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Não deixe a política destruir seus ideais – cinco motivos por que ela é garantia de frustração

Por Jeffrey Tucker

A pergunta é constante nos círculos libertários: para tentar girar o fiel da balança em direção a uma sociedade mais livre, o indivíduo deve se engajar na política ou deveria ele se concentrar na educação, na cultura e em outras formas de mudança?

A resposta, obviamente, varia de pessoa para pessoa. Eis a minha: engajar-se politicamente é aceitável. Votar também é aceitável e compreensível. Idem para torcer por um determinado resultado eleitoral. Mas há uma constante tentação de se ir longe demais no quesito da agitação partidária. Colocar todas as suas esperanças em partidos políticos e no poder é frustração garantida: trata-se de um deus que inevitavelmente irá falhar.

A política, da maneira como é convencionalmente entendida, não é uma maneira efetiva de mudar o mundo. Suas eventuais vitórias serão pírricas caso não sejam precedidas de uma profunda mudança ideológica na população.

Na melhor das hipóteses, de pouco adiantará a ascensão ao poder de um governo genuinamente comprometido com o liberalismo se a população não estiver ideologicamente preparada para isso. Na primeira tentativa de reforma ou mudança, a pressão contrária será enorme. E, sem apoio popular, nada dura.

Já na mais realista das hipóteses, a política é extenuante. Ela pode esgotar todos os seus ideais, acabar com suas esperanças e até mesmo lhe corromper moralmente. Para as pessoas mais jovens genuinamente interessadas em reduzir as injustiças, construir um arcabouço mais favorável para a liberdade e mudar o cenário para melhor, há maneiras mais efetivas.

Os cinco principais problemas com a política

1. A política não é verdadeira

A maioria dos livros de história, bem como a maioria das aulas de ciência política, exagera acentuadamente o papel que as lideranças políticas e as instituições tiveram em moldar a história do mundo.

É fácil e conveniente demais contar histórias de uma maneira que atribuua crédito ou culpa a forças pessoais poderosas — como se a liderança política fosse capaz de desenhar e ditar resultados sociais. Muito mais difícil é contar a história de maneira verdadeira, isto é, analisando a evolução de idéias, da cultura e da tecnologia.

Sociedades podem ser bem-sucedidas sem líderes brilhantes em seu governo. Com efeito, elas frequentemente prosperam exatamente por causa da ausência dessas pessoas (você já ouviu falar de algum político suíço de qualquer período da história?).

Mesmo na história americana, o maior período de inovação e criação de riqueza ocorreu sob presidentes cujos nomes hoje já estão praticamente esquecidos.

2. A política é ineficaz

As pessoas querem recorrer à política e ao processo político para “resolver” todos os tipos de coisas: criar empregos, aumentar a renda, melhorar a infraestrutura, aumentar o acesso à cultura, e melhorar a educação, a segurança e a saúde. Esta é a pior solução possível.

Todas essas coisas ocorrem apesar do estado, e não por causa dele. Nenhum político ou partido político jamais criou algo comparável à Amazon, ao YouTube, à Apple, à Uber, a todos os aparelhos, máquinas e aplicativos que nos trazem bem-estar, ou mesmo a milhões de pequenas e médias empresas que nos servem diariamente, efetivamente melhorando nosso padrão de vida.

A melhor maneira de um governo promover o bem da sociedade é simplesmente se recusando a interferir na vida, na liberdade e na propriedade das pessoas. A única coisa realmente boa que pode advir do ativismo político é limitar o poder do estado ao máximo possível. O problema é que tudo na política conspira exatamente para quebrar esse limite

Por isso, e de novo, é necessário haver antes uma grande mudança ideológica para dar sustentação a este movimento.

3. A política destrói ideais

O idealista bem intencionado inicia seu ativismo político pensando que esta é a maneira com que ele irá fazer a diferença. Mas ele rapidamente irá descobrir que tudo é uma enganação: suas idéias e visões não importam e seu voto não muda nada. Ele está tentando controlar uma máquina que está totalmente fora do controle dele.

Ato contínuo, ele tem de fazer uma escolha: ou ele continua jogando o jogo, mesmo sabendo que jamais alcançará seus ideais; ou ele abandona toda aquela futilidade e vai se dedicar a um setor no qual ele realmente pode manter seus princípios e efetuar mudanças genuínas; setores como educação, cultura, tecnologia, fé ou empreendedorismo.

A principal (e talvez única) coisa que você realmente é capaz de controlar é você próprio. Logo, eis as suas principais obrigações: capacitar-se continuamente, adquirir cada vez mais habilidades, conhecimento, erudição e força de caráter para que, no final, você tenha um grande domínio sobre sua área escolhida.

4. A política pode lhe tornar um imoral

O setor estatal não produz nada por conta própria. Ele simplesmente parasita o resto da sociedade, confiscando sua riqueza e vivendo dela. Quem está no setor estatal vive exclusivamente daquilo que retira coercivamente das pessoas produtivas. O setor estatal prospera pelo roubo e pela fraude.

Não há um único estado grande que não seja culpado de fazer coisas terríveis a seu povo — coisas que, se fizéssemos uns com os outros, seríamos tachados de criminosos. Com efeito, todos os que já estiveram lá dentro podem atestar que não é possível existir algo como “burocracia eficiente”,  jogo político “limpo”, e programas criados por ativistas de “grande espírito público”.

A realidade lá dentro é várias vezes pior e mais fétida do que qualquer um de nós aqui de fora pode sequer fantasiar.

Uma vez lá dentro, ao descobrir tudo isso, o que você fará? Algumas pessoas irão se sentir ainda mais atraídas pelo arranjo exatamente por causa deste niilismo moral que o estado desencadeia: no mínimo, toda aquela máquina pode ser usada para esmagar meus inimigos.

Tamanho rebaixamento da moral e do caráter é repulsivo. Por isso, há quem diga que o estado atrai sociopatas.

5. A política é imune a alterações

A única função do estado é ser um aparato de coerção e compulsão. Esta é a sua marca distintiva. É isso que torna o estado o que ele realmente é. Da mesma maneira que o estado responde bem a argumentos de que ele deveria ser maior e mais poderoso, ele é institucionalmente hostil a qualquer um que diga que ele deveria ser menos poderoso e menos coercivo. 

Isso não quer dizer que algum trabalho feito “de dentro” não possa gerar algo de bom, em algum momento.  Porém, é muito mais provável o estado converter o libertário do que o libertário converter o estado.

Todos nós já vimos isso milhares de vezes. Dificilmente são necessários mais do que alguns poucos meses para que um intelectual libertário que tenha ido para o governo “amadureça” e se dê conta de que seus ideais eram ‘muito pueris’ e ‘insuficientemente realistas’. Um político prometendo tornar o governo mais manso e mais submisso rapidamente se torna um proeminente especialista em criar novas maneiras de tornar o estado mais eficiente no confisco da riqueza alheia. Tão logo este fatídico passo é tomado, não há mais limites. 

Aquele indivíduo genuinamente bem-intencionado, e que entrou para a máquina estatal tentando mudá-la para melhor, acabou sendo mudado por ela para pior.

Há um caminho melhor, mais ético e moral

Com efeito, há milhões de maneiras melhores. Você pode perfeitamente continuar sendo um libertário (ou qualquer outra denominação que você prefira) e fazer coisas efetivas que não envolvam agitação política. Governos vêm e vão, mas a tecnologia e as idéias duram. E elas também são mais poderosas que tanques, exércitos e bombas: idéias são à prova de balas.

Você pode se dedicar às artes, escrever prosas, compor música, criar empreendimentos produtivos, salvar vidas por meio da medicina ou da terapia, ou ser um ótimo cônjuge, pai ou amigo. Qualquer uma destas opções será um uso muito mais eficaz e humano do seu tempo na terra do que a política. Entender a maneira como a liberdade humana funciona ajudará você a ver isso. E essas buscas não irão sacrificar seus ideais.

Em definitivo, filiar-se a um partido e buscar um cargo público não é, nem de longe, a melhor maneira de agir de acordo com o que você acredita.

Mas por que então as pessoas são tão atraídas por soluções políticas? F. A. Hayek deu uma dica. Tudo está ligado àquela ânsia por soluções decisivas, duradouras e universais para os problemas da vida. Elas estão à procura de um caminho imediato e certeiro para fazer do mundo um lugar melhor, e vêem no aparato estatal a melhor e mais efetiva maneira de fazer isso.

No fundo, é a impaciência das pessoas com relação à evolução gradual do conhecimento — o que só ocorre por meio de experimentos iterativos — o que as leva a exigir soluções governamentais.

Mas uma vida extremamente politizada, baseada naquela esperança de que o presidente, o Congresso e o judiciário irão construir um futuro para nós, é uma vida sombria e, na melhor das hipóteses, sem nenhum sentido. Esperar que soluções boas venham do estado sempre será algo, no mínimo, ingênuo. E querer entrar para o estado para acelerar estas soluções pode ser algo ainda mais danoso para seu caráter.

Libertários sempre devem ter isso em mente. A questão da estratégia não é simples. E o poder sempre será tentador. A esmagadora maioria das pessoas que entram para o governo é formada por gente que está ali ou porque quer uma vida fácil, ou porque quer controlar a vida dos outros, ou porque quer uma vida fácil que ao mesmo tempo permite controlar a vida dos outros.

Sempre foi e sempre será assim. O estado mastiga as pessoas e, no final, ou ele engole ou ele cospe aquelas que entraram ali com o nobre intuito de promover a liberdade. 

Esta é a lição.  Em vez de tentar se infiltrar no estado, os defensores da liberdade devem perseguir seus ideais por meio do comércio, da educação, do empreendimento, das artes, da divulgação de ideias, do debate etc. Liderem e exerçam influência por meio do respeito alcançado por suas realizações. Estas são áreas que oferecem genuínas promessas e altos retornos.

Quando um libertário diz que está fazendo coisas boas em algum ministério ou em alguma agência reguladora, não tenho motivos para duvidar de suas palavras. Porém, quão melhor seria caso ele renunciasse a este emprego e escrevesse um livro expondo toda a mamata, charlatanice e roubalheira da burocracia? Um golpe bem colocado contra um órgão do governo pode produzir mais reformas, e gerar mais benefícios para a sociedade, do que décadas de tentativas de infiltração e subversão.

Muito mais importante do que legisladores expressando ideias libertárias é a existência de educadores, empreendedores, pais e mães, líderes religiosos e empresariais divulgando as ideias da liberdade. Defensores da genuína liberdade amam o comércio, a tecnologia e a cultura, e não o estado. Comércio, tecnologia e cultura são o nosso lar e nossa plataforma de lançamento para as reformas em prol da liberdade. Apenas a divulgação de ideias sólidas pode nos libertar em definitivo do jugo opressor do estado.

Fingir amizade com um inimigo mais poderoso é uma postura que beneficiará exclusivamente a ele.


https://www.mises.org.br/article/2743/nao-deixe-a-politica-destruir-seus-ideais–cinco-motivos-por-que-ela-e-garantia-de-frustracao

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