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A dura missão de buscar uma vida mais simples

Nas últimas férias, ficamos hospedados na casa de uma família amiga e esses quase dez dias tiveram um impacto muito grande sobre mim. Já não via esses amigos há quase dois anos, pois eles voltaram a morar em seu país natal. Alguns meses atrás, quando falávamos pelo WhatsApp, eles nos convidaram para passar uns dias em sua casa. Aceitamos o convite depois das negativas de praxe (“não queremos atrapalhar”, “vamos incomodar”, “iremos interferir na rotina de vocês”) e passamos dias maravilhosos. Acredito firmemente que cada experiência nos ensina alguma coisa – e essa temporada nos mostrou a importância de seguir um estilo de vida simples.

Não que eu viva um cotidiano nababesco ou glamuroso. Mas estamos muito expostos aos estímulos da rede social e à necessidade frequente de consumo (especialmente minha filha de quinze anos). Neste processo, acabamos comprando mais do que precisamos – e esticamos os limites da autoindulgência para níveis estratosféricos.

Esses amigos têm posses e alta renda, mas preferem não ter carros de luxo: usam modelos práticos e econômicos. Não se vestem exclusivamente com grifes ou frequentam restaurantes apenas caros. Em compensação, têm uma qualidade de vida espetacular, típica de uma cidade interiorana europeia. Além de trabalhar, o foco da vida deles está na leitura, na cultura e nos esportes. Percebe-se que eles não fazem muitas coisas por impulso – talvez um dos maiores fundamentos da sociedade de consumo.

Eles racionalizam suas despesas e fazem a pergunta que todos deveriam fazer antes de uma compra: “Nós precisamos mesmo disso?”. Ou seja, não é uma questão de padrão de vida. É, por outro lado, a opção por um estilo de vida mais despojado.

Fiquei especialmente encantado com a dinâmica da família em discutir temas sérios e relativos à sociedade, à economia e ao comportamento. Refletir sobre os assuntos do dia a dia – da política à economia, da música ao meio ambiente – é algo que está no DNA deles. Tudo isso de uma forma bastante natural, sem chatices ou radicalismos.

Essa convivência me fez questionar se eu estou deixando minha filha levar uma vida materialista demais (ou talvez superficial). Mas, ao mesmo tempo, sei que meu raio de ação sobre ela é restrito. Eu posso influenciá-la apenas em alguns aspectos da vida (se é que eu tenho esse poder).

Além dessas considerações sobre minha família, também voltei questionando algumas atitudes do meu cotidiano – e olhe que eu leio bastante para a média brasileira, até por conta da minha profissão. Mas, ao ver o exemplo dado pelo casal de amigos, tive a impressão de que estou longe de ser a pessoa que gostaria de ser do ponto de vista intelectual.

Quanto mais livres estivermos do luxo, melhor nos sentiremos. Isso não quer dizer que devamos abdicar daquilo que é bom – muito pelo contrário. Mas não podemos nos sentir escravos do que apenas o dinheiro pode comprar. Muitos anos atrás, quando tomei uma decisão errada no campo profissional, fiquei algum tempo vivendo com o cinto apertado. Isso me mostrou que é possível ser feliz sem gastar muito. Conforme as coisas foram melhorando em minha vida, no entanto, deixei no passado a lição que aprendi a duras penas. E passei a viver na base do piloto automático.

Pensamos em encontrar a simplicidade quando o dinheiro está curto. Mas dificilmente refletimos sobre isso em tempos de fartura. Portanto, talvez a forma mais rápida e genuína de descomplicar a vida seja quando essa possibilidade surge como uma escolha própria e não uma imposição do destino.

Hoje, vejo que preciso buscar essa simplicidade interior. E, por conta desta epifania, eu agradeço aos amigos Stephane e Erwane por me proporcionar uma visão diferente para o meu dia a dia. Que possamos passar outras temporadas juntos, falando sobre a vida e experimentando os prazeres frugais e mais duradouros de nossa existência.

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Comentários

Respostas de 2

  1. Belíssimo relato, Aluizio. A espiritualidade e um sincero sentimento de alteridade me levaram, há muitos anos, a escolher o simples e distribuir os excedentes, abrindo mão dos apegos e me afastando do consumismo. Tenha a certeza de que sua filha será sempre influenciada pelas escolhas dos pais. Se não na adolescência, quando passarem as inseguranças tipicas da idade e ela se der o direito de escolher sua real identidade. Boas conversas, somadas à coerência, são libertadoras para os jovens, tantas vezes aprisionados ao artificialismo vigente.

  2. Criamos e educamos nossos filhos dando o exemplo de desapego e simplicidade na esperança de que eles aprendam com nosso exemplo, e não esperem ter que apertar o cinto pra descobrir que podemos viver bem e ser felizes com simplicidade.

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