BRASÍLIA (Reuters) – O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), o brasileiro Roberto Azevêdo, afirmou nesta quinta-feira ter considerado “muito propício” o discurso feito na véspera pelo novo chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, com críticas a organismos multilaterais e destacou que a fala é “compatível” com tudo o que está ocorrendo no mundo.
“Acho que foi muito propício e compatível com o que está acontecendo. A própria Organização Mundial do Comércio está agora iniciando um processo de reforma. O chanceler disse no discurso inicial dele de posse que o Brasil vai se engajar nesse processo com todas as letras, acho isso muito importante”, disse.
Azevêdo reuniu-se com o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e com Araújo no Palácio do Planalto. Ele disse ter tido a “excelente oportunidade” de uma “conversa franca” com Bolsonaro no qual conversaram sobre comércio mundial e sobre cenários que não incluem só o Brasil.
O diretor-geral da OMC admitiu que há a percepção por vários países-membros que o sistema multilateral precisa se modificar e arejar a fim de atender aos interesses deles e destacou ser importante se fazer essa “renovação”.
Afirmou que não só o Brasil está vendo as “deficiências e inadequações” do sistema multilateral e na OMC está se fazendo um “exercício de autocrítica”.
Para Azevêdo, não se está “rejeitando” esses organismos, mas sim pretendendo que eles respondam melhor aos interesses dos membros. Citou o exemplo da economia digital, que cresce rapidamente, e lembrou que as regras da OMC ainda são da década de 1980.
O dirigente do organismo destacou que na véspera o chanceler afirmou sobre o globalismo, que seria a aceitação de regras internacionais sem uma visão crítica, e que não vê “nenhum problema” nas ponderações feitas pelo novo ministro das Relações Exteriores.
Para Azevêdo, há uma “falsa dicotomia” entre o caminho bilateral e multilateral. Ele afirmou que o caminho bilateral é importantíssimo” e que o sistema multilateral complementa o outro. “É o que todos países fazem e não vejo porque o Brasil não fazer”, frisou.
Ele acrescentou não ver na cabeça de Bolsonaro nem na de membros de sua equipe esta dicotomia.
ISRAEL
O diretor-geral da OMC disse não ter tratado na conversa com Bolsonaro e Araújo sobre o possível impacto para o comércio brasileiro com países árabes de uma eventual transferência da embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. “Não tratamos desse assunto”, afirmou.
Azevêdo também não quis opinar sobre o eventual impacto da transferência da embaixada brasileira no Estado judeu. “Não sei, não tenho a menor ideia”, disse, ao ponderar que se falasse sobre o assunto, estaria “especulando”.
(Reportagem de Ricardo Brito)