Pesquisar
PATROCINADORES
PATROCINADORES

As diferenças entre a direita atual e a dos anos 1980

A década de 1980 é venerada por muitos jovens – seja pela música ou pelo cinema. Essa idolatria, no entanto, poderia ser estendida aos símbolos do liberalismo econômico (e da direita de maneira geral) da década: Margareth Thatcher, Ronald Reagan e Roberto Campos.

Esse trio colocava a pauta econômica liberal em primeiro lugar. Naquela época, é bom lembrar, ainda havia a guerra fria e o bloco soviético comunista ainda ocupava as manchetes internacionais. Havia forte resistência ao liberalismo e seus defensores precisavam de bastante embasamento para entrar em qualquer debate político-econômico.

Dentro deste contexto, Thatcher, Reagan e Campos (execrados de maneira geral pela esquerda) se destacavam por atacar o socialismo com argúcia e ironia. Esses três não espumavam ou tinham chiliques ao criticar a Cortina de Ferro. Simplesmente apontavam as (muitas) deficiências do comunismo e deixavam os oponentes sem resposta – sempre com inteligência.

Os tempos, no entanto, mudaram. E a fina ironia de Thatcher e Campos, por exemplo, foi substituída pela aspereza intelectual de Donald Trump e de Jair Bolsonaro. As ideias econômicas liberais, no caso americano, foram substituídas por um protecionismo tarifário que começa a ser questionado até pelos próprios republicanos.

Além disso, os alvos da direita nos anos 1980 tinham a ver mais com o comunismo e seus pecados originais – a eliminação da propriedade privada e do empreendedorismo, além do fim das liberdades individuais. Hoje, os direitistas estão mais preocupados com uma pauta conservadora de costumes ou atacando os imigrantes, com interesses nacionalistas.

O grau de intensidade do discurso em relação aos imigrantes varia de acordo com a posição geográfica. Nos Estados Unidos, uma nação construída por estrangeiros, a preocupação maior é com aqueles que se mudaram ilegalmente para o país. Já na Europa, a questão é mais ampla e aborda a imigração de maneira geral, em um comportamento que leva fatalmente à xenofobia.

Interessante perceber como o mundo evoluiu a ponto de perceber os defeitos incontornáveis do comunismo – mas em um momento histórico no qual não temos mais líderes liberais inteligentes que possam trazer a seus países prosperidade gerada por práticas mais alinhadas com o livre mercado.

O filósofo Friedrich Nietzche, em “Assim Falou Zaratustra”, disse o seguinte: “Três metamorfoses do espírito menciono para vós: de como o espírito se torna camelo, o camelo se torna leão e o leão, por fim, criança”.

O camelo, para Nietzche, é a simbologia de algo forte, mas servil – como se o primeiro estágio da humanidade fosse receber ordens e obedecê-las. Seguindo os preceitos católicos, quanto mais o servo sofrer aqui neste mundo, maior será a sua recompensa no plano espiritual.

Já o leão representa o poder e a liberdade. Trata-se daquele momento em que o indivíduo se julga dono de seu destino, mas luta incansavelmente para defender sua posição.

Por fim, a evolução termina com outra metáfora – a figura de uma criança. Um infante significa o surgimento de novos valores e novas formas de enxergar a vida. Além disso, uma criança tem a liberdade julgar as coisas sob uma perspectiva diferente, com o olhar para a transformação.

Essa visão pode ilustrar a evolução dos ideais liberais. Um primeiro momento, aquele do camelo, é o dos pioneiros, que lutam resilientes para criar um movimento com longevidade, servindo a um propósito. Depois, temos a fase do leão – que possivelmente estejamos vivendo neste momento. Um contexto no qual a direita briga até com sua própria sombra para defender seus conceitos. E, no futuro, talvez entremos em um período no qual teremos a capacidade de enxergar o novo através dos olhos livres de uma criança, sem a preocupação de brigar o tempo todo.

Neste futuro, com uma visão ampla, livre e afastada dos preconceitos, a direita pode prosperar com maior sensibilidade e arrebatar multidões sem o discurso fácil do populismo. Mas, para isso, precisará de uma nova abordagem, muito diferente do discurso engessado da atualidade, que acaba alimentando a polarização de uma forma quase que incontornável.

Compartilhe

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pesquisar

©2017-2020 Money Report. Todos os direitos reservados. Money Report preza a qualidade da informação e atesta a apuração de todo o conteúdo produzido por sua equipe.