O juiz Sergio Moro e sua força-tarefa não estão mais nas manchetes dos jornais. Mesmo assim, a corrupção voltou a ser um assunto debatido pela sociedade. É o que mostra um estudo da AP Exata, empresa de Big Data. Nos últimos seis meses, a soma dos posts sobre o tema nas redes sociais já representa um crescimento de 97,3% sobre a totalidade de mensagens publicadas em todo o ano de 2023. Somente na plataforma X, foram 598.000 publicações sobre corrupção no governo do PT no ano passado. Em 2024, até agora, tivemos 1,18 milhão de menções a esse assunto.
Trata-se de um crescimento considerável, impulsionado pelas denúncias relacionados ao ministro das Comunicações, Juscelino Filho, e ao leilão de importação de arroz, cancelado por suspeitas de irregularidades. No caso do ministro, a defesa feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi um dos grandes motivadores para a multiplicação de posts críticos. “Estou feliz com o ministro”, disse Lula na semana passada. “Aí você pode me perguntar ‘ah, mas tem um problema de indiciamento com o Juscelino’ […] Se o cidadão tem um pedido de indiciamento, e esse pedido de indiciamento ainda não foi concedido pela PGR e nem pela Suprema Corte, eu tenho que aguardar o processo” (Lula, depois, disse que afastaria o ministro se a Procuradoria-Geral da República acatasse as denúncias).
Em relação a esse tipo de acusação, no entanto, o presidente — depois de alguma hesitação — deve seguir o exemplo dado por Itamar Franco. Em 1993, uma CPI que investigava irregularidades sobre o orçamento da União levantou suspeitas sobre o então ministro da Casa Civil, Henrique Hargreaves, que fazia parte do núcleo duro da presidência. Itamar afastou o amigo do cargo em 29 de outubro daquele ano. Quando se esgotaram todas as investigações e nada ficou provado, Hargreaves foi renomeado ministro 101 dias após seu afastamento, em 8 de fevereiro de 1994.
Por que Lula demorou para anunciar uma decisão semelhante? O presidente está de mãos atadas, pois é refém do Centrão no Congresso Nacional. Uma eventual demissão de Juscelino poderia desencadear (mais) represálias dos centristas nas votações vindouras. Pelo sim, pelo não, preferiu o desgaste junto à opinião pública a se indispor com o União Brasil (partido do ministro) e dos parlamentares do Centrão. Quando a situação do ministro ficou insustentável, anunciou que aguardará a decisão da PGR.
Já o episódio do arroz, as suspeitas são mais do que justificadas, uma vez que ganharam o certame companhias que nada tinham a ver com a importação de cereais. Lula admitiu que houve irregularidades, mas preferiu isentar o governo. “Tivemos anulação do leilão porque houve uma falcatrua numa empresa”, explicou Lula em uma entrevista de rádio. O problema, convenhamos, não foi exatamente dentro na empresa vencedora – mas sim no processo que elegeu os vitoriosos.
A discussão sobre corrupção foi importante nas eleições de 2016 e 2018. No pleito municipal, provocou um desgaste da classe política que abriu espaço para nomes novos. Já em 2018, turbinou a candidatura de Jair Bolsonaro. Esse mesmo fenômeno poderá influenciar as eleições de 2024 e 2026?
Isso vai depender do noticiário. Esse tipo de assunto é alimentado pelos veículos de imprensa e, por isso, vai precisar de novos escândalos para se manter forte. Portanto, as discussões sobre corrupção podem simplesmente perder a importância de não houver mais denúncias – ou se a administração tomar medidas de impacto, como afastar (pelo menos provisoriamente) ministros indiciados pela Polícia Federal.
P. S.: A partir de amanhã, saio para desfrutar de alguns dias de férias e estarei de volta em 17 de junho, depois de recarregar as baterias. Até lá!