O termo é uma quase novidade, mas o conceito é bem conhecido da maioria dos brasileiros. Trata-se apenas de passar as férias em casa ou em passeios curtos para lugares não muito distantes – o turismo bate-volta. Para os mais afortunados, staycation ou holistay é deixar de viajar para o exterior. Pode ser desinteressante, mas é uma tendência de consumo e comportamento que deve se manter pelo menos até o final do ano, no futuro período de transição já denominado de vida pós-covid.
Perdem as grandes redes hoteleiras, as companhias aéreas, as operadoras de turismo e as locadoras de veículos. Em muito menor escala, ganham as pousadas em cidades pequenas, as atrações locais e os comerciantes de praias e de interior mais próximos. Um estudo da FGV Projetos aponta que o PIB do setor turístico brasileiro irá cair 40% ou mais em 2020, em relação ao ano anterior. Uma perda de R$ 165,5 bilhões.
Na União Europeia, a staycation, as férias de quem fica, entrou em “alta” com a queda da economia de um continente que tem 10% de seu PIB proveniente do turismo. A França, que costumava receber 90 milhões de turistas por ano, vai sofrer com perda de grande parte dos 56 bilhões de euros que ajudavam a manter dois milhões de empregos no setor de serviços. Para tentar salvar o que der, o primeiro-ministro, Edouard Philippe, anunciou que os franceses poderão viajar nas férias de julho, mas sem sair do país. A afirmação não deve se sustentar do ponto de vista legal, com os países vizinhos abrindo as fronteiras. Todavia, serve para proteger vidas e, nessa ordem, também empregos.
Na Itália, o primeiro-ministro Giuseppe Conte afirmou que os cidadãos poderão sair de férias, mas só a partir de 3 de junho, quando as viagens forem liberadas – se não houver uma segunda onda de contágio. Já na Espanha, as circulação de pessoas avança num ritmo mais lento. A ministra do Exterior, Arancha González Laya, afirmou o país só será reaberto “quando estiver em posição de garantir a segurança dos turistas”. Desde 15 de maio, quem desembarca na Espanha vindo do exterior deve ficar em quarentena de duas semanas, com autorização apenas para comprar alimentos, remédios ou procurar atendimento médico. Os hotéis em algumas áreas reabriram, mas ninguém se arrisca. As praias devem começar a receber gente em meados de junho, mas com distanciamento social imposto, monitoramento e multas, como começou a ocorrer na Grécia a partir do final de semana passado.
Em entrevista ao Financial Times, Brian Chesky, CEO do Airbnb, afirmou que houve um aumento nas reservas domésticas na Dinamarca e na Holanda. “As pessoas querem opções mais próximas de casa, mais seguras e mais acessíveis”.
E qual a relação do brasileiro com isso? Muita. Principalmente se a covid-19 não mudar sua curva de contágio. Para fugir da frustração, influenciadores, blogueiros e palpiteiros de internet já desenhavam em tom de autoajuda as férias menos chatas possíveis. A primeira vantagem está em economizar – já que pouca gente terá recursos, melhor seguir a onda -, seguido da possibilidade de relaxar sem o receio de ser contaminado. As indicações são de exercícios mentais, ouvir música, ver filmes, visitar os museus da cidade e brincar com os filhos. Tudo o que se fazia fora de casa, durante as férias.
Em suas conclusões, o estudo da FGV aponta para a staycation como uma solução para as pessoas e negócios, com “redirecionamento dos recursos e esforços para a promoção do turismo doméstico. Recursos devem ser disponibilizados para promoção do turismo doméstico e viabilização de eventos corporativos e de lazer no mercado interno”. Ou seja, depois do fique em casa será a vez do staycation, o fique por perto.