Muitos anos atrás, fui passar o feriado na casa de um amigo. Logo no primeiro dia, entrei em uma discussão, que julguei amistosa, sobre futebol. De uma hora para outra, meu interlocutor ficou agressivo e não gostou de um determinado argumento. Explodindo de irritação (às vezes, causo esse efeito nas pessoas), ele disse, quase gritando: “Você não entende nada de futebol. Vai ler para ver se aprende”.
Respondi com outra pergunta: “Você está ME dizendo para ler, é isso?”. Talvez lembrando que eu era jornalista, o rapaz empacou. Resisti ao impulso de dizer que em um ano eu deveria ter lido mais do que o meu oponente em toda a sua vida. Mas pensei que teria de conviver com ele ainda alguns dias sob o mesmo teto e resolvi desfiar o meu conhecimento histórico sobre o esporte bretão. Ao final, ele se desculpou e disse que eu entendia muito de futebol (o que, diga-se, não é verdade).
Percebi, ao longo daquele feriado, que ele era alguém que se gabava de possuir uma grande cultura geral, mas não havia muita profundidade naquele conhecimento, que não resistia a três perguntas. No final, sua esposa disse que ele era um internauta compulsivo e que ficava horas procurando diversos assuntos no Google.
Alguns anos antes, levei meu filho em uma viagem e fomos visitar um amigo da família, que estava passando uns dias com o neto. O menino, talvez incomodado com alguns comentários do meu filho, começou a introduzir assuntos aleatórios na conversa para mostrar a sua cultura. Alguns dos temas geraram discussão, mas o neto do meu amigo não evoluía na discussão. Meu filho perguntou se ele tinha lido um determinado livro sobre o tema debatido. A resposta: não. Mais dois livros foram levantados, que também não tinham sido lidos pelo garoto. Ou seja, ele era um especialista em pesquisas do Google.
Por fim, mais de duas décadas atrás, peguei um colega de trabalho olhando o meu histórico de navegação no browser. Ele me disse, espantado: “você visita os mesmos sites que eu, como é que tem tanta informação?”. Respondi: “já ouviu falar em uma coisa chamada livro?”.
Não me levem a mal. Sou um usuário contumaz do Google e não saberia mais trabalhar sem usar essa ferramenta. Mas não acho que podemos terceirizar o nosso conhecimento a um mecanismo de busca, procurando informações somente quando surge a necessidade.
A leitura dinâmica sobre um determinado tema, proporcionada pelo Google, resolve problemas imediatos, mas não gera necessariamente conhecimento. Pesquisas mais aprofundadas, proporcionadas por artigos e livros, têm essa capacidade.
A leitura de livros tem uma vantagem adicional: ajuda o leitor a melhorar sua redação, além de ampliar horizontes e expandir a criatividade. Livros – no formato digital ou em papel – podem nos transportar imediatamente para outros mundos. Esses universos podem ser ficcionais ou de carne e osso. Podem tratar de negócios, pessoas, história ou futurismo. Na verdade, não importa o tema ou o tipo de narrativa. Os livros são o combustível da mente, que esticam e puxam nossos neurônios.
Por isso, continue usando o Google. Mas não se esqueça de manter a leitura em dia. Isso nos fará, sempre, pessoas melhores. Como diria a jornalista, escritora e atriz Fran Lebowitz: “Pense antes de falar; leia antes de pensar”.