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Exame: Como a Reiter Log construiu a maior frota sustentável do país

Em 17 anos, dois irmãos gaúchos compraram 2 mil caminhões e hoje faturam R$ 720 milhões

O setor de logística é conhecido por margens apertadas, competição acirrada e pouca diferenciação. Mais do que isso: é extremamente pulverizado. A maior do setor tem cerca de 1% do mercado.

Ainda assim, uma empresa gaúcha conseguiu construir uma história fora da curva. A Reiter Log, nascida em Nova Santa Rita, região metropolitana de Porto Alegre, fechou 2024 com receita de 721 milhões de reais — um crescimento de 15,2% em relação ao ano anterior — e uma carteira de clientes que inclui gigantes como Unilever, L’Oréal, Suzano, Nestlé e Nívea. A frota própria já passa de 1.900 caminhões e a empresa conta com 2.265 funcionários.

O que tornou isso possível foi a estratégia de transformar sustentabilidade em diferencial competitivo.

Com mais de 1.900 veículos em operação, dos quais 290 são movidos a gás, além de elétricos no perfil leve e pesado, a Reiter Log construiu a maior frota sustentável do país e passou a atrair grandes empresas comprometidas com metas de descarbonização.

“O transporte é responsável por 25% das emissões globais de gás carbônico. A gente escolheu não esperar o mercado se mover, decidimos liderar”, afirma Vanessa Pilz, diretora de negócios e ESG da companhia. Com ESG, trabalha desde a virada dos anos 2020, quando começou a estudar e se aprofundar no tema de sustentabilidade, social e governança.

Nos últimos doze meses, a empresa adicionou 5 milhões de reais mensais ao faturamento por meio de novos contratos — muitos deles motivados justamente pelo apelo ambiental. Um exemplo recente é a parceria com a Beiersdorf, dona da Nívea e Eucerin, que se tornou a primeira companhia do setor de beleza no Brasil a operar com caminhão elétrico pesado.

“A adoção da logística sustentável impulsiona nosso negócio e traz retorno direto para os clientes”, diz Vanessa.

Uma transportadora criada com mentalidade de inovação

Diferente do perfil tradicional do setor — muitas vezes formado por empresas familiares fundadas por ex-motoristas — a Reiter Log nasceu com outro espírito. Fundada em 2008 por Vinicius Pilz, então com 22 anos, a empresa começou com um único caminhão.

“Meu irmão sempre foi apaixonado por caminhões. O sonho dele de criança era ser motorista”, diz Vanessa, que também entrou cedo no negócio. “Eu tinha 22 anos quando assumi a área comercial. Antes disso, nem pensava em trabalhar com logística. Achava que era coisa de homem.”

Com apoio da família, Vinicius transformou o presente — um caminhão — no primeiro ativo da empresa. A virada veio quando decidiram sair da carga frigorificada e migrar para o setor de bens de consumo.

“Percebemos que dependíamos de um único segmento. Se tivesse uma crise sanitária, como uma gripe aviária, a gente quebrava”, diz.

Foi essa leitura que moldou uma diretriz estratégica adotada até hoje: nenhum cliente pode representar mais de 10% do faturamento. “Essa pulverização nos dá liberdade de escolher onde crescer”, diz a executiva.

Hoje, a Reiter Log atende empresas como Unilever, sua maior cliente e com quem opera há mais de dez anos, Natura, Boticário, Colgate, Mondelez, Mars, entre outras.

“Temos rotas completas: coletamos em Poços de Caldas, em Minas Gerais, e entregamos no varejo de toda a região Sul, até a última milha”, afirma Vanessa.

A presença na região Sul é forte, mas São Paulo já representa a maior parte do faturamento da empresa, com mais de 700 funcionários. “O investimento em frota própria faz parte da nossa proposta. Não somos uma empresa light asset. Nosso diferencial está na operação dedicada, com controle total”, afirma.

Biometano e integração com o agro

Um dos pontos mais inusitados — e estratégicos — do plano da Reiter Log está na integração com o agronegócio. A família Pilz também controla a Estância Del Sur, uma operação de pecuária intensiva que em 2024 exportou quase 240.000 cabeças de gado. Agora, a empresa trabalha para transformar o resíduo orgânico gerado nesses confinamentos em biometano, combustível que já abastece parte da frota.

“Fechamos um contrato com a Geo Energética, fizemos três pontos de abastecimento e criamos um corredor 100% verde entre São Paulo e o Sul”, diz Vanessa.

Hoje, são 290 veículos a gás, incluindo o maior pedido individual da Scania no mundo: 124 caminhões em uma única compra.

Além disso, a empresa opera com veículos elétricos de marcas como Volvo, XCMG, JAC e Volkswagen. “O caminhão elétrico ainda é caro — custa até três vezes mais que um convencional. Mas o custo por quilômetro rodado compensa em rotas dedicadas e circuitos fechados”, diz.

Clientes que pagam mais por sustentabilidade

A L’Oréal, por exemplo, tem metas globais de redução de emissões e escolheu a Reiter Log como parceira no transporte sustentável. “Eles anteciparam recebíveis durante as enchentes no RS. São relações de longo prazo, com propósito em comum”, afirma Vanessa.

Já a Beiersdorf começou com um único caminhão e viu os ganhos ambientais como fator de expansão da parceria. “Movimentamos 1,6 tonelada de produto por ano com biometano, evitando 106 toneladas de CO₂”, afirma Hermes Lopes, head de logística da companhia. “E agora somos a primeira do setor de beleza com caminhão elétrico pesado no Brasil.

Segundo Vanessa, os contratos verdes permitem margens um pouco melhores. “Tem cliente que paga de 10% a 15% a mais por esse tipo de operação. Porque entende que o valor está além do frete.”

A Reiter Log não tem investidores externos. Cresce com base em reinvestimento e dívida estruturada. Em 2024, contratou um CFO para reforçar a governança e alongar o perfil da dívida. A profissionalização já aparece nos resultados: o EBITDA societário da empresa chegou a 165 milhões de reais, com margem de 27,3% sobre a receita.

“A gestão é profissional. Não é porque somos uma empresa familiar que a gestão precisa ser familiar”, afirma Vanessa.

A empresa também enfrentou desafios logísticos graves com as enchentes no RS. Em maio de 2024, quando estradas ficaram bloqueadas, a operação foi redirecionada com apoio direto dos clientes. “Ligamos para cada um pedindo rotas alternativas. Alguns até anteciparam pagamentos”, conta Vanessa.

A outra dor está na formação de motoristas. “Hoje o pai já não quer que o filho seja caminhoneiro”, diz. Para tentar reverter isso, a Reiter Log criou um programa de formação voltado exclusivamente para mulheres. Doze se formaram. Três continuam na estrada. “Ainda é um mercado duro, mas vamos insistir.”

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Por Daniel Giussani

Publicado originalmente em: l1nq.com/PdJLa

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