Otaviano Canuto, ex-diretor executivo do Banco Mundial e do FMI, hoje no comando do Center for Macroeconomics and Development, fala em entrevista a MONEY REPORT sobre os desafios do Brasil para se tornar um país de renda alta.
O Brasil é considerado um país de renda média, mas nos últimos anos vem empobrecendo. Nosso desafio se tornou mais difícil?
O Brasil é um país classificado pelo Banco Mundial como um país de renda média alta, pela renda per capita. Mas, há três décadas, o Brasil está num nível de crescimento médio. Não há perspectivas de superar a renda média no curto prazo. A volatilidade econômica do país cobra um preço alto no crescimento. Não é por acaso que Chile, Peru e Colômbia têm melhores índices de crescimento comparados ao Brasil.
Quais foram os países que conseguiram superar a renda média?
Nos últimos anos o Chile atingiu o patamar de economia de renda alta. Outros foram Coreia do Sul, Singapura, Hong Kong (China), Taiwan (China). E Portugal, Espanha e Grécia após a integração à zona do euro.
O que o Brasil pode aprender com estes países?
Uma questão comum entre as nações que transitaram da renda baixa para a média é o movimento de pessoas; população rural vai para as cidades, mesmo sem qualificação, e passa a operar tecnologia padronizada. Isso acontece no setor da indústria, mas não está restrito nele. Na América Latina, houve aumento de produtividade, mas o processo esgotou antes de o setor produtivo absorver toda a mão de obra. No Brasil, vemos as cidades crescendo, mas as pessoas não são incorporadas. Já na Coreia do Sul houve uma preocupação em elevar o nível educacional das pessoas enquanto ocorria esta transição. O Brasil acordou tarde para isso e sofre com a qualidade educacional. Outro fator que impacta é a gestão dos recursos públicos.
Isso tem relação com as despesas obrigatórias, que hoje consomem 93% do orçamento?
Nosso gasto público é uma fonte de privilégios, precisamos direcionar estes gastos para infraestrutura, para o país crescer. Há uma anemia na produtividade no Brasil e uma obesidade no gasto público. Precisamos criar um caminho para as reformas, como a da Previdência, que é um dos itens, mas não o único. Uma reforma administrativa seria essencial.
O Brasil é um país de baixa produtividade. É o motivo de sermos um país de renda média?
Desenvolvimento significa aumento de produtividade, e não é possível crescer com desempenho baixo. O Brasil cresceu nos últimos anos por dois motivos: incorporação de pessoas no mercado de trabalho e o preço favorável das commodities. Mas, já viramos a curva da evolução demográfica, não vamos crescer com mão de obra. As palavras chaves são: produtividade, educação, infraestrutura e um bom ambiente de negócios. O ambiente de negócios atual joga contra a produtividade das empresas.
Qual é a sua opinião sobre as reformas tributária e previdenciária?
Três coisas a serem observadas: simplificar o sistema tributário, tributos estaduais, municipais e federais. Harmonizar os regimes tributários onde as empresas operam, e menos regressividade dos impostos. Acho oportuna a evolução sobre impostos sobre o valor agregado. Mas, acredito que deve haver uma revisão em relação aos impostos sobre a renda.
Como o senhor avalia a economia brasileira?
Não vai ter milagre para o Brasil, estamos em um buraco profundo. Tudo isso já existia há muitos anos, mas certas condições favoráveis do cenário externo, como o preço das commodities, disfarçaram estes problemas estruturais. Houve tentativas de estender o “fôlego”, mas o incremento da dívida pública só complicou. A recuperação econômica deve ser lenta, mas devemos evitar a aceleração do crescimento de forma artificial para não cair em declínio.
Uma resposta
Parabéns pela reflexão sobre o contexto econômico brasileiro. Convido o senhor para realizar mais uma palestra em Aracaju sobre a situação econômica do Estado de Sergipe no contexto brasileiro.