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Precisamos falar sobre Bolsa Família e programas similares

Ontem, MONEY REPORT realizou a segunda edição anual de seu evento sobre consumo – e dois dados discutidos durante as apresentações trazem preocupações para o setor do varejo. Um já foi discutido em proporções industriais: o volume bilionário de apostas eletrônicas que saiu do consumo para as chamadas bets (R$ 20 bilhões somente em agosto deste ano). Outro tema, no entanto, chamou a atenção: os varejistas, que empregam cerca de 8 milhões de pessoas em todo o Brasil, estão enfrentando dificuldades para contratar pessoas que preferem ficar dependentes dos programas sociais a trabalhar.

Um exemplo específico foi discutido no evento, sobre alguém que recebeu uma proposta de trabalho em Alagoas. Uma empresa ofereceu a um candidato uma posição de início de carreira, cujo salário era de R$ 1.600,00 mensais. A oferta foi rejeitada. Por quê? Aquele candidato recebia, na soma de três programas de benefícios sociais, R$ 2.200,00.

Nos estados mais pobres da Federação, esses programas têm papel importante na economia e representam a única forma que uma família tem para se sustentar. Portanto, ninguém discute a importância do Bolsa Família e de congêneres. Esses programas, que sempre foram criticados pela direita, passaram a ser defendidos pelos eleitores conservadores durante o governo de Jair Bolsonaro, que promoveu melhorias nos benefícios ao longo de seu mandato.  

Isso posto, precisamos discutir os efeitos que esses programas sociais podem produzir. Uma coisa é garantir a subsistência da população carente. Outra coisa é perpetuar a dependência do dinheiro proporcionado pelo Estado.

Muitos vão argumentar que a iniciativa privada poderia elevar os salários para evitar eventuais perdas aos beneficiados que arrumassem empregos. Ocorre que o salário de cada vaga é determinado pela lei da oferta e da procura e pelo grau de complexidade que uma posição exige. Portanto, existem outras variáveis que formatam os salários que não apenas a vontade dos empregadores.

É preciso discutir a escolha deliberada pelo o ócio em detrimento de uma oportunidade de trabalho. Há hoje uma geração inteira que viveu sustentada por holerites proporcionados pelo Estado e que não quer saber de trabalhar.

Precisamos de uma regra de saída para o Bolsa Família. Talvez a possibilidade de manter parte do benefício por um determinado período se o salário oferecido por um empregador não cubra a totalidade daquilo que é pago mensalmente pelo governo. Pode não ser a melhor solução, mas alguma coisa precisa ser feita quando existe a possibilidade de reinserção de um beneficiado ao mercado de trabalho — e isso não ocorre porque os empregadores não conseguem oferecer vencimentos iguais ao dinheiro que o governo confere aos cidadãos.

Quando não se trabalha, a dignidade pessoal sofre um abalo incontornável. As pessoas precisam se sentir produtivas e enxergar perspectivas de crescimento ou, pelo menos, o esboço de uma carreira profissional. Ficar em casa recebendo um contracheque estatal é confortável, mas vai contaminando a alma de uma forma irreversível.

É por isso que existem indivíduos que desejam ser contratados sem carteira assinada, especialmente nos rincões do país, para que não percam os proventos do Bolsa Família. Mas nem sempre isso é possível, especialmente em setores cuja governança subiu a régua nos últimos anos, como o próprio varejo.

Se ficarmos coniventes com o ócio proporcionado pelo governo e nada fizemos para tornar esses cidadãos produtivos, estaremos comprometendo o futuro do nosso país. Uma nação próspera é sempre empreendedora e trabalhadora, não um país que tem um contingente enorme de cidadãos que vive às custas do Tesouro Nacional. São 20,7 milhões de famílias cobertas pelo programa do governo federal. É muita gente.

Assim, é urgente pensarmos em uma forma de colocarmos uma parte deste exército de pessoas de volta ao mercado de trabalho – seja como empregados ou empreendedores. O que não podemos mais é ficar inertes diante dessa situação, sob pena de ver a produtividade do Brasil definhar, assim como os recursos financeiros do governo.

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