Por Andrew Osborn e Polina Devitt
MOSCOU (Reuters) – A Rússia expulsou 23 diplomatas britânicos no sábado em um movimento de retaliação cuidadosamente calibrado contra Londres, que acusou o Kremlin de orquestrar um ataque de agente nervoso contra um ex-espião russo e sua filha no sul da Inglaterra.
Em uma escalada da crise nas relações, a Rússia disse que também está encerrando as atividades do British Council, que promove vínculos culturais entre os dois países e o consulado geral da Grã-Bretanha em São Petersburgo.
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia disse que estava dando aos 23 diplomatas britânicos uma semana para deixar o país.
A atitude russa, mais dura do que a esperado, se seguiu à decisão da Grã-Bretanha na quarta-feira de expulsar 23 diplomatas russos por causa do ataque na cidade inglesa de Salisbury, que deixou o ex-espião russo Sergei Skripal, 66, e sua filha Yulia Skripal, 33, criticamente enfermos no hospital.
Moscou anunciou as medidas na véspera de uma eleição presidencial na qual o atual presidente Vladimir Putin deve vencer confortavelmente. Putin tem colocado seu país como uma fortaleza cercada por potências ocidentais hostis na qual ele seria o defensor. A imprensa estatal deve retratar a medida contra a Grã-Bretanha neste mesmo contexto.
O Ministério das Relações Exteriores russo disse que as medidas são uma resposta ao que chama de “ações provocativas e acusações não substanciais” do governo britânico, alertando Londres de que estaria pronto para tomar outras medidas no evento de mais algum “passo não amigável”.
As relações entre Moscou e Londres atingiram o pior ponto desde a Guerra Fria depois do ataque em Salisbury, o primeiro ataque conhecido com o uso de agente nervoso na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
A primeira-ministra britânica Theresa May disse que o governo britânico vai considerar seus próximos passos com seus aliados nos próximos dias.
“Nós nunca toleraremos uma ameaça à vida de cidadãos britânicos e outros em solo britânico pelo governo russo. Podemos ficar mais tranquilos pelo forte apoio que recebemos de nossos amigos e aliados em todo o mundo”, afirmou May no fórum Partido Conservador em Londres.
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia convocou o embaixador britânico Laurie Bristow à sua sede no sábado de manhã para informá-lo das medidas de retaliatórias.
Bristow disse a jornalistas após o encontro que o governo britânico havia apenas expulsado os diplomata russos depois de que Moscou não ter explicado como a toxina nervosa chegou a Salisbury.
O Ministério das Relações Exteriores britânico disse que esperava a resposta russa e que a prioridade era cuidar de sua equipe na Rússia e auxiliar aqueles que estão voltando para casa.
“A resposta russa não muda os fatos da questão – a tentativa de assassinato de duas pessoas em solo britânico, à qual não há uma conclusão alternativa senão a que o Estado russo foi culpado”, disse a chancelaria britânica em comunicado.
O Conselho Nacional de Segurança britânico deve se reunir no início da semana que vem para avaliar as próximas medidas de Londres.
A resposta russa foi mais robusta do que a esperado. O fechamento do British Council em Moscou deve afetar os laços culturais, enquanto o fechamento do consulado geral em São Petersburgo encerra a presença diplomática britânica na segunda maior cidade da Rússia.
Agências de notícia russas citaram políticos no parlamento russo que receberam bem a decisão de fechar o British Council, alegando que o escritório seria usado como cobertura para espiões britânicos.
O British Council disse estar profundamente decepcionado pela decisão russa e que continua comprometido com o desenvolvimento dos laços entre pessoas com a Rússia, apesar do fechamento.
A Rússia reclama que os britânicos não mostraram qualquer evidência de seu envolvimento com o ataque de Salisbury, dizendo estar chocada e perturbada com as alegações.
Nos últimos dias, o Reino Unido escalou a guerra de acusações com a Rússia devido ao incidente. Na última sexta-feira, o secretário das Relações Exteriores Boris Johnson disse que seria muito provável que o presidente russo Vladimir Putin teria tomado a decisão de usar a toxina nervosa para atacar Skripal.
A Rússia disse estar aberta à cooperação com o Reino Unido, mas recusou os pedidos britânicos para explicar como o agente nervoso Novichok, desenvolvido pelo Exército soviético, foi usado contra os Skripals.
Skripal, um ex-coronel que traiu dezenas de agentes russos para ajudar a inteligência britânica, e sua filha estão criticamente enfermos desde o dia 4 de março, quando foram encontrados inconscientes em um banco.
Um policial britânico também foi contaminado com a substância quando tentou ajudá-los, e continua em condição grave, porém estável.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, disse ao canal de televisão Rossiya 24 que a fonte mais provável do agente Novichok seria o Reino Unido, a República Tcheca, a Eslováquia, a Suécia, ou os Estados Unidos. Esses países, e não a Rússia, estariam testando intensivamente a substância desde o final dos anos 1990, disse Zakharova. A declaração não pôde ser confirmada imediatamente.