Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) – O leilão de concessões para novos projetos de transmissão de energia realizado pelo governo federal nesta quinta-feira deve viabilizar investimentos de 13,2 bilhões de reais nos próximos cinco anos, um recorde nas licitações do setor, após ter sucesso em atrair diversos interessados para todos os 16 lotes de empreendimentos ofertados.
As concessões foram arrematadas em meio a uma intensa concorrência, que envolveu principalmente gigantes estrangeiras que já atuam com energia no Brasil.
O certame, que registrou deságio médio de 46 por cento ante a receita-teto oferecida pelos projetos, teve como principal vencedora a Neoenergia, controlada pelo grupo espanhol Iberdrola.
Depois de perder no primeiro semestre uma disputa com a italiana Enel pela aquisição da distribuidora paulista Eletropaulo, a Neoenergia foi agressiva em suas ofertas e ficou com quatro lotes de projetos (1, 2, 3 e 14) que exigirão investimentos de 6 bilhões de reais, segundo estimativa da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Mas entre os maiores vitoriosos estiveram também outros grandes grupos do exterior que têm ampliado os negócios no Brasil, como a canadense Brookfield, a chinesa State Grid, a indiana Sterlite e a espanhola Elecnor, além de empresas locais de engenharia, que levaram principalmente lotes com menores projeções de aportes.
“Tivemos pleno êxito no leilão de hoje, o que nos deu muita satisfação. Tivemos vitoriosos em todos os lotes, com deságios agressivos”, destacou o diretor da Aneel Sandoval Feitosa, em coletiva de imprensa ao final do evento.
Os descontos chegaram a mais de 50 por cento em cinco lotes, e um lance chegou a representar deságio de 58,9 por cento.
Questionado por jornalistas sobre preparativos para novos certames, o secretário-adjunto de Planejamento do Ministério de Minas e Energia, Moacir Bertol, projetou que o próximo leilão de projetos de transmissão deve ocorrer apenas no segundo semestre de 2019, devido a novas regras do Tribunal de Contas da União (TCU) que exigem maior antecedência na preparação de licitações públicas.
Ele não quis estimar o volume de projetos que deve ser colocado no futuro pregão.
EMPRESAS
As quatro concessões arrematadas pela Neonergia deverão praticamente dobrar a receita do grupo com linhas de transmissão, após a conclusão dos projetos.
“Para a empresa isso significa um importante crescimento no setor de transmissão… esperamos executar (os projetos) com um ‘capex’ (investimento) mais eficiente que o proposto pela Aneel”, disse a representante da Neoenergia, Cristiane da Costa Fernandes.
Ela destacou que houve uma “decisão estratégica” do grupo de aumentar a presença no segmento.
A Brookfield arrematou apenas um projeto, o lote 10, em consórcio com a construtora espanhola Cymi, mas ambas se comprometeram com o segundo maior volume de desembolsos, um total projetado em 2,4 bilhões de reais.
Ainda mantendo o domínio espanhol, a Elecnor levou um projeto orçado em 1,1 bilhão de reais, lote 16, completando o pódio do pregão.
Já a CFPL, da chinesa State Grid, foi vitoriosa em duas disputas (lotes 5 e 11) e precisará de aproximadamente 715 milhões de reais para implementar seus lotes.
A indiana Sterlite, principal destaque do último leilão, realizado em junho, foi menos ousada desta vez, com lances mais baixos, e acabou com apenas um empreendimento, o lote 13, com investimento previsto de cerca de 777 milhões de reais.
A elétrica Energisa e a transmissora Taesa, controlada pela mineira Cemig e pela colombiana ISA, também conquistaram um projeto cada, os lotes 4 e 12. Elas deverão investir cerca de 700 milhões e 610 milhões, respectivamente.
Destacaram-se no certame, ainda, empresas de serviços de engenharia, que ficaram com concessões menores. Um consórcio entre JAAC Serviços e EMTEP Engenharia venceu a concorrência por três lotes (6, 9 e 15) que exigirão cerca de 295 milhões de reais para serem implementados. As duas foram as mais agressivas da disputa, com duas ofertas que representaram deságio de quase 60 por cento (58 por cento e 58,9 por cento).
A Zopone Engenharia levou o lote 7, com previsão de 278 milhões de reais em investimentos. Outro consórcio, entre I.G. Transmissão e ESS Energias Renováveis, ficou com o lote 8, orçado em 89 milhões de reais.
RECEITAS
Os projetos licitados possibilitarão a construção de 14,5 mil quilômetros em linhas de transmissão de energia nos próximos anos. Os empreendimentos gerarão uma receita anual para os concessionários a partir de quando forem colocados em operação, em contratos de 30 anos.
A Neoenergia irá assegurar uma receita anual de 500 milhões de reais com os quatro lotes arrematados, enquanto Brookfield e Cymi agregarão 219,5 milhões de reais.
A Celeo Redes, da Elecnor, ficou com um projeto com receita anual de 120 milhões, enquanto Energisa e CPFL terão receitas anuais de 69 milhões e 60 milhões, respectivamente, após a entrega de seus projetos.
Participaram ainda da licitação, sem sucesso, elétricas como a portuguesa EDP, a italiana Terna, a Cteep, da colombiana ISA, e as locais Equatorial Energia e Alupar, além de grupos financeiros, como a gestora Pátria Investimentos, por meio da Argo Energia, e outras empresas de serviços, como a Fasttel Engenharia.
(Por Luciano Costa)