Da janela de seu escritório, Teresa Vernaglia, CEO da BRK Ambiental, enxerga o Rio Pinheiros, em São Paulo. “É um desastre ambiental aqui do meu lado”, afirma a executiva, que comanda uma das principais empresas de saneamento do País. A falta de tratamento de água e esgoto, causa da morte dos principais rios da capital paulista, Tietê, Pinheiros e Tamanduateí, não está distante da Faria Lima, um dos centros financeiros da metrópole. “A gente passa pelas marginais e vê o problema”, afirma Vernaglia.
A questão do saneamento é um exemplo de um problema ambiental que causa um problema social. Praticamente metade do País não conta com tratamento de esgoto, o que representa um entrave para o desenvolvimento brasileiro. “As maiores concentrações populacionais estão nas periferias dos grandes centros urbanos, onde as pessoas convivem com esgoto a céu aberto”, diz a executiva. “Existem diversas dimensões para o problema”, afirma.
O cenário gera algumas situações “malucas” do ponto de vista econômico, como ela define. “Nós temos regiões que sofrem com a seca e, ao mesmo tempo, estamos jogando esgoto não tratado nos mananciais”, relata Vernaglia. “Olha o que aconteceu no Rio de Janeiro, onde 9 milhões de pessoas tiveram de conviver com água barrenta e com mau cheiro. Em muitas cidades, as empresas captam água em verdadeiros esgotos.”
A boa notícia é que existe, atualmente, um “alinhamento dos astros” a favor do setor. A aprovação do marco regulatório do saneamento, em junho, abre caminho para uma enxurrada de investimentos. A expectativa do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, é de atrair 51 bilhões de reais de capital privado para projetos que já estão prontos para serem colocados no mercado.
Ao mesmo tempo, o tema entrou na pauta da sociedade e a pressão estrangeira por medidas de proteção ambiental, área em que o governo vem sendo duramente criticado, aumenta a urgência em resolver a questão da água. “Não falta dinheiro. Faltavam legislação e bons projetos”, afirma Vernaglia.
Mas, ainda tem coisa a ser feita antes de comemorar a universalização do saneamento no País. A nova legislação precisa ser regulada, a Agência Nacional das Águas deve começar a funcionar e há a questão do decreto que regulamenta a capacidade econômica que as empresas de saneamento devem ter para serem elegíveis à renovação de contratos. “Mesmo como tudo isso em aberto, já existem projetos em andamento”, afirma a executiva. “Agora é a hora de ter foco e comunicar melhor para tornar a questão tangível para a sociedade.”
Por Rodrigo Caetano
Publicado originalmente em https://exame.com/esg/o-saneamento-basico-e-fundamental-para-garantir-o-s-do-esg/