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Como é que passamos da economia colaborativa para o isolamento do Home Office?

Até o início do ano, víamos deslumbrados a inauguração em série de escritórios belíssimos e funcionais, especialmente no território das startups, que privilegiavam o convívio dos funcionários, troca de ideias e ambientes abertos, com mesas próximas entre si. O mesmo ocorria com o boom dos empreendedores que trabalhavam em regime de coworking, convivendo com outras iniciativas empresariais e dividindo até espaços de alimentação e de lazer. Tudo em nome do que se chamava economia colaborativa ou gestão multidisciplinar. Dessa colaboração constante, diziam os defensores destes conceitos, surgiriam ideias inovadoras que transformariam modelos de negócios, criariam soluções disruptivas e gerariam mais riqueza. Essas, ao lado de novíssimas ferramentas tecnológicas, seriam algumas das bases para construir um novo cenário corporativo.

Veio a pandemia do coronavírus e todos esses conceitos foram instantaneamente repensados. Hoje, muitos empresários já devolveram espaços de escritórios que, acreditam, ficarão ociosos no futuro. Muitas empresas começam a considerar a possibilidade de estender o trabalho remoto até o final do ano, mesmo que as regras de isolamento social sejam relaxadas antes disso. Algumas até cogitam adotar o sistema de Home Office de forma permanente, deixando colaboradores trabalhando em casa. O benefício no resultado é imediato: haverá uma economia significativa nos custos de aluguel, condomínio e manutenção dos imóveis, que hoje representam entre 5% e 15% do faturamento das empresas.

Não que o conceito de trabalhar juntos, sem paredes, seja novíssimo. A diretoria do Bradesco, por exemplo, durante anos trabalhou num espaço aberto, dividida em um mesão comprido, em cuja cabeceira sentaram-se Amador Aguiar, Antonio Carlos de Almeida Braga (por pouco tempo) e Lázaro de Mello Brandão. Com esse estilo despojado, bem diferente da concorrência, havia uma agilidade flagrante na hora de decidir assuntos que precisariam da atenção de um grupo de executivo. As decisões, assim, eram tomadas imediatamente, sem nenhuma burocracia. Não era preciso pegar no aparelho telefônico ou agendar uma reunião para tirar uma dúvida ou fechar um negócio que necessitava de uma determinada opinião: era só levantar a cabeça e perguntar aos colegas da mesa. O modelo Bradesco acabou sendo copiado por muitas corporações, que concentraram toda o Estado-Maior corporativo numa única sala. Depois, as salas de diretorias e gerentes foram abolidas. Algumas empresas deram um passo à frente, abolindo estações privativas de trabalho e forçando uma espécie de rodízio de posições no escritório.

Todos os benefícios que se alardeavam de um ambiente de alta dose de convivência, então, eram apenas perfumaria? O corte de custos de real estate justifica tudo isso? Como passamos de uma fase na qual a troca intensiva de ideias era aplaudida par outra na qual todos exaltam os benefícios do Home Office?

Todos têm direito a uma opinião, certo? Aqui vai a minha: odeio o trabalho remoto. De-tes-to. Acho insuportável ter de ficar em casa muito tempo e falar com os outros apenas pelo telefone e por vídeo chamada. Podem me chamar de obsoleto – e talvez eu seja mesmo. Mas prefiro conversar com pessoas de carne e osso, que estão a metros de distância do que ficar trancado em casa, mesmo que isso signifique gastar mais dinheiro com imóveis.

O Home Office funciona muito bem para reuniões marcadas. Não se gasta tempo com o trânsito e todos estão com foco no tema. Ninguém quer esticar conversas pelo computador á toa. Por isso, os participantes de vão direto ao ponto e as reuniões são produtivas. Seria o caso de se pensar: esses encontros virtuais são também criativos? Com o tempo, talvez até sejam, principalmente se não houver alternativa – mas, nos dias de hoje, tenho sérias dúvidas.

O mesmo pode se dizer de uma ideia que precisa ser discutida imediatamente. Quem nunca esteve nessa situação? Vem a ideia e ela estanca, pois uma opinião é necessária ou é imprescindível a checagem um detalhe que não está ao alcance do Google. Para resolver o problema, anda-se alguns metros e encontra-se alguém que pode vir com a solução.  Quantas sacadas vão ser perdidas porque o colega de trabalho está em uma sala virtual de reuniões, sem possibilidade de ser contatado? Arrisco dizer que inúmeras.

O Home Office pode fazer maravilhas para a produtividade de alguns profissionais. Para outros, no entanto, há o risco de ser um empecilho. Como motivar as pessoas à distância? É possível, mas requer uma habilidade que ainda não se tem. Outro dia, conversei com uma especialista em Recursos Humanos. Ela havia sido convocada para ajudar no caso de um gestor que desejava demitir um funcionário que, em casa, havia abandonado uma reunião digital. A consultora, então, descobriu que o colaborador em questão tinha ido socorrer a filha, que tomara um tombo e machucara seriamente a cabeça – tudo isso enquanto a mãe da criança estava tomando banho (não que essa mãe tivesse a obrigação primordial de cuidar dos filhos, bem entendido). A demissão, diante dessas explicações, foi revertida.

Não é impossível ser criativo sozinho. Pelo contrário. Escritores e inventores de renome fazem isso o tempo todo. Mas este é um talento pertencente a uma minoria. A maioria das pessoas precisa do combustível criativo do convívio humano para inovar. Como ficará o modelo daqui para frente? As pessoas vão querer sair ou ficar em casa?

O que aconteceu em Paris após o afrouxamento da quarentena pode ser uma pista em relação ao comportamento social pós-quarentena: lojas como Zara e Louis Vuitton ficaram lotadas, apenar de previsões que apontavam um comércio lutando para atrair consumidores. Meu palpite, assim, é de que haverá milhões de pessoas querendo voltar aos escritórios, desejando se afastar do Home Office. Uma batalha silenciosa vai embrenhar-se nas entranhas das grandes corporações e dos pequenos negócios: quem vai ganhar a batalha, os custos menores do Home Office ou a criatividade gerada pelo convívio de colaboradores? A esta altura do campeonato, ninguém tem uma resposta assertiva para oferecer. Mesmo assim, sou partidário da volta aos escritórios quando houver condições de se acabar com o isolamento social. E você, de qual lado está? Mande suas ideias para MONEY REPORT ([email protected] ou simplesmente escreva no espaço reservado aos comentários, logo abaixo). Queremos saber sua opinião.

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Comentários

Respostas de 5

  1. Talvez por ser da mesma geração que você, também prefiro o contato real com as pessoas como via de regra, mas não há como negar os benefícios associados ao home offiice , tais como reduções de custos de escritórios, produtividade das reuniões, e dependendo das características pessoais e do tipo de tarefa, melhora de performance e qualidade das entregas. Além e claro da redução de stress em horas no trânsito, que também se traduzem em menos poluição do ar, e consequentemente melhoria de todo o ecossistema da localidade e do entorno dela.
    Eu particularmente acredito em um modelo misto, aonde as pessoas poderão por exemplo , dependendo de suas funções e objetivos, fazer 2 ou 3 dias de home office, e nos outros dias estar no escritório convivendo com seus colegas, e usufruindo dos benefícios desse convívio.
    Outro ponto importante e que as tecnologias de conectividade vêm se desenvolvendo rapidamente, e muito em breve teremos reuniões virtuais com realidade aumentada, avatares, ou seja, replicarão cada vez mais as sensações de uma reunião presencial no que tange as possibilidades do contato e da interpretação dos sentimentos das pessoas, que vem além do que falam, de seus gestos, olhares, posturas, etc.
    Ou seja, cada vez mais aproximando o mundo virtual do mundo real.

    1. Um modelo misto me parece algo sensato, deixando o home office especialmente para tarefas que não precisem de interação. Mas há empresas, inclusive do mercado financeiro, que estão cogitando adotar permanentemente esse modelo de trabalho remoto, mantendo uma estrutura física mínima.

  2. Basicamente na história humana não houve desenvolvimento sem aglomeração, e as cidades são a maior prova disso. Acho que a pergunta a ser feita agora é “que mundo que você quer criar para você viver quando essa fase acabar?” Lembrei de você ao ler este artigo do Augusto de Franco que explode o conceito para o desenvolvimento da democracia, achei q você poderia gostar. http://dagobah.com.br/hora-de-nossas-polis-paralelas-uma-ideia-fascinante/?fbclid=IwAR3ARY7yv6xEBWosBjEHdoHYAWol7s2-qu3kk63Hkr-ky1dbopuMoO8Ys1o

  3. Tenho lido muita coisa a respeito sofre o fim do escritório.
    Não acredito no trabalho ‘distante’ o HomeOffice. Não acredito no fim do escritório por acreditar que o relacionamento interpessoal-presencial é fundamental para criação, motivação, confiança mútua e produtividade do trabalho. Após dois meses fechado num bom escritório em casa, não vejo produtividade melhor.

    Há sim atividades que funcionam bem. Mas

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