Ontem, Money Report realizou um ciclo de debates com a participação vários executivos e empresários, entre os quais Ricardo Dias, vice-presidente de marketing da Ambev, Reynaldo Gama, CEO da HSM, Mauricio Cataneo, CEO da Unisys, Daniel Mendez, fundador da Sapore, e Ivo Wohnrath, CEO da Athié Wohnrath. Ao final do dia, compilei alguns tópicos que podem funcionar como uma lista de lições da pandemia (pelo menos no que diz respeito até novembro de 2020).
O primeiro ponto é que o cenário provocado pela desaceleração abrupta da economia separou os homens dos garotos e as mulheres das meninas. Desnudou-se a real capacidade dos colaboradores mais próximos do círculo de poder nas empresas e enxergou-se com maior precisão a competência de cada um.
Isso ocorreu por conta de dois fatores.
O primeiro foi a percepção que os líderes tiveram do real grau de engajamento de suas equipes. À primeira vista, este julgamento foi de certa forma prejudicado. Nesta fase inicial, muitos funcionários entraram em ritmo acelerado porque tinham medo de perder o emprego. Com o passar do tempo, no entanto, os gestores puderam perceber quem estava engajado de fato e quem estava, no início do processo, turbinado pelo receio de ser despedido.
Outro fator foi a necessidade imperativa em muitas empresas de dar maior autonomia aos cargos de liderança. Com o isolamento e a capacidade limitada de comunicação, muitas vezes restrita às ferramentas de videoconferência, diversas companhias tiveram de dar maior liberdade de ação às chefias de departamento. O resultado deste movimento foi excelente para uns e frustrante para outros. Afinal, não são todos os indivíduos que se dão bem quando possuem autonomia. Há quem prefira apenas executar ordens, um perfil que entrou em baixa nessa pandemia.
Quem tinha pouco engajamento e lidava mal com autonomia, assim, foi demitido ou entrou na geladeira, tendo suas funções esvaziadas.
Mas as lições não foram aprendidas apenas no terreno dos recursos humanos das empresas. Muitos CEOs e empresários acabaram utilizando este período para repensar suas estratégias e propósitos. Quem tentou passar essa fase empurrando com a barriga teve e terá desafios enormes. Neste momento coronavírus, foi possível enxergar empresários de todo o porte querendo atuar nesta fase crítica exatamente como faziam no período normal. Os empreendimentos que passaram por isso ou fecharam ou estão enfrentando dificuldades terríveis. Portanto, esse momento exigiu dos empreendedores um novo mindset. E, pelo mecanismo de seleção natural, quem ficou no mesmo lugar pereceu – ou corre sérios riscos de desaparecer.
Quando olhamos para o que aconteceu do final de março para novembro, chegamos à conclusão de que inúmeras empresas aproveitaram este começo de pandemia como uma oportunidade de questionar verdades absolutas dentro de suas estruturas. Assim, não houve apenas uma aceleração digital. As empresas promoveram uma espécie de reciclagem geral de valores, conceitos e estratégias. Foi como se nada mais fosse peremptório e tudo tivesse de ser questionado. Nesse embalo, pessoas foram dispensadas, mercados foram abandonados e novos serviços foram criados.
Muitos empresários perceberam que seus modelos de gestão tinham de mudar e que absorver novos conceitos. Um deles, que se vê claramente nos marketplaces desenvolvidos pela Amazon e copiados no mundo inteiro, é o de ecossistema. As empresas deixaram de ser ilhas e passaram a encontrar parceiros e colaboradores para ganhar agilidade, flexibilidade e maior rentabilidade. Ao colaborar mais proximamente com outras iniciativas empresariais, essas companhias ficaram mais leves e rápidas e puderam enfrentar as dificuldades com maior galhardia.
Por fim, o espírito das startups ganhou definitivamente o mercado. A pasmaceira do início pandêmico fez com que preconceitos fossem deixados de lado e que empresas digitais em seus primeiros passos de vida entrassem no mundo dos grandes players, emprestando formatos inéditos de gestão e soluções revolucionárias de vendas e redução de custos.
Do ponto de vista corporativo, a pandemia provocou uma evolução forçada dentro de todos os empreendimentos. É o efeito positivo, por assim dizer, do sofrimento. Sem dificuldades, como mudaríamos? Sob o teto confortável de balanços favoráveis, nossas empresas teriam a coragem de se reinventar? Com lucros crescentes e fartos, um empresário perderia tempo para reformular sua estrutura e explorar novos mercados?
A maioria da classe empresarial valoriza o status quo e minimiza os questionamentos de praxe quando tudo vai bem. Quando a tempestade econômica surge no horizonte, no entanto, todos se mexem. E é desses momentos que surgem ideias brilhantes e produtos revolucionários. O ex-chanceler americano Henry Kissinger, com seu forte sotaque germânico, dizia que “um diamante é um pedaço de carvão que se deu bem embaixo de muita pressão”. Esta é exatamente a situação do empresariado nacional neste estágio da pandemia. Quem aguentar mais tempo nessa quizomba será brindado com a metamorfose mais preciosa de nosso planeta, a transformação de um simples carvão em um brilhante. Mas, se ao contrário, não houver gana para permanecer em pé no ringue, a empresa que não se recriar será sempre um pedaço de carvão ou acabará esmigalhada pela pressão que vem de cima.