A principal: os genuínos defensores da liberdades são a ínfima minoria
Até o momento, este ano foi estupefaciente. Uma verdadeira doutrina de choque. Sofremos um ataque inclemente e devastador.
E o agressor não foi um vírus. O Sars-Cov-2 é um vírus normal, do tipo que se alastra e ataca o sistema respiratório. Ele se comporta como todos os demais vírus já encontrados pela ciência no passado, e a maneira correta de lidar com ele — como com todos os vírus — é por meio da terapêutica médica e da adaptação imunológica.
No entanto, pela primeira vez na história, decidiram combater um vírus por meio do autoritarismo estatal, como se decretos, ordens e coerções violentas pudessem intimidar o vírus e fazê-lo desaparecer.
O estado passou a encarar um vírus como se ele fosse uma sarna, um piolho, e pudesse ser vencido por uma simples declaração de guerra contra ele, a qual se resumia a destruir todas as mais básicas liberdades civis.
Muito mais do que o novo coronavírus, o estado (mais especificamente, prefeitos e governadores) foi o grande agressor. Ele assumiu o controle total, emitindo decretos aleatórios especificando o que os cidadãos podiam e não podiam fazer, e humilhando empreendedores e trabalhadores ao especificar quais empreendimentos eram considerados essenciais (e podiam funcionar) e quais eram triviais (e deveria ser fechados).
O estado impingiu seus decretos sob a mira de armas, espancando pequenos empreendedores que apenas queriam trabalhar, destruindo milhares de pequenas empresas, levando outros milhões à depressão (com aumento substantivo no número de suicídios), violando todos os direitos humanos mais básicos, e despedaçando as vidas de incontáveis milhões ao redor do mundo.
E tudo de que o estado precisou para conseguir isso foi fazer a mídia e seus acólitos acreditarem na pré-moderna e não-científica (e essencialmente infantil) ideia de que a maneira correta de lidar com um vírus era correr e se esconder dele, ignorando completamente o fato de que os seres humanos evoluíram lado a lado com vírus ao longo de milhões de anos. Esquecemos tudo o que aprendemos com ciência no século XX.
O governo tentou amedrontar e expulsar o vírus com retórica e violência, mas, no fim, governos têm apenas uma habilidade: a capacidade de controlar e amedrontar as pessoas. E isso ele demonstrou que sabe fazer muito bem.
Daqui a alguns anos, olharemos para trás e veremos o que realmente aconteceu, ao analisarmos dois conjuntos de dados: a média de mortes ao longo de um período de cinco anos, a qual não irá revelar nada de atípico (e este fato irá atordoar as gerações futuras), e os dados do PIB, que revelarão uma brutal devastação econômica jamais antes vista no mundo moderno, nem mesmo em uma depressão ou em uma guerra.
Essa grande supressão destruiu não apenas setores inteiros da indústria, das artes e dos serviços, como também, e ainda mais fundamentalmente, abalou a confiança das pessoas em relação a coisas que até então dávamos como garantidas, como liberdade civil, leis e proteção da propriedade contra agressões.
Quanto mais cedo reconhecermos que o verdadeiro inimigo é o estado e sua total falta de restrições, mais rapidamente poderemos nos preparar para garantir que nada disso jamais volte a ocorrer.
Eis as 20 maiores lições que aprendemos até agora em 2020.
1) Governos são totalmente capazes de fazerem o impensável, e de maneira repentina, sem nenhum plano de saída, nenhuma consideração para com custos econômicos e socais, e com total desconsideração pelos mais básicos direitos individuais.
2) Nenhuma constituição efetivamente protege os cidadãos e garante seus direitos básicos. Elas se tornam irrelevantes quando governos declaram uma emergência.
3) O lobby empresarial é bem menos poderoso do que se imaginava.
4) Vários políticos se importam muito mais com seu poder pessoal do que com a opinião pública.
5) As pessoas, em grande parte, são muito menos preocupadas com suas liberdades do que era de se imaginar.
6) A esquerda progressista nunca realmente esteve preocupada com os pobres, e nunca esteve comprometida com liberdades civis. Nem sequer se preocupa com a privacidade individual e com a educação infantil.
7) A compreensão de conceitos econômicos básicos é algo raro.
8) Não existe um “consenso científico”. Cientistas da mesma área discordam entre si, e às vezes até radicalmente, e muitas vezes por motivos puramente políticos.
9) A estrutura da lei, do direito e do estado é perfeitamente capaz de sofrer alterações dramáticas e até mesmo repentinas. As cortes superiores protegem os políticos e não os cidadãos.
10) A mídia perdeu completamente o manto da imparcialidade e da informação. Ela agora reporta apenas a narrativa que lhe interessa, e suprime todos aqueles que tenham uma visão distinta.
11) Credenciais profissionais são úteis, mas deixaram de ser decisivas para qualquer debate. Pior: passaram a ser usadas como armas.
12) A maioria das pessoas não possui a mais mínima ideia de como ler estatísticas e de como analisar números; para muitas, dados são apenas abstrações.
13) Praticamente nenhum grupo político ou grupo de interesse está genuinamente preocupado com os pobres, com a classe trabalhadora e com os grupos marginalizados — ao menos, não o bastante ao ponto de colocar os interesses deles acima da mera politicagem.
14) Muito frequentemente, os “princípios” que as pessoas proclamam ter não passam de uma falsa sinalização de virtude, apenas para parecerem virtuosas e compassivas nas redes sociais.
15) A propagação da verdade está em desvantagem em relação à propagação de erros e mentiras.
16) A ciência já conhecida e estabelecida pode perfeitamente ser esquecida em uma geração.
17) Por mais que nossas instituições aparentem ser inteligentes e impressionantes, elas não foram criadas e nem muito menos são administradas por pessoas igualmente inteligentes.
18) O mercado é ainda mais impressionante do que eu jamais sonhei. A rapidez de empreendedores em se adaptar a condições exigentes e contrárias, ao ponto de nos manter vivos e com entretenimento, é algo que beira a ficção.
19) A saúde psicológica da maioria das pessoas está diretamente ligada aos seus direitos de posse e às suas liberdades. Tire uma, ou as duas, e as pessoas se desintegram emocionalmente.
20) A coragem moral individual é o tesouro mais precioso de uma sociedade. É tão rara quanto poderosa. No final, foram alguns poucos indivíduos quem se arriscaram para nos trazer informações relevantes sobre tudo e foram alguns poucos indivíduos que se arriscaram para nos manter alimentados e entretidos.
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Jeffrey Tucker
Publicado anteriormente em: https://www.mises.org.br/article/3296/as-20-licoes-que-aprendemos-em-2020