Dois pontos chamam a atenção na diligência da Operação Lava Jato realizada ontem em São Paulo. Esta ação visou buscar evidências que ligassem as empresas de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, ao pagamento de despesas de sua família e em especial do pai, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para os investigadores, uma parte do dinheiro recebido por Lulinha de empresas de telefonia teria sido usado para bancar a compra do famoso sítio em Atibaia.
Aqui está o primeiro ponto que levanta as sobrancelhas dos analistas políticos: por que somente agora se tenta fazer essa ligação?
O Ministério Público e a Polícia Federal gastaram incontáveis horas de investigação desde 2015 para fundamentar o processo que levou à prisão de Lula em abril de 2018. Neste meio tempo, a força tarefa até vazou um áudio em que a nora do ex-presidente conversava com um dos filhos de Jacó Bittar, no qual se conversava sobre a quantidade de coisas que a família Lula da Silva mantinha na propriedade. Como é que não se buscou uma ligação entre a empresa de Lulinha e o sítio antes?
A resposta é uma só: soberba. Os responsáveis pela investigação acreditaram que não precisavam fundamentar mais a acusação e pararam onde estavam. Hoje, afirmam que o processo é complexo demais e que só agora conseguiram efetuar uma ligação entre o sítio e o faturamento das iniciativas empresariais do filho de Lula.
Esse argumento, contudo, é difícil de engolir. Afinal, se fala da riqueza de Lulinha desde que o pai ainda morava no Palácio do Alvorada. O Coaf deve ter sacudido as cotas da Gamecorp e de outras companhias de baixo para cima pelo menos umas dez vezes desde que a Lava Jato começou, em 2009. Só agora encontrou essa ligação?
O que mudou desde o ano passado? Em primeiro lugar, Sergio Moro deixou de ser o juiz do caso para assumir o Ministério da Justiça. Depois disso, a Operação Lava Jato passou a ser questionada de forma mais aberta por juristas e, principalmente, pelos ministros do Supremo Tribunal Federal. Por fim, Lula foi solto. Ou seja, os responsáveis pela Lava jato passam por um momento no qual sentem a necessidade de aprofundar argumentos, teses e evidências. A fase em que o powerpoint de Lula elaborado pelo promotor Deltan Dallagnol ganhava mais apoios que críticas acabou. No afã de fundamentar ainda mais as acusações de Lula, as autoridades criaram outro um elo na cadeia de investigações – que, por sinal, pode até fazer sentido. Mas a pergunta que fica é: por que isso não foi feito antes?
A segunda questão que salta aos olhos: um dos mandatos de busca foi expedido para vasculhar a casa do ex-presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo. Lá, encontrou-se um recibo no valor de R$ 15 000 emitido pelo Instituto Lula à empreiteira. Isso, evidentemente, pode ser um material importante em algum processo. Só que esta é a terceira vez que a Polícia Federal faz uma visita a Azevedo. Os motoristas da PF já conhecem o endereço do ex-empreiteiro desde novembro de 2015. Assim, é possível formular novamente a pergunta: por que somente agora se apreendeu este recibo? O papel foi descartado nas outras diligências ou simplesmente não se fez busca alguma no apartamento de Azevedo?
O combate à corrupção é algo importantíssimo e fundamental para nosso crescimento como país. Isso não se discute. Mas é preciso elevar o nível das investigações e respeitar o Estado de Direito, fundamentando acusações e se buscando provas cabais desde o início do processo. Remendar, neste caso, é pior que remediar. Apenas contribui para minar a credibilidade da Justiça – a qual, diga-se, não passa por seu melhor momento.