Por Ana Mano e José Roberto Gomes
SÃO PAULO (Reuters) – A produção de soja do Brasil na safra 2018/19, em fase inicial de colheita, apresenta viés de baixa após o agravamento da seca em importantes regiões produtoras, com agentes do mercado cortando estimativas e não descartando um cenário “catastrófico” caso o clima não melhore.
Para a INTL FCStone, o país deve produzir 116,3 milhões de toneladas da oleaginosa neste ciclo, um corte de cerca de 4 milhões de toneladas, ou 3,3 por cento ante a previsão de dezembro, segundo relatório divulgado na véspera a clientes e repassado à Reuters nesta sexta-feira.
Já a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) vê um volume ainda mais baixo, entre 110 milhões e 115 milhões de toneladas, após perdas consolidadas no Paraná e em Mato Grosso do Sul. Também houve estresse hídrico no Mato Grosso, Goiás e na fronteira agrícola do Matopiba, composta por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, e nessas regiões as perdas ainda precisam ser calculadas.
“Há algumas regiões com mais de 30 dias sem chuvas e outras com nível muito baixo… Se o clima não melhorar nos próximos dias… isso pode ser catastrófico. Dependendo de como for, as perdas poderão ser bem maiores”, disse à Reuters o presidente da Aprosoja Brasil, Bartolomeu Braz.
Antônio Galvan, presidente da Aprosoja em Mato Grosso, também concorda com “perdas significativas”.
“O clima é sempre o que manda… É só dele que vai depender se a safra vai ser grande, pequena ou mais ou menos… A seca é complicada.”
Seja como for, a tendência que se firma é de que o Brasil não superará nesta safra de soja o recorde de 2017/18, de 119,3 milhões de toneladas.
Nas últimas semanas, produtores e especialistas já vinham considerando prejuízos na temporada vigente em razão das condições climáticas adversas.
“Com o clima bastante seco e quente, que predominou principalmente no centro-sul do país nas primeiras semanas de dezembro, o potencial produtivo de parte das lavouras foi afetado”, disse a INTL FCStone em seu relatório.
“Destaque para o Estado do Paraná e também para Mato Grosso do Sul, onde as plantas acabaram sendo afetadas em fases chave de desenvolvimento, como o enchimento de grão”, acrescentou a consultoria, que vê o Paraná perdendo o posto de segundo maior produtor de soja para o Rio Grande do Sul nesta temporada por causa do tempo –Mato Grosso seguiria como líder nacional.
Em dezembro, a consultoria havia estimado a safra do Paraná em 19,5 milhões de toneladas. Agora a vê 16,95 milhões.
O estrago provocado pelo clima mais do que atenua o plantio histórico de 36 milhões de hectares, afirmou a INTL FCStone. Segundo a consultoria, a produtividade deve ser de 3,23 toneladas por hectare, ante 3,35 toneladas na previsão anterior e 3,39 toneladas em 2017/18.
Ainda conforme a INTL FCStone, as exportações de soja do Brasil em 2018/19 devem cair para 72 milhões de toneladas, de 75 milhões na estimativa anterior, e igual quantidade em 2017/18, em razão justamente da safra menor e de estoques de passagem enxutos.
MILHO
Para a safra de milho 2018/19, a INTL FCStone manteve suas estimativas praticamente estáveis.
Na primeira safra, colhida no verão, a expectativa é de uma produção de 27,1 milhões de toneladas, de 27,3 milhões em dezembro, em ajuste motivado por revisão de expectativas em Santa Catarina, Estado que foi afetado pela falta de chuvas em dezembro.
Em outros Estados, “o impacto sobre o milho não foi tão importante quanto o registrado para a soja, já que as duas culturas não necessariamente passam pelas fases mais importantes ao mesmo tempo”, explicou a consultoria.
No caso da segunda safra, a “safrinha”, que ainda será plantada e colhida em meados do ano, a INTL FCStone manteve suas projeções, com produção de 64,9 milhões de toneladas em uma área de quase 12 milhões de hectares.
As exportações do cereal em 2018/19 também foram mantidas pela consultoria em 32 milhões de toneladas.