Ontem, estava conversando com amigos em um grupo de WhatsApp, o qual reúne pessoas que estudaram juntas na pré-escola e no antigo primário. Tive o prazer de me reencontrar com alguns dos membros nos últimos anos. Outras pessoas, entretanto, não vejo há mais de 4 décadas. Mas tenho por todos, sem distinção, grande carinho por terem dividido uma fase tão importante de minha vida.
O grupo debatia sobre os preços praticados pela Petrobras e rapidamente passou para uma discussão ideológica. Duas amigas queridas começaram a criticar o modelo liberal econômico e a discussão ganhou um tom mais exaltado que o de costume. Estamos falando de duas pessoas que têm grande preocupação com a Justiça Social e suas críticas à proposta econômica liberal mostravam que ela duvidavam seriamente da capacidade desta linha ideológica em distribuir resultados para diminuir a pobreza.
Me peguei pensando neste assunto durante a tarde e boa parte da noite de ontem.
Por que as pessoas acham que o liberalismo não procura trazer uma melhor distribuição de riquezas?
Em primeiro lugar, os empresários e CEOs ainda são vistos com reservas por grande parte da população. Para esse grupo de pessoas, que é enorme, os homens de negócios ainda estão na época do capitalismo selvagem e da exploração total dos funcionários. Por outro lado, estamos em um momento diferente do capitalismo. Grandes multinacionais, por exemplo, se preocupam sobremaneira com os chamados princípios ESG (sigla em inglês para uma trinca de preocupações que abrangem meio ambiente, inclusão social e governança). Essas grandes companhias se pautariam por esses três temas se de fato só se preocupassem em gerar lucros e sugar seus empregados? Dificilmente.
Além disso, precisamos lembrar que 52 % dos empregos com carteira assinada no país são gerados por pequenas e médias empresas. Esses empreendedores podem ser considerados vis exploradores da força trabalhadora? Muito provavelmente não.
Ao lado disso, temos outro assunto que faz revirar os olhos dos críticos ao liberalismo – estamos falando da meritocracia. Esse termo, que já foi cunhado com orgulho por inúmeros empresários, traz em si uma grande rejeição, especialmente por parte dos menos favorecidos. E, diga-se, há razões para isso. A recompensa por méritos é geralmente oferecida a quem estudou em boas escolas e teve resultados obtidos com afinco, dedicação e capacidade. Trata-se de uma forma de avaliação dura e direta: não leva em consideração às dificuldades que muitas pessoas tiveram para completar sua formação educacional. Por isso, quando se fala em meritocracia, há um contingente razoável de indivíduos que torcem os respectivos narizes.
Ocorre que existem duas formas de se criar distribuição de renda junto aos mais necessitados. Um deles é através do Estado. Nos países capitalistas ou social-democratas, isso é feito por intermédio de programas de assistência social. Utiliza-se o dinheiro dos impostos para de distribuir benefícios junto a quem não tem renda fixa – o programa Bolsa Família é um caso típico desse tipo de iniciativa. Há ainda uma solução mais radical, o Marxismo, que em tese consegue criar uma sociedade igualitária. Mas essa alternativa nivela todos por baixo, pois não há recursos para que o povo inteiro viva com conforto, mutila a centelha empreendedora da população e acaba gastando dinheiro precioso para manter um aparato repressor que tira a liberdade da sociedade (pelo menos, esse é o modelo que os regimes comunistas viviam até a queda do muro de Berlim).
O outro caminho é gerar riquezas através do empreendedorismo. Muitos brasileiros enfrentam diariamente a dificuldade de tocar a vida como autônomos ou microempresários – mas colhem seus frutos, pois o espírito empreendedor sempre esteve presente em solo brasileiro, seja por vocação seja por necessidade. Não é uma vida fácil, mas milhões de brasileiros se entregaram a este cotidiano e conseguem através do trabalho dar dignidade a suas famílias.
A economia digital também oferece oportunidades aos jovens com pouca experiência e, de quebra, pode criar fortunas a partir de uma ideia criativa. As startups são empresas ágeis que crescem sob a égide da colaboração e da ausência de preconceitos. Nessas estruturas, nada é sagrado – e elas funcionam como verdadeiras usinas de inclusão.
Ou seja, o Estado paternalista não é a única saída para oferecer acolhimento e condições dignas de sobrevivência. Há, no entanto, uma contrapartida: a dedicação absoluta e constante foco em sua atividade. Não são todos que conseguem perseverar nessa vida – mas as recompensas para quem vai em frente são inúmeras.