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BC mantém Selic em 6,5%, diz que pode subir juros se quadro piorar

Por Marcela Ayres e Bruno Federowski

BRASÍLIA (Reuters) – O Banco Central manteve nesta quarta-feira a taxa de juros no seu piso histórico, de 6,5 por cento, mas apontou que pode subir a Selic à frente caso haja piora do quadro atual, conforme as incertezas ligadas às eleições vêm guiando uma escalada do dólar frente ao real.

“O Copom reitera que a conjuntura econômica ainda prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural. Esse estímulo começará a ser removido gradualmente caso o cenário prospectivo para a inflação no horizonte relevante para a política monetária e/ou seu balanço de riscos apresentem piora”, disse o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC.

Em pesquisa Reuters, 39 de 40 economistas já esperavam que a taxa fosse mantida pela quarta reunião consecutiva do Copom, a última antes da eleição do próximo presidente do Brasil. O único voto dissidente, do Societe Generale, previa elevação de 0,25 ponto percentual, a 6,75 por cento.

A mudança na comunicação do BC, embora esperada, representa uma postura mais firme em relação à eventual elevação dos juros depois de o BC ter optado por se abster de dar sinalizações diante do atual nível de incertezas.

No comunicado, a autoridade monetária também passou a ver um cenário menos favorável para a inflação. Agora, avaliou “que diversas medidas de inflação subjacente se encontram em níveis apropriados, inclusive os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária”. Em agosto, pontuara que essas medidas de inflação subjacente seguiam “em níveis baixos”.

Em outra frente, também avaliou que os riscos para uma inflação mais alta se elevaram, com referência à deterioração do cenário externo para emergentes e à frustração sobre a continuidade de reformas econômicas no país.

    A preocupação de que o vencedor da corrida presidencial não consiga implementar uma agenda de reformas econômicas para reequilibrar as contas públicas e estabilizar o endividamento magnificaram o efeito das perdas em mercados emergentes sobre o Brasil, levando o dólar para perto de suas máximas históricas frente ao real.

O fortalecimento da moeda norte-americana pode elevar os preços de importados e acelerar a inflação, embora o desemprego elevado e a alta capacidade ociosa das empresas deva limitar esse repasse.

“Uma depreciação razoável, acima do patamar atual, poderia levar o Banco Central a agir aumentando a taxa de juros. Essa depreciação não vista como temporária. Ou seja, desde que o mercado avalie com ceticismo a realização de um ajuste fiscal no Brasil”, afirmou o economista-chefe do Santander, Mauricio Molan.

Ele ressalvou, contudo, que o cenário do Santander é de que não haverá alta de juros até o fim do ano.

A próxima reunião do Copom acontecerá em 30 e 31 de outubro, após a possível realização do segundo turno do pleito presidencial, em 28 de outubro.

Para a economista-chefe da Rosenberg, Thaís Zara, o BC fez um seguro para subir os juros, se necessário, embora não tenha indicado este caminho como o mais provável.

“A variável chave nessa decisão será o câmbio: se ele avançar muito mais do que os 4,15 reais contemplados no cenário de juros e câmbio constante, a projeção para 2019 tende a se afastar muito do centro da meta, levando-o a agir”, completou ela, em nota a clientes.

    Nesta quarta-feira, o BC repetiu que a política monetária só reagirá aos movimentos cambiais se eles afetarem outros preços ou expectativas. Também voltou a ponderar que os efeitos desses choques podem ser mitigados pelo grau de ociosidade na economia e pelas expectativas de inflação ancoradas nas metas.

No cenário com juros constantes no patamar atual e dólar constante a 4,15 reais, o BC passou a ver a inflação subindo 4,4 por cento em 2018 e 4,5 por cento em 2019, passando do centro da meta no último caso.

O alvo oficial perseguido pelo governo para o IPCA neste ano é de 4,50 por cento e, para o ano que vem, de 4,25 por cento, sendo que para ambos os anos há margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

Considerando o cenário de mercado, contudo, o BC diminuiu a projeção de inflação para 2018 a 4,1 por cento, sobre 4,2 por cento antes. Para 2019, a estimativa subiu a 4,0 por cento, contra 3,8 por cento anteriormente.

Na pesquisa Focus mais recente, feita pelo BC junto a uma centena de economistas, a expectativa é de que a inflação fechará este ano em 4,09 por cento, indo a 4,11 por cento no ano que vem.

(Com reportagem adicional de Mateus Maia)

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