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A falta que um propósito faz às seleções brasileiras

Ontem, fiquei matutando sobre motivação e propósito, depois de ver os resultados das semifinais da Copa do Mundo. Os triunfos da Argentina e da França me fizeram recordar o fracasso da seleção brasileira nas quartas de final. Diante disso, fui conversar com um amigo que é especialista em motivação esportiva para mergulhar um pouco nesse tema.

Esse amigo disse que o técnico da seleção cometeu alguns erros, mas que o problema não era apenas na tática adotada no jogo contra a Croácia ou na lista de batedores dos pênaltis. Ele acredita que a seleção precisa de três tipos de motivação em jogos decisivos. Dois deles já existem. A bandeira da nação é um desses motivadores – o sentimento patriótico move montanhas nessas competições em que países jogam contra países. Outro quesito crucial é o momento do hino nacional. Trata-se de uma hora em que várias emoções surgem e que podem elevar a autoconfiança de quem está competindo.

E qual seria o terceiro fator de motivação? Seria justamente o que está faltando ao escrete brasileiro – e às seleções brasileiras das demais categorias esportivas. Este quesito seria o propósito. A sensação de estar lutando por um ideal.

A falta de propósito é algo que diminuiu o potencial de todos os indivíduos dessa nova geração, não somente os jogadores. E uma das principais missões de um treinador é encontrar uma causa que motive os jogadores.

Na Copa de 2002, por exemplo, o treinador Felipe Scolari encomendou um vídeo que mostrava as origens humildes de cada um dos jogadores da seleção. Havia depoimentos de amigos de infância, vizinhos e de membros da família de cada um. Naquele instante, muitos dos titulares perceberam o longo caminho que fizeram em suas carreiras para chegar até aquele momento, em que enfrentariam a Alemanha por um título mundial. O efeito motivacional desse vídeo foi percebido por todos que viram o jogo, seja pela TV ou no estádio. O Brasil engoliu a Alemanha como poucas vezes se viu na história das copas.

O capitão do time, Cafu, ficou no espírito do vídeo até depois que o apito do juiz soou. Tanto é que escreveu em sua camisa: “100% Jardim Irene” (Jardim Irene é uma comunidade incrustrada no bairro do Capão Redondo, um dos distritos mais pobres e violentos da cidade de São Paulo – e onde Cafu viveu sua infância).

No fundo, a seleção brasileira precisava de um choque de motivação igual ou maior ao bolado por Felipão, mesmo que fosse um jogo de quartas de final. E os jovens brasileiros, enfrentando desafios no início de suas carreiras, estão no mesmo barco. Eles precisam que os mais velhos indiquem o caminho a seguir, apresentando metas exequíveis e oferecendo recompensas (que não precisam ser monetárias).

É preciso entender como funciona a cabeça dessa nova geração antes de criticá-la. E dar condições para que ela desabroche. Muitos dos meus colegas de geração exultam ao ver um eventual fracasso dos jovens da atualidade, como se isso fosse um atestado de que os mais velhos são superiores aos mais novos. Esse comportamento, no entanto, é egoísta e tacanho. Cabe a nós, os mais experientes, guiar a juventude e ajudá-la a encontrar o caminho certo. Se você tem mais de cinquenta anos de idade, como eu, lembre-se que, nos anos 1980, os mais velhos também nos criticavam. Mas um desses coroas (ou mais de um) se dispôs a ensiná-lo. Agora, é sua vez de ensinar, com um upgrade – mostrar qual é o propósito que os garotos precisam ter em seu trabalho. Seja ele em um escritório ou em um campo de futebol.

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