O presidente Jair Bolsonaro (PSL) enfrentou na última quarta-feira (15) o primeiro grande protesto. Manifestantes foram às ruas contra o contingenciamento de verbas na educação. Ao comentar os atos, Bolsonaro criticou a mobilização e afirmou que os participantes estavam sendo manipulados pela esquerda.
Na avaliação do cientista político David Fleischer, professor emérito da Universidade de Brasília (UnB), a declaração do presidente contribuiu para reforçar a manifestação. Para Fleischer, o governo deveria reconsiderar a estratégia de enfrentamento. “O presidente Bolsonaro precisa buscar um diálogo maior. Tem que deixar de lado questões ideológicas e focar na resolução dos problemas do país”, comentou o professor em entrevista a MONEY REPORT.
Para o cientista político, Bolsonaro está criando um cenário que não é bom para o governo nem para o país. David Fleischer citou a tumultuada relação com o Congresso. “O presidente preferiu não montar uma coalizão e agora vê os parlamentares se movimentarem por conta própria. Nos próximos dias, uma medida provisória pode perder validade e o governo ser obrigado a recriar vários ministérios, gerando custos”, observou, se referindo à MP 870, que diminuiu o número de pastas de 29 para 22.
O professor da UnB indicou que o cenário econômico pode influenciar os rumos do governo. “Bolsonaro assumiu a presidência com as contas fragilizadas. A lenta retomada da economia não é culpa dele. Mas, se não tivermos uma recuperação consistente nos próximos meses, a insatisfação popular vai aumentar. Por isso, o melhor caminho é adotar um tom conciliador e priorizar as políticas públicas.”
O cientista político Mauricio Fronzaglia, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, afirmou que, ao desmerecer os atos desta semana, o presidente Jair Bolsonaro mostra que ainda “permanece em campanha”. Ele recomenda ao presidente ter uma conduta mais moderada. “Quando se faz campanha política, necessariamente se parte para o confronto. Você tem adversários e a lógica é vencê-los. A partir do momento em que se torna governo, é preciso partir para a governabilidade”, explicou.
O professor da Mackenzie apontou que Bolsonaro precisa fazer política no sentido de ação governamental. “A ação de fazer política é a de criar consensos provisórios. É necessário conseguir negociar e ter acordos. Quando o presidente parte para o confronto com adversários, fecha as portas ao diálogo.”