A última pesquisa sobre as vendas de e-books no Brasil, divulgada em 2017 com base em números de 2016, mostrou que os livros nesse formato correspondiam a apenas 1,09% do mercado editorial. De lá para cá, não mudou muito. Segundo Vitor Tavares, livreiro há 35 anos e presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), os e-books ainda não representam uma fatia considerável de vendas e são pouco citados como formato viável no mercado editorial. “Por dois motivos: o preço e a falta de interesse pela leitura por parte da população brasileira”, explica Tavares, em entrevista a MONEY REPORT. Segundo o presidente da CBL, o e-book não desaparecerá, mas também não representará uma ameaça ao livro de papel, como chegaram a pensar alguns editores no passado. A seguir, sua entrevista.
Por que as vendas de livros digitais não decolaram?
Penso que isso se deve a diversos fatores. O brasileiro ainda não tem o hábito de ler textos muito longos na tela de um smartfone ou tablet. Gostamos de tecnologia digital, mas não o suficiente para ler livros nesse formato. Outra questão é o preço do e-book. Aqui no Brasil, um livro digital custa praticamente o mesmo valor de um livro impresso. Sem contar que, como mostram pesquisas, boa parte da população brasileira não tem o hábito de ler livros.
Por que o preço do livro digital não é tão atrativo?
Embora não pareça, quando comparado ao livro impresso, o livro digital envolve muitos custos. Uma editora não consegue vender diretamente um e-book. Tem que colocar em uma plataforma distribuidora, que repassa o custo para os editores. E como a procura por livros digitais é baixa, os poucos e-books que são produzidos têm um preço muito próximo ao do livro impresso.
Como estão as vendas de e-book em outros países?
Vou citar um exemplo. Voltei há pouco da Feira (do livro) de Londres. Lá, não escutei uma única vez sequer alguém falar sobre livros digitais. Isso mostra que o que prevalece mesmo são os livros impressos. Quando o e-book foi lançado em outros países, foi uma festa, houve um aumento nas vendas, muitos acreditaram que seria o fim dos livros impressos. Mas, como estamos percebendo, não é bem assim. As vendas estão caindo.
Como está o mercado editorial brasileiro?
Apesar da crise no ano passado, com o pedido de recuperação judicial das redes de livrarias Cultura e Saraiva, o setor está estável. O livro impresso não vai acabar. A presença de livros digitais não é uma ameaça, mas sim uma amostra de que o mercado editorial sempre se reinventa, sobretudo quando passa por crise no modelo de negócios, como essa que presenciamos agora.
Pesquisa divulgada em 2017 mostrou que menos da metade (37%) das editoras brasileiras produziam livros digitais. Custa muito caro produzir um livro?
Sem dúvida. Em um livro estão embutidos direitos autorais para quem escreveu a obra, pagamento a diagramador, revisor, tradutor, revisor da tradução, gráfica – quando o livro é impresso -, e outros salários. Não falo em números, pois varia muito de uma editora para outra, ou de autores para autores. Mas, no fim, produzir livros é um processo custoso.
Até que ponto a compra de livros didáticos pelo Ministério da Educação (MEC) garante o faturamento das editoras?
Paras as editoras, o MEC tem um peso grande. Os editores que emplacam obras literárias nos editais de compras conseguem manter o faturamento constante, visto que o governo compra muitos livros de uma só vez. Para se ter uma ideia, há editoras que produzem apenas livros didáticos para o setor público e estão assim há anos. Há casos de uma compra do MEC sustentar o faturamento de uma editora por dois anos.