Quando era adolescente, passava minhas férias de julho no Rio de Janeiro. Numa dessas vezes, um grande amigo do meu pai, Chico Santino, levou-me, com toda a família dele, ao lendário bar Veloso – onde Tom Jobim e Vinicius de Moraes viram o doce balanço de Helô Pinheiro a caminho do mar e compuseram a imortal “Garota de Ipanema”. O garçom nos acomodou na varanda e perguntou o que queríamos. Os adultos foram de chope e os adolescentes de Coca-Cola.
Quando o refrigerante chegou à mesa, fiquei intrigado: o copo estava cheio de gelo e continha uma fatia fininha de limão, uma receita que nunca tinha visto em São Paulo. O líquido foi servido e borbulhou mais do que o normal. Provei e gostei do toque que o limão dava ao sabor caramelo da Coca-Cola.
O tempo passou e aquela combinação carioca virou regra. Algumas décadas depois, se alguém pedir esse refrigerante aqui em São Paulo, vai receber invariavelmente um copo com gelo e limão, sem que se peça isso ao garçom.
Eu até gosto desse jeito de beber refrigerante. Mas nem todas as vezes eu quero sentir o sabor de limão. Ou experimentar a bebida tão gelada. Passei algumas semanas fazendo um experimento: sempre que estava em um restaurante, pedia uma coca zero. E nada mais dizia. Em todos os casos, sem exceção, o copo vinha com gelo e limão.
É o caso de se perguntar: a Coca-Cola, quando foi inventada em Atlanta, veio com uma receita segundo a qual era obrigatória a adição de limão e gelo?
Ai de quem ousar inverter aquilo que hoje parece ser a ordem natural das coisas. Peça uma coca só com gelo. A chance de ela pousar em sua mesa apenas com uma rodela de limão é gigantesca. Ou experimente o caminho inverso – ordenar um copo apenas com limão. Você será brindado com bastante gelo.
A mesma lógica pode ser empregada ao guaraná, que de tempos para cá passou a ser associado a uma fatia de laranja e gelo. Particularmente, nunca gostei dessa mistura: a sensação é que estou consumindo um drops Dulcora laranja em estado líquido.
Outra mixórdia que veio para ficar e não suporto: a fatia de abacaxi com raspas de limão. Para mim, a mistura de dois sabores ácidos não funciona – embora entenda que muita gente aprecie essa combinação.
Mas os restaurantes, ultimamente, não conseguem dissociar uma fruta da casca da outra. Eu sempre aviso os atendentes: um abacaxi sem raspas, por favor. Parece que estou falando com as paredes. Em nove entre dez vezes, o abacaxi se materializa à minha frente com inúmeras casquinhas minúsculas de limão.
Já cansei de protestar. Estoicamente, uso a faca para retirar a superfície de raspas do meu abacaxi. Nesta semana, porém, resolvi trocar de fruta e pedi um mamão papaya de sobremesa. O garçom me perguntou: “Com gotas de limão?”.
Cancelei o papaya e pedi um mil-folhas. Afinal, Deus protege os gulosos: quando pedimos qualquer coisa calórica, ninguém erra o seu pedido ou faz perguntas irritantes…