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Os incompetentes desapareceram?

No mundo politicamente correto como o de hoje, percebo que os gurus em recursos humanos dedicam a maior parte de seu tempo ao desenvolvimento de talentos nas empresas. Se alguém não consegue um bom desempenho, das duas uma: ou esse talento está represado por alguma razão ou as pessoas que têm baixo desempenho estão em uma posição inadequada. Na semana passada, depois de assistir um vídeo curto nas redes sociais exatamente com essa temática, me peguei pensando: não existem mais incompetentes?

Se todos possuem habilidades, que precisam ser trazidas à tona, como é que há tantos processos travados nas empresas? Por que tantas coisas dão errado? Qual a razão de termos tantas aperreações no dia a dia quando lidamos com companhias parceiras, clientes ou fornecedoras?

Dentro deste contexto, será que, em alguns casos, estamos tentando tirar leite de pedra?

Muitas vezes, a culpa é das chefias. Há líderes que preferem carregar pianos nas costas e corrigir na unha os erros da equipe, sem ensinar o caminho das pedras. Mas, por outro lado, também temos pessoas incapazes ocupando posições importantes dentro de um organograma. E isso pode ser a fonte de inúmeros problemas.

Em tese, cada um de nós tem um conjunto específico de talentos. Mas não necessariamente essas habilidades estão em linha com a carreira escolhida. Quando a necessidade de um cargo é diferente do potencial de quem o ocupa geralmente os resultados são desastrosos.

Outro elemento importante dentro dessa equação (e que pode fazer naufragar uma carreira) é a inteligência emocional. Sem ela, a pessoa mais talentosa do mundo pode se transformar em uma fonte de problemas e de decisões inadequadas.

Lembro, neste particular, de um rapaz que estudou na mesma escola que eu, duas séries abaixo da minha. Era reputado como um gênio. Quando estava no terceiro ano da faculdade de jornalismo, ele passou no vestibular e fui seu monitor durante um semestre, quando percebi que tinha dificuldades para se relacionar com as pessoas. Depois de alguns anos, eu era repórter da revista Veja e o vi entrando na redação. Soube que ele tinha passado com louvores no Curso Abril (a peneira de recém-formados da empresa) e que estava ali para uma entrevista. Depois de uma breve conversa, não foi aceito pelo editor de uma seção da revista como estagiário. Teve uma oportunidade em outra revista da Editora Abril, mas não durou um mês, pois discutiu com seus colegas, além de comprar briga com seu editor e também se desentender com o redator chefe. Despontou para o anonimato na imprensa. Nunca mais ouvi falar dele.

Este profissional tinha habilidades incomuns e uma cultura geral espetacular, com conhecimentos profundos sobre temas tão diversos como esportes e literatura. Mas possuía uma incapacidade abissal para o convívio e o entrosamento com seus parceiros de trabalho. Isso inviabilizou sua carreira, numa profissão na qual é preciso conversar o tempo todo com os outros, sejam fontes, entrevistados ou seus superiores na hierarquia de uma redação.

 Muitas vezes, porém, o colaborador tem inteligência emocional de sobra, mas habilidades diferentes das exigidas em seu cargo. Quando isso ocorre, fatalmente este funcionário percebe suas dificuldades e tenta se requalificar ou acaba considerando uma recolocação. Dependendo da profissão, essa pessoa em questão nem precisa deixar a empresa na qual trabalha. Basta trocar de área.

Novamente falando sobre o jornalismo, esta é uma atividade na qual há um tipo de função para cada personalidade. Repórteres, redatores, pauteiros, editores, diretores – cada posição dessas precisa de habilidades específicas. Há alguns profissionais que são excelentes repórteres, mas se transformam em editores medianos. Há repórteres medianos que se tornaram editores excepcionais. Ou mesmo jornalistas que fizeram uma carreira burocrática e se mostraram diretores de redação excelentes. Por fim, há aqueles que galgaram todos os degraus da carreira com brilhantismo. O fato é que um grande repórter não necessariamente será um chefe com o mesmo reconhecimento. Mas o jornalismo tem a capacidade de acomodar pessoas de acordo com suas habilidades dentro da imprensa. Isso, contudo, não ocorre em todos os tipos de ofício.

Quando penso em incompetência (uma palavra que aprece ter caído em desuso), lembro sempre do CEO de uma empresa na qual trabalhei. Uma vez, no meio de uma reunião, ele ouviu o relato de uma barbaridade cometida por um dos diretores e mudou de assunto. Ao final deste encontro, me aproximei e peguei o final de uma conversa entre ele e meu chefe. Ouvi a frase, sobre o tal diretor: “Ele fica onde está. Não consigo me livrar dos meus idiotas de estimação”.

Fiquei chocado com o que escutei e parei a um metro dos dois. A conversa terminou e fiquei imaginando se o diretor que fizera a bobagem, àquela altura acumulando vinte anos de casa, tinha ideia de que estava sendo ridicularizado e mencionado com desdém pelo Olimpo da companhia.

Nessa mesma empresa, topei com um tipo perigoso de funcionário: o incompetente proativo. Depois de ler alguns livros que estavam em moda, esse colega se achava uma sumidade em gestão e começou a se meter em todas as operações vizinhas à sua, criando uma confusão dos diabos. Ele acabou sendo demitido depois de causar alguns prejuízos enormes por conta dessa conduta – e se disse injustiçado quando recebeu o bilhete azul.

Nos dias de hoje, queremos utilizar uma linguagem politicamente correta e acabamos sem nos manifestar de forma clara quando nos dirigimos a um subordinado sem capacidades visíveis. Mas, se temos diante de nós um caso perdido, é melhor falar (com jeito, é verdade) que aquela pessoa precisa mudar de profissão ou de carreira. Não se trata de vociferar contra a incapacidade alheia, mas jogar aberto e tentar abrir os olhos de quem precisa de orientação, mas talvez não saiba que necessita. Este é o dever de todo o líder. Muitas vezes, é preciso puxar um band-aid da pele. Numa situação como essas, como você agiria? Rápido, com menos dor? Ou devagar e sob um padecimento excruciante?

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