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Qual será o futuro da direita?

Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, disse que o presidente Jair Bolsonaro está “assimilando, tentando entender o que aconteceu, e o que vai fazer nos próximos dias”. Faria ainda emendou: “Ele merece um descanso para refletir”.

O presidente, a julgar pela fala do ministro, precisa analisar as razões de sua derrota. Mas não deveria. Foram vários assessores que alertaram Bolsonaro sobre o risco que se corria ao manter a campanha calibrada apenas para os seguidores mais radicais do presidente, desprezando os eleitores de centro – e sem construir pontes eficazes com o eleitorado feminino e os jovens.

Esses assessores, no entanto, foram solenemente ignorados. Bolsonaro escutou apenas quem dizia o que ele queria ouvir, pois no fundo achava que o antipetismo iria jogar em seu colo os votos de centristas que estavam descontentes com ele. Como se sabe, isso não aconteceu. Houve, inclusive, eleitores de centro que votaram em Luiz Inácio Lula da Silva.

Desde o início de seu mandato, o presidente seguiu seus instintos e jamais ouviu quem o aconselhava moderação. O tom baixou logo após o acordo com o Centrão e voltou a subir alguns decibéis durante a pandemia. E também houve uma espécie de negacionismo eleitoral. Quando via as pesquisas com a liderança de Lula, Bolsonaro preferiu desacreditar as enquetes, em vez de investigar as razões do crescimento de Lula.

Os institutos, de fato, erraram as projeções de voto em relação a Bolsonaro. Mas conseguiram acertar os índices do candidato do PT. Em vez de tentar compreender as razões que turbinavam a rejeição em torno do mandatário, o núcleo da campanha bolsonarista preferiu fechar os olhos.

Na prática, a eleição de 2022 foi uma guerra dividida em duas batalhas: uma de narrativas e outra de desaprovações. O candidato à reeleição perdeu as duas, até porque foi bombardeado pela imprensa desde o dia 1º de janeiro de 2019. Mas, lembremos, Bolsonaro criticou veículos de comunicação desde a campanha e semeou a tempestade que viria com sua posse.

Outro ponto importante foi a falta de empenho para aprovar as reformas enquanto havia capital político suficiente. Neste aspecto, repetiu um erro da gestão de Mauricio Macri na Argentina – outro que foi eleito com promessas liberais e não conseguiu entregar a agenda reformista prometida.

Por fim, Bolsonaro este à frente de um dos piores governos em matéria de comunicação. E a culpa não é exatamente dos ministros e secretários de plantão. Desde o primeiro momento, o presidente se colocou como o único porta-voz de sua administração. E, em vez de divulgar seus feitos e conquistas, preferia cutucar adversários ou promover teses polêmicas. Resultado: o recall da agenda positiva (que era recebida com reservas por parte da imprensa) foi diminuindo a olhos vistos.

A soma de todos esses fatores explica com facilidade a derrota de Bolsonaro – e não uma fraude nas urnas. Na verdade, seria estranho que Bolsonaro tivesse vencido com tantos problemas em sua campanha.

O liberalismo é outro perdedor neste processo. A agenda liberal, que estava presente em praticamente todos os atos de Paulo Guedes no início de sua gestão, chega ao final de 2022 em completo ostracismo. Iniciativas que pretendiam reduzir a influência do estado sobre a economia ficaram em segundo plano diante do projeto de reeleger Bolsonaro, pois uma espécie de populismo de direita acabou emergindo, sem muita preocupação com o controle das contas públicas.

O presidente, inclusive, fez propostas eleitorais parecidas com as de Lula, como a manutenção do programa Auxílio Brasil, de R$ 600 mensais, e a isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5.000 por mês. Agora, o governo de transição tenta encontrar uma solução legal para que se fure o teto de gastos sem que se crie um desconforto junto ao mercado financeiro.

Diante dessa situação, qual será o futuro da direita?

Nos últimos quatro anos, tivemos os extremistas liderando a narrativa conservadora. Mas, com a redução do antipetismo, esse discurso não funciona mais, pois afugenta os eleitores de centro. Se os direitistas quiserem recuperar a competitividade, terão de buscar uma abordagem mais moderada, que coloque a prosperidade em lugar de destaque.

Ficar pregando o medo através do anticomunismo não cola mais. Por isso, se quiser ganhar em 2026, a direita precisa deixar os extremistas como coadjuvantes no próximo pleito. Retomar a agenda liberal, com foco em menos impostos e mais liberdade para empreender. Esses são pontos que todo cidadão compreende facilmente, sem nenhum dilema moral.

O que vimos em 2022 foi uma narrativa de costumes e de guerra santa, temperada com um tom rancoroso e hostil. Trata-se de um terreno perigoso e complicado. O eleitorado brasileiro, de forma geral, rejeita agressividade. Por isso, encontrar uma nova abordagem mais light deveria ser a prioridade número um para os ideólogos conservadores. E, para marcar esse recomeço, seria bom encomendar uma pesquisa qualitativa entre os eleitores que votaram em Bolsonaro quatro anos atrás e não repetiram o voto em 2022. O objetivo: entender o que deu errado para não repetir os mesmos enganos que dirigiram a campanha deste ano.

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