Imagine o jogo de cintura que os dirigentes de empresas multinacionais tiveram de mostrar nesta semana. Uma das obrigações destes executivos é justamente prestar contas do ambiente político e econômico do Brasil a seus superiores num país estrangeiro. Isso ocorre com frequência em telefonemas interurbanos que podem durar até horas, dada a importância da economia brasileira para muitas empresas. Ontem, por exemplo, o diálogo entre Brasil e, digamos, Estados Unidos, deve ter sido hilário. É mais ou menos assim:
– E então, como está a situação de Lula?
– Deve ser solto.
– O PT conseguiu a liberdade dele?
– Não. Quem pediu a liberdade foi o Ministério Público.
– Mas não foi o MP quem prendeu Lula?
– Sim, mas agora, com a progressão de pena, Lula pode passar ao regime semiaberto.
– Entendo, mas a defesa de Lula não teria que pedir este benefício?
– Sim, teria. Mas não pediu. Aliás, está pleiteando que ele fique preso?
– Como???
– Sim. Lula só aceita sair da cadeia através de um habeas corpus ou com sua sentença anulada. Ele se recusa a gozar de um sistema semiaberto e não quer usar tornozeleira eletrônica…
Os estrangeiros não entendem um cenário destes – e muitos brasileiros ainda não compreenderam também. A razão é uma só: Lula insiste na absolvição porque depende disso para manter seu partido vivo no jogo. Mas dificilmente conseguirá reverter a imagem pública de corrupção generalizada que grudou no PT após o Petrolão, mesmo que outros partidos, como o MDB, também estivessem envolvidos até os dentes na ladroagem.
A pergunta que fica, agora, é a seguinte: se o PT apoiar a decisão de Lula, de ficar na cadeia, vai criar uma campanha #lulapreso?
O Brasil, definitivamente, não é para amadores.
Uma resposta
Parabéns pela inteligência do artigo!