A primeira vez que prestei mais atenção no WhatsApp foi durante uma conferência em abril de 2018. Num painel sobre eleições, escutei de um especialista em redes sociais que a ferramenta mais importante no pleito daquele ano seria justamente o aplicativo inventado por Jan Koum e Brian Acton. Confesso que fiquei tão impressionado com a argumentação que criei meu primeiro grupo quase que no ato. Só não o fiz na mesma hora porque estava moderando o tal painel.
Juntei empresários, amigos e jornalistas e comecei a brincadeira. Nunca pensei que fosse ser um trabalho tão espinhoso. No início, foi uma diversão só. A quantidade de posts e interações era enorme e proveitosa. Mas, em pouco tempo, vieram as discussões e as brigas. Apoiadores de Bolsonaro versus isentões. Conservadores contra anti-conservadores. Até pendenga entre republicanos e democratas (que teoricamente deveria permanecer em solo norte-americano) apareceu.
Uma verdadeira dor de cabeça.
Depois de um certo tempo, passei a refletir sobre a dinâmica dessas redes digitais. Cheguei rapidamente a uma conclusão. Se você está cheio de um grupo de WhastApp em particular, das duas uma: ou você é o administrador ou você é um participante que já deveria ter saído.
Os administradores se cansam mais rapidamente desta prática porque enxergam pessoas que fazem parte de seu círculo de relacionamento, muitos dos quais são amigos próximos, se desentendendo. Por mais que a turma do deixa-disso entre em ação, mágoas se criam e rivalidades surgem. Quem está administrando esses conflitos se sente impotente, frustrado e irritado. Tudo ao mesmo tempo.
Falando nisso, há três tipos de administradores. Aqueles que deixam o barco andar sozinho, os que tentam uma mediação entre opiniões diferentes e os que defendem uma bandeira, na base do “it’s my way or highway”. Isso, no fundo, não importa muito no resultado final. No fundo, todos os grupos terminam com o predomínio de uma corrente de pensamento.
Como em todas as redes sociais, o WhatsApp (tirando as iniciativas familiares, corporativas ou utilitárias, como condomínios e clubes) é fruto do ajuntamento de consensos. Briga-se no início, há uma temporada de expurgos e o jogo segue em frente – quem não concorda com a maioria ou é expulso ou fica quieto.
Por isso, aqueles que não administram os grupos e se incomodam com o conteúdo postado devem pensar bem: este é o seu lugar? Talvez não seja.
Quando os grupos surgiram, pensou-se que este seria o veículo perfeito para debates e discussões produtivas. Afinal, um tema poderia ser discutido à exaustão, num ritmo adaptável à agenda dos participantes. Quantas vezes, por exemplo, você achou que um assunto estava encerrado até que, no dia seguinte, alguém que perdeu uma discussão anterior resolve ressuscitar o tema?
Esta situação, um dos maiores pesadelos dos administradores, é bastante comum. E, como uma brasa revivida, faz a fogueira inteira voltar a arder, retomando a quizumba que já havia passado.
O fato, no entanto, é que as pessoas estão mais preocupadas em encontrar quem pense igual a elas do que colocar suas convicções em xeque. Some-se a isso outras características típicas de agrupamentos humanos, os quais surgem rapidamente sentimentos como a inveja, a intolerância e a competitividade.
Em função disso, tudo é possível. Recentemente, vi amizades que eram sólidas ser questionadas por conta do que foi discutido nestes ambientes – até porque a palavra escrita não vem acompanhada do tom de voz que poderia suavizar uma frase menos polida. Além disso, um texto muitas vezes é escrito a reboque de um sentimento ruim, que pode ou não ter a ver com o grupo. Por fim, todos – dos mais novos aos mais velhos – estão sofrendo de déficit de atenção. Temos dificuldade de concentração e podemos interpretar erroneamente o que foi escrito porque lemos uma sentença rápido demais.
Outro problema é abraçar vários grupos ao mesmo tempo. Um amigo, por exemplo, está envolvido em mais de dez e participa ativamente de todos, arregimentando apoiadores às opiniões que defende através de mensagens privadas. É um atividade estressante, que ele desempenha com desembaraço — mas nem todos tem essa capacidade. Muitos ficam tensos e perturbados com a experiência de pular de um assunto para outro várias vezes ao dia.
Para encerrar: não levem a sério demais esse tipo de coisa. É apenas um grupo de WhastApp e atinge somente um teto de 256 pessoas. Raramente iniciativas surgidas neste tipo de ambiente ganham o mundo real. Lemos coisas com as quais não concordamos e as contestamos, mas não conseguimos convencer os interlocutores. Neste processo, nos aborrecemos e irritamos os demais. Esse sentimento faz surgir uma espécie de rejeição (ou questionamento) em relação à ferramenta. Mas, convenhamos: o WhastApp, em si, é excepcional. O que estraga são algumas pessoas (que, em outras rodas virtuais, são elogiadas e idolatradas).
No mundo de hoje, não há como agradar a todos. E o WhatsApp é um reflexo disso. Portanto, relaxe. Se não estiver gostando do que lê, aperte o botãozinho “sair” e seja feliz.