Economistas consultados por MONEY REPORT alertam para os riscos da permissão de aumento para os servidores públicos, o que vai comprometer as contas públicas e toda a cadeia de medidas de austeridade e ajuste fiscal preconizadas pelo atual governo. Há também risco de acentuada elevação do dólar, disparada dos juros, fuga de capitais e nova leva de pesados cortes nos orçamentos do ministérios, principalmente na Saúde e na Educação, que geralmente ficam com as maiores fatias dos recursos.
Para o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, a derrubada no Senado do veto do presidente Bolsonaro ao reajuste de salários de servidores foi a responsável pelo aumento do dólar na manhã desta quinta-feira (20). “A gente já viu o câmbio explodindo”, afirma. O dólar bateu em R$ 5,66, depois de ter fechado a R$ 5,53 na quarta (19). Na análise de Vale, essa é apenas uma das consequências geradas pela fragilidade fiscal que irá se apresentar se a Câmara não votar pela manutenção do veto presidencial.
“Se isso não for revertido, estamos em apuros. Haverá um aumento muito significativo dos gastos públicos e entraríamos em uma situação difícil, com impacto nos preços de ativos em geral. O dólar vai chegar a R$ 6, a curva de juros pode disparar, haverá encurtamento dos prazos de emissão de novas dívidas e fuga de capital, pois tudo está atrelado ao câmbio”, prevê Sérgio Vale. O cenário “sinaliza enfraquecimento consistente do Ministério da Economia e da própria política fiscal.”
No entanto, o economista acha difícil que a Câmara não se sensibilize, principalmente por causa da repercussão negativa que a votação do Senado teve. “Com o controle maior que o Rodrigo Maia [presidente da Câmara] tem, acredito que o veto presidencial será mantido”, disse. Para o economista, o resultado no Senado é fruto da desarticulação política do governo. “Falta liderança na Câmera e no Senado. Esse tipo de votação precisa de um corpo a corpo. O governo tem dificuldades muito claras em lidar com votações importantes.”
Se o veto presidencial não for restabelecido na na Câmara, certamente o governo terá de fazer cortes, alertou o economista André Marques, coordenador do Centro de Gestão e Políticas Públicas do Insper. Para ele, o Senado não analisou as contas. “Infelizmente, a gente acaba tendo dentro do Senado uma visão mais corporativista ou populista”, avalia. Marques destaca que a solução pelo congelamento do salário dos funcionalismo é importante em um momento de aumento dos gastos públicos. “E você tem de ver que nos últimos anos, o funcionalismo teve reajustes acima da inflação”, pondera. Para o professor do Insper, o Ministério da Economia vai ter um trabalho difícil sem o veto. “O governo vai ter de achar dentro de seu orçamento outro lugar para fazer a contenção de gastos. Ou ter algum caminho para obter mais receitas” – ou seja, aumento de impostos.