Estamos vivendo uma verdadeira revolução dentro das empresas, traduzida numa sigla que, até anos atrás, era sinônimo, no Brasil, de Escola Superior de Guerra. Essas três letrinhas – ESG –, hoje representam o grupo de fatores que mostram como as empresas se comportam em relação ao meio ambiente (Environment), inclusão social (Social) e governança (Governance). Companhias que se preocupam com esses três quesitos e promovem ações para melhorar sua performance nesse campo se tornaram as novas queridinhas do mercado acionário.
Dentro das estruturas corporativas, o conceito ESG também ganha força. No início, era uma orientação que conquistara apenas os profissionais de recursos humanos. Depois, chamou a atenção daqueles que trabalham no setor ambiental (existente em poucas companhias). Os profissionais de governança, igualmente, abraçaram a causa. Os CFOs de empresas abertas, vendo a valorização dos papeis de companhias certificadas em ESG, também se interessaram pelo tema. E agora os CEOs começam a aderir fortemente à implantação de práticas ambientais, sociais e de governança.
O assunto já movimenta o interesse de muita gente. No workshop virtual que EXAME realizou em parceria com MONEY REPORT, tivemos um painel sobre o tema, que contou com a participação de Nicola Cotugno (country manager na Enel Brasil), Alexandre Costa (CEO da Cacau Show), Ivo Wohnrath (CEO da Athié Wohnrath) e João Paulo Ferreira (CEO da Natura &Co. para América Latina). Além disso, como debatedores convidados, contamos com Antônio Cássio (IRB) e Onara Lima (Ambipar).
Esse movimento fatalmente irá promover uma atmosfera ainda mais politicamente correta nas corporações, para revolta dos mais conservadores e daqueles que são unicamente orientados pelo resultado operacional dos balanços e acham tudo isso uma grande chatice.
Andar pela trilha politicamente correta, de fato, é mais chato. Significa abrir os olhos para certos aspectos que jamais foram prioridade para os executivos, em especial as ações de inclusão social. Mas é inevitável. Portanto, melhor aceitar e se adaptar do que ser rifado por essas questões e ganhar um estigma junto a quem influencia as contratações (headhunters e profissionais de RH).
Até agora, todas as providências adotadas pelas empresas tiveram origem apenas no próprio setor privado. Algumas empresas compraram a bandeira ESG motivadas por consultorias e empresas certificadoras independentes. Outras o fizeram por pressão de seus consumidores, parceiros e clientes. Por fim, os grandes investidores institucionais viram nesse nicho uma oportunidade de investimentos e acabaram influenciando com isso vários CEOs.
Mas, percebam, ainda não houve nenhuma grande ingerência das autoridades nesse tema, tirando um país aqui e outro ali. Mas os ambientalistas, de maneira geral, gostam de interferência estatal e começam a pressionar por leis. Espera-se que ONGs e outras organizações também façam pressão pela adoção de uma legislação com exigências sobre iniciativas de inclusão.
É aqui que podemos entrar em um terreno perigoso.
Tirar a liberdade de uma empresa é algo que asfixia o capitalismo ou promove a desobediência civil – algo na linha da lei “que não pega”, um exemplo que existe aparentemente apenas em solo brasileiro.
É sempre melhor deixar o mercado resolver essa questão sozinho. Com o passar do tempo, as pressões dos clientes corporativos e consumidores no varejo serão quase que insuportáveis neste tema. Até porque os jovens, que estão ascendendo a posições de comando nas estruturas hierárquicas, ou ditando as regras do consumo, vão deixar bem claro que darão preferência a empresas com preocupação ambiental, social e de governança (dos três temas, este último é o que tem menor apelo popular).
Como dizia o economista Ludwig Von Mises, o consumidor é quem dirige os caminhos das empresas. Ele é o comandante supremo. Se não concorda com o preço, não compra. Se critica a qualidade, despreza o produto. Se encontrar um fornecedor que julga melhor, troca de marca em um piscar de olhos.
O fundador da escola austríaca do liberalismo (curiosamente, nascido na Ucrânia), escreveu o seguinte: “O desenvolvimento do capitalismo consiste em que cada homem tem o direito de servir melhor e/ou mais barato o seu cliente. E, num tempo relativamente curto, este método, esse princípio, transformou a face do mundo, possibilitando um crescimento sem precedentes da população mundial”.
Mises morreu em 1973 e, assim, não teve como imaginar a ascensão do clamor por empresas ESG. Mas ele anteviu que os consumidores têm o poder de ditar os rumos de uma empresa, seja por boicote, seja por críticas públicas. Este deve ser o caminho daqui para frente: a pressão do mercado vai moldar a estratégia dos empresários e executivos. No entanto, se o governo se meter nessa equação, vai criar gargalos, elevar custos e aumentar a burocracia. Melhor deixar os clientes como os xerifes supremos – eles detém mais poder, juntos, do que qualquer ministro ou mesmo um presidente da República.