Após crescer 2,3% em 2017, o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos deve atingir a meta estabelecida por Donald Trump e expandir cerca de 3% neste ano, impulsionado pelo corte de US$ 1,5 trilhão em impostos promovido pelo presidente e o aumento nos gastos do governo. O cenário, contudo, pode ser muito mais complicado a partir de 2019.
O crescimento econômico acelerado, aliado aos efeitos da guerra comercial contra a China, cria uma pressão inflacionária que obriga o Fed (Federal Reserve, o Banco Central dos EUA) a aumentar a taxa de juros do país, a fim de desacelerar a atividade e conter a alta nos preços. Atualmente na faixa entre 2% e 2,25% ao ano, os juros americanos vêm subindo gradativamente desde o final de 2016, após um longo período próximos a 0%, em uma iniciativa do Fed para estimular a economia após a crise de 2008. A projeção do mercado é que a taxa suba mais três vezes ao longo do próximo ano, encerrando 2019 em 3%.
Para o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, o avanço nos juros, apesar de ser necessário, pode levar os Estados Unidos a uma nova recessão em um futuro não muito distante. “Muitas empresas americanas que não tinham condições de tomar empréstimos aproveitaram o juro zero para se endividar”, explica. “Hoje, 60% das companhias endividadas estão apenas um grau acima do nível de investimento. Quando os juros sobem, elas começam a encontrar dificuldades.”
Uma piora na avaliação do risco de crédito dessas empresas pode rebaixá-las a um grau especulativo, piorando seu perfil de juros e afetando sua capacidade de honrar pagamentos futuros. A falência de algumas companhias importantes pode gerar uma reação em cadeia na economia dos Estados Unidos, levando o país a uma nova recessão a partir do fim de 2019, ou 2020, na opinião de Vale. “Pode ser uma crise ainda mais longa e difícil de ser solucionada”, analisa. “Com juros baixos e déficit fiscal elevado, você não teria mais os instrumentos clássicos de política econômica para resolver o problema.”
Uma nova crise em solo americano traria, obviamente, impactos negativos para toda economia global. No Brasil, os efeitos poderiam ser minimizados com a aprovação de uma Reforma da Previdência robusta, que promovesse um ajuste fiscal de longo prazo, e reformas microeconômicas para aumentar a produtividade. Caso contrário, o país voltaria a viver uma crise. “Espero que os congressistas e, especialmente o Bolsonaro, tenham consciência da gravidade da situação fiscal e parem com essa lenga-lenga de achar que uma reforma previdenciária fraca vai adiantar”, diz Sergio Vale. “Se conseguirmos aprovar, podemos nos blindar de uma eventual recessão no mundo desenvolvido.”