de que ela, acompanhada de seu candidato a vice, Eduardo Jorge, estará no segundo turno.

“Eu e Eduardo estaremos no segundo turno. Não importa com quem seja. Nós estaremos no segundo turno. Estamos lutando para isso. Se existe alguns que já jogaram a toalha, nós continuamos no páreo”, disse Marina, quando indagada sobre declaração dada mais cedo no mesmo evento pelo candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, de que Haddad já tem vaga assegurada no segundo turno. O tucano disse que resta decidir quem será o adversário do petista.

“Nós vamos dialogar com os brasileiros, livres. Ninguém pode votar pelo medo, ninguém pode votar numa situação em que você abandona o candidato do seu coração. Uma eleição em dois turnos, é para que cada um dê o seu voto. Não existe essa história de voto útil. Quem prega voto útil está querendo inutilizar o seu voto”, criticou.

Pela manhã, o candidato do PDT, Ciro Gomes, que teve 11 por cento no Ibope, foi na mesma linha, fazendo um apelo para que o eleitor mantenha no primeiro turno o voto de convicção. “A gente tem o segundo turno para escolher o menos ruim… se o seu predileto não for para o segundo turno”, disse. [nL2N1W50N7]

“NÃO É ASSIM MESMO”

Marina também criticou o conformismo daqueles que acreditam que as coisa são assim mesmo e, dirigindo-se aos jornalistas, lembrou daqueles que lutaram contra regimes autoritários.

“Se fosse assim mesmo, hoje nenhum de vocês tinha liberdade de imprensa. Muitos dos antecessores de vocês lutaram para que o texto de vocês não fosse riscado, para que a peça de teatro não fosse censurada, porque não acharam que era assim mesmo”, disse.

“Se achar que é assim mesmo, o Brasil nunca vai mudar”, acrescentou. “Depois de tudo o que aconteceu, chegou a hora de acabar com a história que é assim mesmo. Não é assim mesmo.”

Em um tema sensível para ela, Marina disse que vetaria, como presidente, lei ampliando os casos em que o aborto é permitido se o Congresso aprovasse legislação nesse sentido.

“Se o Congresso decidir, eu vetaria”, disse Marina, que é evangélica. Ao mesmo tempo, voltou a afirmar que o Estado é laico e reiterou a defesa de que uma eventual ampliação dos casos em que o aborto é permitido seja decidida por meio de plebiscito.

“Se for um plebiscito, eu acho que aí é uma decisão soberana da sociedade”, disse, lembrando que a convocação de um plebiscito cabe ao Congresso e que a consulta popular leva “o assunto para o patamar em que deve estar”.

Na entrevista, após a sabatina, Marina lembrou que, caso a mudança sobre a interrupção da gravidez seja feita por emenda à Constituição, não cabe veto presidencial.

(Reportagem de Eduardo Simões)

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