Por Giulia Paravicini e Fiston Mahamba
KINSHASA (Reuters) – A muito aguardada eleição na República Democrática do Congo teve um começo difícil neste domingo, devido à chuva torrencial na capital, longos atrasos em algumas seções eleitorais e máquinas quebradas.
Três bastiões da oposição não terão votações após as autoridades cancelarem a eleição nesses locais, citando riscos para a saúde, em meio a um surto de Ebola e violência étnica.
As eleições são eventos raros no Congo, que sofreu com ditaduras, assassinatos, golpes e guerras civis desde sua independência da Bélgica, em 1960.
Se o presidente Joseph Kabila, que está no poder desde o assassinato de seu pai, em 2001, deixar o cargo após a votação, será a primeira transição democrática do país na história.
Kabila votou pela manhã na capital Kinshasa, na mesma escola em que o candidato que está apoiando, o ex-ministro do interior Emmanuel Ramazani Shadary, que está atrás dos dois candidatos da oposição, de acordo com as últimas pesquisas de opinião.
“Minha única preocupação é que temos essa chuva muito forte e provavelmente o comparecimento será baixo, mas com sorte os céus vão clarear e os eleitores comparecerão massivamente”, disse Kabila, usando um terno azul escuro, aos repórteres.
A conferência dos bispos católicos (CENCO) disse que a votação não tinha começado pontualmente em 830 seções eleitorais, o equivalente a um quinto das seções do país. Também disse que 846 seções estavam instaladas em “locais proibidos”, como postos do exército e da polícia.
Na cidade de Goma, onde o tempo estava bom, uma testemunha da Reuters viu moradores votando, mas outra seção na cidade ainda estava fechada 90 minutos após a abertura das urnas.
“Alguns eleitores nem mesmo sabem como usar a máquina de votação”, disse Kayembe Mvita Dido, que estava aguardando na fila de uma seção eleitoral, aos pés do vulcão Nyiragongo. Ele estava se referindo ao novo sistema de votação eletrônico, que a oposição considera vulnerável a fraudes.
Várias máquinas quebraram em Kinshasa, Goma e Bukavu, levando a votação a interrupções em alguns lugares, disseram testemunhas. Alguns eleitores reclamaram que não conseguiam encontrar seus nomes nas listas, enquanto as ruas alagadas de Kinshasa impediam que outros chegassem aos locais de votação.
“Temos alguns problemas, mas estamos lidando com todos”, disse o porta-voz da comissão eleitoral (CENI), Jean-Pierre Kalamba, na televisão estatal. “Quando surge um problema… a solução não vai ser perfeita…”
Apesar dos repetidos adiamentos da eleição, que originalmente deveria ter acontecido em 2016, diplomatas e observadores eleitorais disseram que as autoridades estão mal preparadas, levantando temores de uma repetição da violência que sucedeu as eleições de 2006 e 2011.
O acordo de Kabila para aderir às leis constitucionais do mandato deve representar progresso para o país africano rico em minérios.
Os críticos, no entanto, duvidam que a votação não será manchada por fraudes e creem que Kabila continuará a governar nos bastidores. Ele não descarta concorrer à Presidência novamente em 2023.
(Por Giulia Paravicini and Fiston Mahamba; Additional reporting by Baz Ratner, Sabiti Djaffar and Juliette Jabkhiro; Writing by Aaron Ross and Alessandra Prentice; Editing by Helen Popper, Christopher Cushing and Raissa Kasolowsky, William Maclean)