Em 1969, o americano Neil Armstrong pisa na Lua, milhares de cabeludos curtem adoidado no Festival de Woodstock, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos lança o projeto Arpanet, que forneceria anos depois a base técnica para a internet, o filme Easy Rider consagra os road movies nos cinemas e dois jovens barbudos aspirantes a cineastas se juntam para tirar do papel um projeto tão insano quanto ambicioso: a criação do estúdio American Zoetrope, que nasce com a nada modesta missão de ser, nas palavras de seus fundadores, um “contraponto às doutrinas hollywoodianas”.
Os jovens em questão fariam história no cinema, mas por caminhos diferentes. George Lucas, 5 anos mais moço que o sócio, angariou fama e fortuna com a saga Star Wars, enquanto Francis Ford Coppola empilhou uma série tão extensa de prêmios (incluindo seis estatuetas do Oscar e duas Palmas de Ouro em Cannes) quanto de dívidas (declarou falência duas vezes).
O estúdio American Zoetrope foi o lugar certo para abrigar duas personalidades distintas. Coppola encarnava o empreendedor destemido: arrogante, cheio de ideias majestosas, queria provar para o mundo inteiro, e para Hollywood em particular, que seria capaz de brilhar em voo solo, mesmo se sua empresa estivesse atolada em caos financeiro, como de fato estava. Lucas era diferente. Tímido, embora confiante, mantinha tudo sob controle – do orçamento para a produção aos horários de trabalho da equipe, sempre pensando numa maneira de transformar ideias em projetos lucrativos. “George ficou muito desanimado com a minha administração boêmia”, disse Coppola, anos depois, ao comentar o fim da sociedade. “Sabe, eu era meio louco e ele, um cara totalmente centrado.”
Lucas era, sob diversos aspectos, um CEO em gestação – e as lições da derrocada da Zoetrope foram fundamentais para que construísse um dos maiores impérios da história do cinema.
Antes de partir para a saga Star Wars, Lucas aceitou uma sugestão de Coppola: por que não fazer uma comédia adolescente? Daí nasceria “American Graffiti”, um filme sensível vagamente inspirado nas experiências juvenis do próprio diretor. Para surpresa dois, o longa estourou na bilheteria. O empreendedor Coppola estava certo – mas foi preciso que o cada vez mais determinado Lucas, em vias de se tornar um autêntico CEO, colocasse o projeto de pé.
A essa altura, ele já estava pronto para sua maior criação e uma das mais extraordinárias da história do cinema: a saga Star Wars. Não é preciso dizer o impacto que ela causou no público, nem é novidade para ninguém que Lucas elevou sua ficção científica à condição de obra de arte. Nem sempre, no entanto, foi dado o devido crédito à notável capacidade de gestão de Lucas.
Em Star Wars, o CEO entrou em cena. Uma de suas sacadas foi usar uma estética menos “limpinha”, que era até então o modelo consagrado no mundo da ficção científica. As naves de Star Wars pareciam surradas e a de Hans Solo em particular era chamada de “geringonça.” Com isso, Lucas economizou alguns milhões de dólares e, ao mesmo tempo, conferiu ainda mais autenticidade à trama.
Como nenhum outro diretor havia feito antes, usou as forças do marketing a seu favor. Foi de Lucas a ideia de licenciar bonequinhos, vários tipos de brinquedos, camisetas e videogames inspirados nos personagens de Star Wars. Ao assinar contrato com a Fox, permaneceu dono dos direitos de licenciamentos de produtos e de todas as continuações cinematográficas, além de 40% do lucro líquido da saga. O modelo de negócios fez tanto sucesso que acabou por ser incorporado por Hollywood nas décadas seguintes.
Graças aos 8 filmes da cronologia principal e 2 spin-offs da saga Star Wars, Lucas embolsou US$ 4,3 bilhões. Que CEO teria feito melhor?