Por Giulia Paravicini e Stanis Bujakera
KINSHASA (Reuters) – A crise política no Congo se aprofundou neste domingo depois que a Suprema Corte avalizou a vitória apertada de Felix Tshisekedi nas eleições presidenciais, com o principal adversário rejeitando a decisão, convocando protestos e se auto-declarando presidente do país.
Enquanto os partidários de Tshisekedi celebravam a decisão nas ruas da capital da República Democrática do Congo, o segundo colocado na votação, Martin Fayulu, disse que a decisão abriu caminho para um “golpe de estado constitucional”, aumentando os temores de mais violência.
Após a decisão do tribunal, a União Africana adiou a visita de uma delegação a Kinshasa, agendada inicialmente para segunda-feira, para discutir a crise. A entidade já havia expressado “sérias preocupações” a respeito do impasse eleitoral e pedido que os resultados fossem adiados.
A eleição do mês passado teve como objetivo marcar a primeira transferência democrática de poder neste grande país da África Central, onde conflitos desestabilizaram muitas vezes a região.
Mas monitores e observadores independentes apontaram grandes falhas no processo eleitoral. A insatisfação com a votação já resultou em 34 mortes, 59 feridos e 241 “prisões arbitrárias” só na última semana, de acordo com o escritório de direitos humanos da ONU.
Na madrugada de domingo, o Tribunal Constitucional decidiu que uma contestação legal ao resultado apresentada por Fayulu não seria admitida. “Felix Tshisekedi se tornará o quinto presidente da república”, disse o porta-voz do governo Lambert Mende, ao noticiar a decisão judicial.
Fayulu emitiu comunicado rejeitando a decisão. “O tribunal acaba de confirmar que serve a um regime ditatorial… ao validar resultados falsos (e permitir) um golpe de estado constitucional”, disse ele.
“Agora estou me considerando como o único presidente legítimo da República Democrática do Congo”, acrescentou ele, que também convocou manifestações pacíficas –embora as ruas da capital estivessem calmas na tarde deste domingo.
Fayulu diz que Tshisekedi e o ex-presidente Joseph Kabila fizeram um acordo para impedi-lo de ganhar mais de 60 por cento dos votos –uma acusação que ambos rejeitam.