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A difícil arte de bloquear – ou os críticos que se danem

Para uns, é uma delícia. Para outros, um desprazer. Mas ninguém fica indiferente ao bloquear alguém de suas redes sociais ou de relacionamento. Dias atrás, tive essa experiência, ao cancelar um parente. Para ele, está tudo no terreno da normalidade – e explicou sua agressividade como uma consequência de seus “princípios”. Para mim, contudo, ele simplesmente passou dos limites e exagerou.

É triste verificar que o diálogo civilizado é mercadoria escassa entre nós. E ver que muitas pessoas se perdem no mar da generalização, achando que só podem manifestar sua opinião se agredirem os outros com palavras.

Essa situação me deixou ruminando uma mistura de sentimentos negativos: tristeza, inconformismo e mesmo raiva. No fundo, o desgosto é uma emoção inútil e masoquista: o mal que tudo isso traz prejudica apenas a nós e a mais ninguém. Você sofre e a outra pessoa segue sua vida, talvez nem lembrando do episódio que causou a discórdia.

Aquele que bate (mesmo com palavras) esquece mais facilmente das coisas ruins do que quem apanhou. Por isso, é preciso um autocontrole muito forte para conseguir superar esse tipo de adversidade e não guardar rancor.

Às vezes, bloquear alguém causa uma espécie de catarse – e, em determinados casos, pode trazer à tona uma grande dose de euforia. Trata-se, porém, de uma vingança inócua, cujo arrebatamento pode durar alguns minutos (no máximo, horas).

Em meio a esse aperreio, pessoas próximas quiseram que eu desabafasse e botasse esses sentimentos para fora de meu sistema. Ocorre que eu não funciono assim: eu preciso mergulhar na minha raiva até esgotá-la por dentro, pois não lido bem com desabafos. Sei que esse comportamento não é recomendado para todos. Por isso, falo sério: não tentem fazer isso em casa.

Não desfruto do convívio deste parente, que mora em outro estado. Por isso, fico pensando em quem se desentende por motivos políticos com o núcleo familiar próximo, aquelas pessoas que frequentam o mesmo almoço de domingo. Desde que a polarização passou a reger as nossas vidas, essa é uma realidade que pensei só existir nos lares alheios.

Esse cancelamento mexeu comigo porque percebi claramente que não haveria diálogo racional. Estamos na era das lacradas – e um eventual debate com esse parente, pelo que vi nos posts dirigidos a pessoas parecidas comigo, iria ser um festival de cutucões.

A raiva alheia, destilada em palavras insidiosas, é um poderoso veneno. Vai contaminando os outros aos poucos e provoca reações agressivas ou efeitos colaterais malignos. Quando se menos espera, a briga está institucionalizada e enraizada. Nesta situação, assim, é melhor cortar o mal pela raiz, usando a máxima segundo a qual “é melhor um final horroroso do que um horror sem fim”.

Em questão de horas, como diria Rita Lee, sequei a alma de toda a mágoa e segui em frente. Mas, ao final deste episódio, me lembrei de uma frase de Margaret Thatcher que me ajudou a superar os sentimentos negativos: “Se os meus críticos me virem andando sobre as águas do rio Tâmisa vão dizer que estou fazendo isso porque não sei nadar”. Grande Thatcher. É isso mesmo. Os críticos que se danem.

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