Nesta semana, vendo a GloboNews, parei para prestar atenção em comentário do jornalista Fernando Gabeira sobre uma diferença nos discursos de Luiz Inácio Lula da Silva e de Jair Bolsonaro. Lula havia dito que quer fazer a população mais pobre comer picanha e tomar cerveja. Já Bolsonaro afirmou que não havia filé mignon para todos. Em seguida, Gabeira emendou que a esquerda tem um discurso de melhorar a vida das pessoas e que, segundo a direita, a população precisa se conformar com o que tem.
Antes de mais nada, vamos tirar Lula e Bolsonaro desta discussão para não partidarizar esse texto – e torná-lo uma peça de debate eleitoral. Feito isso, vamos começar com uma pergunta: a direita acha mesmo que as pessoas têm de se conformar com o que têm?
Em primeiro lugar, temos de falar das variáveis macroeconômicas e dos recursos do governo. Quando falamos em utilizar o caixa estatal para melhorar a vida dos mais pobres, os liberais acreditam que utilizar o Tesouro sem responsabilidade fiscal traz consequências perniciosas para o país – em especial, no fomento à inflação, que acaba prejudicando justamente as camadas mais baixas da sociedade (sem condições de proteger o dinheiro da corrosão provocada pela alta de preços).
O Brasil não dispõe, nesse momento, de orçamento estatal para programas sociais que distribuam carne para os mais necessitados – e, diga-se, isso também nunca aconteceu antes na história desse país.
Dessa forma, a única forma consistente de dar condições à população mais carente de consumir maciçamente picanha e cerveja é fazer com que a economia cresça e melhore a distribuição de renda. Há alguns atalhos, como elevar os impostos (especialmente a carga tributária dos mais ricos). Mas não se pode cobrar mais taxas dos empresários sem que se faça uma reforma tributária que diminua os impostos cobrados das companhias. Se a combinação de impostos pagos por empresas e seus controladores aumentar, o resultado será – como pregam os economistas, citando a Curva de Laffer – a queda da arrecadação.
Além disso, precisamos discutir outro ponto do comentário de Gabeira: o uso do verbo “conformar”. O capitalismo tem como ponto de partida justamente o contrário. O que move empreendedores e empresários é justamente o inconformismo. A vontade de progredir, fazer crescer seus empreendimentos. O mesmo vale para quem prefere a vida executiva: são pessoas que buscam superar os padrões médios para ganhar um salário maior, maiores bônus ou obter promoções.
Empresários não querem elevar os salários de seus funcionários simplesmente porque são malvados ou são extremamente gananciosos. O.K., é óbvio que existem os cobiçosos e argentários. Mas uma parte significativa do empresariado atual já raciocina de forma diferente e pensa menos em acumular patrimônio e mais em expandir seus negócios e criar mecanismos de sustentabilidade para sua empresa.
Essa discussão é longa e pode ser desgastante. Mas uma coisa é certa: os capitalistas podem querer muita coisa. Mas conformismo não é uma delas.