Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) – O Banco Central traçou nesta terça-feira um quadro favorável para a inflação, que joga para um futuro indeterminado eventual início de aperto nos juros após deixar de mencionar essa possibilidade em suas comunicações, mas alertou que os riscos altistas para o IPCA seguem fortes em seu radar.
O alerta foi feito em ata do Comitê de Política Monetária (Copom), na qual assinalou que esses riscos altistas, que são ligados à chance de deterioração do cenário externo para economias emergentes, “permanecem relevantes e seguem com maior peso em seu balanço de riscos”.
“Dessa forma, os membros do Copom concluíram que persiste, apesar de menos intensa, a assimetria no balanço de riscos para a inflação”, disse o BC.
Na avaliação da economista da Tendências Alessandra Ribeiro, a autoridade monetária buscou, com isso, brecar grandes euforias em relação à Selic, após alguns economistas passarem a aventar existência de espaço para uma queda adicional dos juros básicos.
“O BC destacou que o balanço de riscos ainda é assimétrico no sentido negativo para a inflação. Melhorou, mas ainda tem uma assimetria”, disse ela, que segue esperando elevação nos juros a partir de setembro de 2019, fechando o próximo ano a 7,75 por cento.
Na ata, o BC reiterou que a leitura atual é favorável à manutenção da Selic abaixo da taxa estrutural da economia.
“Expectativas de inflação ancoradas, medidas de inflação subjacente em níveis apropriados ou confortáveis, projeções que indicam inflação em direção às metas para 2019 e 2020 e elevado grau de ociosidade na economia prescrevem política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural”, disse.
Na semana passada, o BC manteve a taxa de juros no seu piso histórico de 6,5 por cento, conforme amplamente esperado pelo mercado, e indicou que vê um quadro mais benigno para a inflação, retirando qualquer menção a uma eventual alta dos juros à frente.
Em pesquisa da Reuters, todos os 35 economistas consultados já esperavam a manutenção da Selic neste patamar, o que ocorreu pela sexta reunião consecutiva do Copom. Com as mudanças de tom adotadas pelo BC, muitos passaram a apostar numa demora maior para subida dos juros básicos, com a atividade econômica vagarosa contendo as pressões sobre a inflação.
Em setembro, o BC havia dito pela primeira vez que poderia subir a Selic adiante caso houvesse deterioração do cenário inflacionário, conforme incertezas ligadas às eleições e um movimento global de aversão a risco pressionavam o câmbio aos valores mais altos desde a criação do real.
Na semana passada, contudo, o BC limou essa possibilidade ao tirar de seu comunicado frase que vinha adotando até então, de que o “estímulo começará a ser removido gradualmente caso o cenário prospectivo para a inflação no horizonte relevante para a política monetária e/ou seu balanço de riscos apresentem piora”.
Em outra frente, o BC melhorou o quadro que vê para a inflação, ao apontar que aumentou o risco do nível de ociosidade elevado produzir trajetória prospectiva para a inflação abaixo do esperado. Ao mesmo tempo, destacou que vê chances menores de frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas econômicas. Os dois pontos foram reiterados na ata nesta terça-feira.
Sobre o cenário internacional, associado à chance de pressão altista para o IPCA, o BC avaliou na ata que ele segue desafiador, com os principais riscos associados ao aumento da aversão ao risco nos mercados internacionais, à normalização das taxas de juros em algumas economias avançadas e a incertezas referentes ao comércio global.
Olhando para frente, o BC assinalou que todos os membros do Copom concordaram que a atual conjuntura “recomenda manutenção de maior flexibilidade para condução da política monetária, o que implica abster-se de fornecer indicações sobre seus próximos passos”. Esses próximos passos, enfatizou o BC, vão continuar dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação.
“Os membros do Copom ponderaram que cautela, serenidade e perseverança nas decisões de política monetária, inclusive diante de cenários voláteis, têm sido úteis na perseguição de seu objetivo precípuo de manter a trajetória da inflação em direção às metas. O Comitê entende que decisões pautadas por esses princípios constituem bom guia para a política monetária”, avaliou o BC, em mensagem nova inserida na ata.
Reagindo às últimas indicações do BC, os economistas que mais acertam as expectativas na pesquisa Focus passaram a ver a Selic a 7 por cento no final do próximo ano, de 7,25 por cento anteriormente. Para 2020, permanece a conta de que a taxa ficará a 8 por cento.