Nesta semana, soubemos que há alguém que manda mais no país que Jair Bolsonaro: os caminhoneiros. Para reduzir o preço do óleo diesel e agradar essa categoria profissional o presidente iniciou uma quizumba que começou com a eliminação provisória dos impostos federais neste combustível, passou pela demissão do presidente da Petrobras e sabe-se lá como vai terminar, pois o mandatário já avisou que a gasolina está cara e pode ficar pelo menos 15 % mais barata.
Com a confusão, o valor de mercado da estatal desabou e espera-se o pior. Não se trata de duvidar da capacidade do substituto de Roberto Castello Branco, o general Joaquim Silva e Luna. Sua nomeação, no entanto, mostra que Bolsonaro quer um controle de preços, ignorando as regras de mercado e que, para implantar uma nova estratégia, escolheu alguém de sua confiança.
É possível traçar um paralelo entre o que ocorre na Petrobras e o Ministério da Saúde de meses atrás. Um técnico não quer fazer o que o presidente manda? Tira-se o técnico e coloca-se um general no lugar. A nomeação de Eduardo Pazuello como ministro da Saúde, entretanto, nos fez ver que estrelas no ombro de um indivíduo não necessariamente significam um atestado de competência para qualquer cargo no Executivo. Portanto, é preciso dar tempo ao tempo para sabermos se Luna é mais um “yes man” ou se pode fazer a Petrobras voltar a respeitar as regras de mercado. Em sua primeira manifestação pública, Luna afirmou que a política de preços é prerrogativa da diretoria da estatal.
Diante disso, vamos ver o que acontecerá nos próximos dias. Se a gasolina não baixar de preço, o presidente se desmoraliza, pois sinalizou algo impossível. Caso os valores marcados nas bombas retrocedam, porém, quem fica em uma situação delicada é Luna.
A demissão de Castello Branco apenas desnudou o que todos já sabiam: a agenda liberal é uma reles lembrança de início do governo. Ao intervir diretamente na gestão da Petrobras e fazer críticas ao regime de mercado – uma vez que os combustíveis são regidos pelo vai e vem das cotações dessa commdity e pela variação do dólar – Bolsonaro pode criar um efeito perverso, que já vimos na gestão de Dilma Rousseff: a queda na confiança do investidor estrangeiro e a insegurança jurídica. Afinal, hoje o presidente implica com o preço do diesel e da gasolina. Amanhã, no entanto, pode ralhar com outra coisa.
Já que Bolsonaro se mostra populista e intervencionista, é melhor que o ministro Paulo Guedes peça seu boné. Sua biografia liberal não o torna o melhor nome para tocar uma economia à lá Ernesto Geisel (numa gestão que não conta com os predicados intelectuais do general presidente). Portanto, se Guedes insistir em ficar no cargo, é sinal de que seu projeto de poder fala mais alto que suas convicções econômicas.