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Agricultores do Brasil podem tirar vantagens de tensão entre China e EUA

SÃO PAULO (Reuters) – A posição do Brasil como potência agrícola pode ser reforçada devido a crescentes tensões comerciais entre Estados Unidos e China, após o presidente Donald Trump anunciar planos de tarifas para aço e alumínio, de acordo com especialistas.

O Brasil é o maior exportador global de produtos agrícolas como soja, carne bovina e de frango, açúcar e café. E a China é o maior importador de soja, comprando no ano passado 95,5 milhões de toneladas da oleaginosa, mais da metade do país sul-americano

“Os sinais de tensionamento entre os EUA e a China podem ser uma grande oportunidade para o Brasil, visto nossa vocação para produzir grãos como soja e milho”, disse Carlos Fávaro, vice-governador de Mato Grosso, maior Estado agrícola do Brasil, em uma entrevista à Reuters nesta sexta-feira.

O Brasil vendeu 20,3 bilhões de dólares em soja para a China no ano passado. A exportação aos chineses saltou nos últimos anos, de 22,9 milhões de toneladas cinco anos atrás para 53,8 milhões de toneladas em 2017.

Fávaro, também agricultor, acrescentou que o Brasil pode expandir os laços comerciais com a China, observando que os mesmos têm crescido constantemente nos últimos anos, uma vez que a China investiu fortemente no setor agroindustrial brasileiro e em projetos de infraestrutura.

“A China precisa de nossas matérias-primas e nós precisamos de fortes laços comerciais com eles, mantendo a nossa soberania”, disse Fávaro.

O ministério da indústria do Brasil afirmou na quinta-feira, depois que Trump anunciou seu plano de tarifas, que o país precisa considerar tomar ações sobre as tarifas ou em consonância com outras nações.

Roberto Rodrigues, ministro da Agricultura do Brasil entre 2003 e 2006, disse que o anúncio de Trump não poderia ser considerado uma boa notícia, apesar do seu possível impacto positivo na exportação de grãos no curto prazo.

“A agricultura se beneficia, mas para a indústria de aço é negativo. Um setor ganha, mas a sociedade brasileira não”, afirmou Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getulio Vargas (FGV).

“Esse assunto das tarifas do Trump, acho que o problema maior é o fato em si… O problema maior para mim é criar uma dificuldade que pode ter efeito dominó em outras regiões do mundo”, acrescentou o ex-ministro, que teme uma “onda protecionista”.

O Brasil exportou no ano passado 110,8 milhões de toneladas de produtos como soja, farelo de soja e milho, segundo dados da agência marítima Williams. A unidade brasileira da chinesa Cofco [CNCOF.UL] está entre os cinco maiores exportadores, com 9,3 milhões de toneladas, segundo os dados.

MILHO

Fávaro afirmou que o Brasil pode se beneficiar do crescente protecionismo dos EUA, embora ele tenha dito que é cedo para dizer como a situação vai se desenvolver.

Jason Hafemeister, conselheiro comercial do secretário da Agricultura dos EUA, disse à Reuters na semana passada que os norte-americanos temem que a China possa impor barreiras comerciais às vendas de grãos nos EUA se as relações comerciais entre as duas maiores economias do mundo piorarem.

No momento, uma posição comercial mais dura dos EUA em relação ao México beneficiou os agricultores brasileiros, que exportaram dez vezes mais milho para os mexicanos no ano passado, diante de temores de que as negociações do Nafta pudessem prejudicar seus suprimentos do cereal, de acordo com dados do governo e comerciantes de grãos. [nL2N1QC0KD]

O secretário de Agricultura dos Estados Unidos, Sonny Perdue, disse que não vê uma ameaça do Brasil para as vendas de milho dos EUA ao México, porque os agricultores americanos gozam de vantagens em áreas como a logística que os agricultores brasileiros não têm.

Rodrigo Lima, diretor-geral do Agroicone, especialista em comércio internacional, acredita que as tensões comerciais dos EUA poderiam impulsionar o potencial de algumas conversas bilaterais que o Brasil está conduzindo, especialmente com o México.

“O México já era um mercado difícil de se entrar, devido à barreiras não-tarifárias, barreiras sanitárias. Mas agora as conversas estão progredindo. Nós estamos discutindo preferências”, ele disse. “Nós estamos vendendo milho para o México agora. Podemos vender frango? Podemos vender carne bovina?”

Mesmo que determinados produtos se beneficiem, o Brasil em geral sofreria no caso de uma guerra comercial mais ampla, sendo uma nação com influência limitada em comparação com os grandes “players”, disse Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais na FGV.

“Acima de tudo, aumenta o risco”, disse Stuenkel.

(Reportagem Ana Mano, José Roberto Gomes, Roberto Samora, Marcelo Teixeira e Jake Spring em Brasília)

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