A imagem das torres gêmeas do World Trade Center desmoronando, resultado de um ato de agressão deliberada, pareceu simbolizar dois pontos que hoje parecem completamente esquecidos: a magnífica contribuição que o comércio trouxe para a civilização, e o quão vulnerável ele é perante seus inimigos.
Se os inimigos do comércio capitalista estiverem firmemente decididos a destruir sua fonte de riqueza, há poucos meios disponíveis para impedir isso.
As duas torres eram gloriosas, principalmente pelo fato de elas terem sido construídas não para ostentar a glória do estado — como tantas outras edificações —, mas sim para exibir o poder criativo da economia capitalista. Elevando-se sublimemente a 400 metros acima da cidade de Nova York, uma pessoa no 110º andar podia usufruir uma vista panorâmica que alcançava 90 quilômetros de distância: uma ampla visão da civilização humana.
Muito mais importante para o desenvolvimento da civilização era tudo aquilo que ocorria dentro das torres: empreendedorismo, criatividade, trocas, comércio, serviços — tudo de maneira pacífica, tudo para o benefício da humanidade.
Qual tipo de serviço? No WTC havia corretores que investiam a poupança dos cidadãos comuns, fazendo o possível para canalizar recursos para os investimentos mais produtivos. Havia seguradoras, que ofertavam o valioso serviço de resguardar vidas e propriedades contra acidentes. Havia inúmeros varejistas, que arriscavam seu próprio sustento para fornecer aos cidadãos bens e serviços que eles, como consumidores, desejavam. Havia financiadores, advogados, representantes e arquitetos, pessoas cujas contribuições são absolutamente essenciais para o bem-estar das pessoas que vivem em uma economia de mercado.
Alguns de nós conhecíamos homens e mulheres que lá trabalhavam e que agora estão mortos. Porém, a maioria dos mortos continuará sendo anônima para todos. Se os conhecíamos ou não, o fato é que tais pessoas foram indiscutivelmente benfeitoras para todos nós, pois, na sociedade comercial, as ações de empreendedores beneficiam a todos, independentemente de onde estejam, e da maneira mais imperceptível que se possa imaginar. Todos eles contribuem para formar o estoque de capital sobre o qual toda a prosperidade se baseia. Eles trabalham diariamente para coordenar o uso e a alocação de recursos de maneira a eliminar desperdícios e ineficiências, sempre se esforçando para criar produtos e serviços que irão melhorar nossa vida e nosso cotidiano.
Pense especialmente nas extraordinárias pessoas daquele local, as quais trabalhavam para facilitar o comércio internacional. Elas diariamente realizavam aquilo que aparentemente é impossível. Lidando com um mundo de mais de 200 países e centenas de outras linguagens e dialetos, com várias moedas e regimes governamentais, milhares de diferenças culturais locais e bilhões de consumidores, elas sempre descobriam maneiras de possibilitar o comércio pacífico. Elas procuravam e agarravam cada oportunidade surgida que possibilitasse a cooperação humana.
Nenhum governo jamais conseguiu efetuar algo tão extraordinário quanto isso. Trata-se de um milagre tornado possível pelo comércio, e por todos aqueles que se submetem ao fardo de possibilitar que ele ocorra.
Frequentemente ouvimos trivialidades sobre a ‘fraternidade’ entre os homens. Mas você não vê isso ocorrendo nas Nações Unidas ou nas reuniões de cúpulas entre governos. Nessas ocasiões você vê apenas conflitos, os quais sempre são solucionados com a utilização de dinheiro confiscado de terceiros. Porém, no World Trade Center, a fraternidade entre os homens era uma preocupação diária.
Não importava se você era um pequeno vendedor de tapetes no Nepal, um pescador da costa chinesa, ou um fabricante de máquinas no meio-oeste americano — as pessoas que trabalhavam no WTC colocavam você em contato com outras que valorizavam o que você fazia e o que você podia fazer por outros. Consentimento e escolha, e não conflito e coerção, eram a tônica de tudo. A palavra de ordem era ‘contrato’, e não ‘hegemonia’.
É claro que o objetivo de todos esses comerciantes e corretores era melhorar sua situação pessoal; porém, para conseguir isso, eles tinham de servir a todos. O efeito do trabalho deles era servir não apenas a si próprios, mas a todo o resto do mundo também. Uma vez que os efeitos benéficos do comércio não são apenas locais ou nacionais, mas sim internacionais, as pessoas que trabalhavam naquelas torres eram, de muitas maneiras, benfeitoras de todos nós pessoalmente.
As bênçãos de seu trabalho eram explicitadas para nós todas as vezes que utilizávamos um cartão de crédito internacional, sacávamos dinheiro de caixas automáticos, comprávamos bens em um estabelecimento pertencente a uma cadeia de lojas, ou comprávamos algo pela internet.
Em suma, essas pessoas eram produtoras.
Frédéric Bastiat certa vez as descreveu dizendo que elas são pessoas que “criam, do nada, as satisfações que sustentam e embelezam a vida, de modo que um indivíduo ou um povo torna-se capaz de multiplicar essas satisfações indefinidamente sem infligir privações de qualquer tipo sobre outros homens ou outros povos.”
Sim, elas obtinham lucros. Porém, durante a maior parte do tempo, seu trabalho não era recompensado. Ele certamente era desconsiderado e não apreciado pela cultura em geral. Tais pessoas não eram chamadas de ‘servidoras públicas’. Elas não eram louvadas por seus sacrifícios ao bem comum. A cultura popular tratava esses “centros financeiros” como fontes de ganância e corrupção. Sempre dizem que tais pessoas são a causa da destruição ambiental e da exploração da mão-de-obra dos pobres e oprimidos, e que os “globalistas” dentro do WTC estavam conspirando não para criar, mas para destruir.
Mesmo após toda a destruição acarretada pelo socialismo, são os capitalistas que ainda têm de suportar e absorver silenciosamente o ódio dos invejosos.
O inimigo nunca dorme
A ânsia de odiar a classe empreendedorial sempre se manifesta em uma miríade de formas. Vemos isso quando lanchonetes do McDonald’s são apedrejadas, como ocorre frequentemente ao redor do mundo. Vemos isso quando jovens desinformados e manipulados protestam contra a globalização e o livre comércio. Vemos isso quando governos proíbem usos comerciais de determinados pedaços de terra, ou quando inúmeras regulamentações são criadas na suposição de que a classe empreendedorial existe para nos espoliar, e não para nos servir — regulamentações essas criadas por pessoas, essas sim, que estão lá para nos espoliar e não para nos servir.
Os jornais frequentemente pontificam sobre a vilania, e não sobre as benesses, da livre iniciativa. Em última instância, apenas dê uma olhada em um típico currículo universitário, no qual os estudantes ainda são obrigados a ler Marx e os marxistas, e nada se fala sobre Mises e os misesianos.
Todos os inimigos do capitalismo agem como se sua eliminação não fosse trazer absolutamente nenhuma consequência negativa para nossas vidas. Nas salas de aula, na televisão, no cinema, somos continuamente apresentados a uma visão idílica de como desfrutaríamos um mundo perfeito e bem-aventurado caso pudéssemos nos livrar daqueles que ganham a vida criando e acumulando riqueza.
De fato, por centenas de anos, as classes intelectuais exigiram a expropriação e até mesmo o extermínio dos capitalistas expropriadores. Desde a antiguidade, o comerciante e sua atividade têm sido considerados desprezíveis. E a verdade é que sua ausência nos reduziria à barbárie e à pobreza abjeta. Mesmo hoje, a destruição da propriedade e das pessoas que trabalhavam nas até então poderosas torres já nos empobreceu de várias maneiras, as quais jamais poderemos saber detalhadamente.
Nossa missão
Aqueles que entendem economia e que celebram o poder criativo do comércio entendem essa verdade eminente, e é por isso que defendemos a economia de mercado a cada oportunidade que temos. É por isso que buscamos eliminar as barreiras que governos e anticapitalistas erigem contra a liberdade dos empreendedores. Nós os vemos como defensores da civilização e por isso procuramos defender seus interesses de todas as maneiras possíveis.
Estamos em luto pelas vidas daqueles que trabalhavam nas torres do World Trade Center, o qual não existe mais. Condoemo-nos pelas suas vocações perdidas. Temos para com eles uma dívida: apreciar sob uma nova luz a sua contribuição e a de toda a sua classe para a sociedade. Como disse Mises:
Nenhum indivíduo poderá estar seguro se a sociedade em que vive estiver se encaminhando para a destruição. Portanto, cada indivíduo, para seu próprio bem, deve se lançar vigorosamente nesta batalha intelectual. Ninguém pode se dar ao luxo de ficar indiferente e impávido; os interesses de todos dependem do resultado. Queira ou não, cada homem fará parte dessa grande batalha histórica, essa batalha decisiva em que fomos jogados pelos atuais eventos.
(Lew Rockwell)
https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1102