Leio ontem, em jornal de grande circulação, reportagem que registra uma tendência forte: várias empresas de porte estão investindo na educação, criando escolas e faculdades. A razão? Segundo o texto, essa seria uma forma de driblar a escassez de mão-de-obra em certas áreas, como a tecnologia. Ou seja, o que moveria essas companhias é o interesse puro e simples de formar e captar talentos no mercado de trabalho.
A matéria traduz uma visão muito comum na sociedade brasileira: o empresário não pode fazer nada apenas porque tem interesse em ajudar o país. É preciso que exista outra razão, de fundo egoísta, para fazer isso (no caso, investir em educação). Ou seja, o empresariado é sempre inescrupuloso, mesmo quando faz o bem.
Na reportagem, é possível ver a fotografia de sala de aula, com cerca de 40 estudantes de tecnologia. Naquela instituição de ensino, que está em seu primeiro ano de operação, há 170 alunos matriculados. O detalhe importante é que essa escola está funcionando por conta da doação dos sócios de uma determinada corporação – não da pessoa jurídica. Mas vamos dizer que isso seja uma forma de disfarçar o verdadeiro interesse, o de capturar, de forma vantajosa, novos funcionários no mercado de trabalho. Aquela empresa irá contratar 170 jovens de uma vez só? Dificilmente.
Outro dia, em meio a uma entrevista, um ex-ministro disse que os empresários só o procuravam para obter vantagens. Ponderei a ele que sempre vão existir os oportunistas de plantão, mas que muitos homens de negócios – especialmente entre a geração mais nova – não pensavam dessa maneira. O entrevistado se desculpou e concordou comigo.
Temos no Brasil uma mentalidade antiempresarial. No fundo, a maior parte da população ainda crê na frase atribuída a Honoré de Balzac: “Atrás de toda a fortuna, há um crime”. Há várias razões para isso, desde a cultura católica até a inveja pura e simples, incluindo o fato de que a fase inicial da revolução industrial – a do capitalismo selvagem – deixou marcas negativas e profundas na sociedade mundial, incluindo a brasileira.
Mas percebe-se, cada vez mais, que uma parte do empresariado se preocupa em encontrar fórmulas para suprir as carências de nosso governo, investindo em ações de impacto social de terceiros ou de iniciativa própria.
Enquanto os empresários forem vistos como inimigos (e não como elementos imprescindíveis para a geração de riquezas, impostos e empregos), dificilmente conseguiremos fazer o Brasil entrar no clube dos países mais evoluídos, crescendo de forma sustentável. É como dizia Winston Churchill: “Alguns consideram a iniciativa privada como se fosse um tigre predador a ser morto. Outros o consideram como uma vaca que podem ordenhar. Apenas um punhado vê o que a livre inciativa realmente é – o cavalo forte que puxa a carroça inteira.”
Uma resposta
A cultura (pop) é anticapitalista! Não acreditam? Então, assista Star Trek: Discovery (2017).
Os mocinhos vivem em uma sociedade comunista e a vilã representa uma cultura capitalista.
Tem outras passagens (des)interessantes, por exemplo, a crítica à religião.
São muito bons, é tudo (críticas) sutil!