BRASÍLIA (Reuters) – A mineradora Vale aprovou investimentos de 5 bilhões de reais para acabar com as barragens a montante, o mesmo sistema utilizado na estrutura que se rompeu em Brumadinho (MG) na última sexta-feira, em um desastre que matou pelo menos 84 pessoas e deixou centenas de desaparecidos.
Para acelerar o processo de descomissionamento de barragens, a companhia terá que parar produção de minério de ferro nas áreas próximas das unidades situadas em Minas Gerais, com impacto de 40 milhões de toneladas de minério de ferro e 11 milhões de toneladas de pelotas ao ano, anunciou nesta terça-feira o diretor-presidente da Vale, Fabio Schvartsman.
Os 40 milhões de toneladas de minério de ferro representam 10 por cento da previsão de produção da Vale, maior produtora global da commodity, em 2019.
O executivo não comentou, durante entrevista após apresentar o plano no Ministério de Minas e Energia, se a Vale poderia compensar a produção que será paralisada com a extração em outras minas.
A empresa previu anteriormente elevar a produção do mega empreendimento S11D, no Pará, de estimados 55 milhões em 2018 para 70/80 milhões de toneladas em 2019 –para 2020, o S11D produziria 90 milhões de toneladas.
O S11D integra o maior sistema de produção de minério da Vale, situado em Carajás, no Pará.
ACABAR COM INSEGURANÇA
O executivo disse que o plano de acabar com o sistema a montante visa encerrar com a insegurança nas barragens em Minas Gerais.
Ele observou que nove das 19 barragens a montante já foram descomissionadas.
E destacou que as 10 barragens paradas mas ainda não descomissionadas –incluindo a de Brumadinho– apenas não foram desmontadas antes porque a companhia tinha informações técnicas que atestavam sua estabilidade.
Mais cedo, o ministro de Minas e Energia, almirante Bento Albuquerque, havia dito ter recebido a informação do governo de Minas Gerais de que a companhia acabaria com barragens com tecnologia de alteamento a montante.
O CEO da Vale confirmou mais tarde que apresentou o plano na véspera ao governo de Minas Gerais.
O mesmo sistema utilizado na unidade de Brumadinho havia sido usado na barragem da Samarco (joint venture da Vale com a BHP Billiton), que entrou em colapso em 2015, deixando 19 mortos, centenas de desabrigados e poluindo o rio Doce, em toda a sua extensão, até o mar do Espírito Santo, no maior desastre ambiental do Brasil.
Desde então, a companhia decidiu por um processo de acabar com tal sistema de rejeitos.
Schvartsman ressaltou que as unidades produtoras de Minas Gerais já processam o minério a seco.
O descomissionamento total das barragens poderá levar de um a três anos, dependendo da unidade. O processo também requer licenciamento do governo de Minas Gerais para se desenvolver.
O executivo disse que os trabalhadores das unidades de Minas Gerais deverão ser absorvidos pelo quadro da Vale, durante o período em que as minas ficarem paralisadas.
Questionado sobre pressão do governo em relação aos diretores após o desastre de Brumadinho, o CEO afirmou que “em nenhum momento ouviu falar em intervenção na diretoria ou pressão sobre o conselho da companhia”.
A Reuters publicou nesta terça-feira reportagem, com base em um documento oficial, indicando que a mineradora Vale demonstrou preocupações sobre suas barragens de rejeitos há dez anos, mas não implementou várias medidas avaliadas na época que poderiam ter evitado desastres como os de Brumadinho ou Mariana.
(Por Jake Spring; texto e reportagem adicional de Roberto Samora em São Paulo)