Raquel Stucchi é infectologista especializada em vacinas, pesquisadora da Unicamp e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). Em uma entrevista por aplicativo de mensagens, metade em áudio e metade em texto, ela abriu um espaço na sua agenda intensa para falar da eficácia de vacinas e como o imunizante CoronaVac, desenvolvido pelo Butantan com a farmacêutica chinesa Sinovac, pode ser uma solução. Stucchi diz que uma eficácia de 60% é aceitável diante da gravidade pandemia, porém alerta que as medidas para evitar a propagação da doença, como o uso de máscaras, devem continuar até que, pelo menos, 70% da população esteja imunizada – o que deve só ocorrer a partir de 2022. Confira:
Qual seria a definição de índice de eficácia?
Eficácia representa a proporção de redução de casos entre o grupo vacinado, comparado com o grupo não vacinado. Exemplo: se uma vacina tem 90% de eficácia, isso quer dizer que 90% das pessoas que tomam a vacina ficam protegidas contra a doença.
A eficácia anunciada da CoronaVac pela fabricante Sinovac, em torno de 60%, é aceitável?
Sim. Não é um índice ótimo, mas é aceitável
Por que o Butantan usou esse índice de 78%, que supostamente é de um subgrupo e não pode ser comparado com o utilizado pelos outros fabricantes do mesmo imunizante?
O Butantan não deu um dado global, por isso sua preocupação está correta. Esse índice geral de proteção deve sair em breve. De qualquer forma, uma proteção de 100% para as formas graves [da doença], durante uma pandemia que está absurdamente fora de controle, é um resultado bem animador.
Qual é o índice de eficácia da vacina para influenza que foi distribuída no SUS?
Está entre 60% e 70%. Não é muito diferente.
A diminuição da circulação do vírus só deve ocorrer quando tivermos cerca de 70% de vacinados
Raquel Stucchi, infectologista
Com esse índice de 60%, o uso de máscaras e de álcool em gel teria que se manter até quando?
Com este nível de eficácia, as medidas de bloqueio de transmissão, como manter distanciamento social, evitar aglomerações, usar máscaras e higienizar as mãos, devem ser obrigatoriamente mantidas. Afinal, ainda não sabemos se a vacina impede o estágio de portador. Isso quer dizer que, eventualmente, posso tomar a vacina, ter uma resposta imune adequada, mas ainda entrar em contato com o vírus e transmiti-lo por algum tempo, mesmo sem adoecer. Por isso, precisamos dessas medidas.
E quando estaríamos seguros?
A diminuição da circulação do vírus só deve ocorrer quando tivermos cerca de 70% das pessoas vacinadas [quase 148 milhões]. Algo que vai levar algum tempo, talvez o ano todo de 2021. Mesmo em países pequenos, a expectativa é a mesma. Outro ponto: ainda não sabemos qual será duração da proteção da vacina. O que só reforça a necessidade de uso de máscaras e de distanciamento.