Toda vez que passeio pelas redes sociais tenho a impressão de que estou em uma versão cibernética do filme “Janela Indiscreta”, rodado por Alfred Hitchcock em 1954. Para quem nunca viu essa obra-prima do cinema, o enredo é sobre um fotógrafo (James Stewart) que quebrou a perna e terá de ficar em casa durante muitos dias. A janela de sua sala dá para um pátio no qual ele pode ver todos os moradores do prédio em frente – e passa a acompanhar o cotidiano deles. Tudo vai bem até ele desconfiar que alguma coisa errada aconteceu em um dos apartamentos vizinhos.
Tirando o thriller proporcionado pelo diretor da película, Alfred Hitchcock, o que vemos nessa obra de ficção não é muito diferente da vida real. Há gente que vive de aparências, pessoas felizes e infelizes, personagens solitárias ou não, além de indivíduos que desejam disfarçar sua verdadeira realidade para os outros. No fundo, é uma realidade moldada pela ficção, planejada para mostrar glamour e beleza ou um mundo que exala a perfeição. O personagem de James Stewart, inclusive, fica viciado em seguir a vida alheia, assim como muito de nós reagem diante do desfile de fotografias e vídeos que aparecem nas telas de nossos celulares.
Há, porém, uma diferença entre o fotógrafo de “Janela Indiscreta” e o internauta mortal. Invariavelmente, somos tomados por um sentimento de incredulidade e de ceticismo. Aquelas existências ideais que vemos frequentemente nas telas de nossos celulares são mesmo verdadeiras?
Se, por um lado, muitos querem mostrar um mosaico de vida perfeita e bem-sucedida, há ainda um espaço bem razoável dedicado para os cancelamentos e apupos digitais. Quem sair do trilho e se mostrar dissonante em relação às opiniões alheias – especialmente aquelas que entram no quadrante da polarização – será solenemente cancelado.
Isso cria um ambiente claramente tóxico e é por isso que muitos pais discutem hoje se poderiam proibir ou não o uso de smartphone ou a navegação da internet em si. Há inclusive pais que substituíram os telefones celulares de seus filhos por modelos antigos, que apenas fazem chamadas e não têm nenhum dispositivo de multimídia incluído.
Mas será que isso faz algum sentido?
Já ouvi alguns pais se gabando de ter escolhido para suas famílias um estilo de vida mais frugal, no qual não há espaço para a navegação em alguns sites e redes sociais. Tenho certeza absoluta de que estes filhos navegam a internet e entram nas mídias digitais com os celulares dos amigos ou criam mecanismos para entrar no ar. Não adianta reprimir o irreprimível. Essa geração não fica sem um celular à mão.
Precisamos prepará-los para essa vida moderna. Nosso momento atual é cheio de distrações, gente querendo aparecer e cancelamentos aleatórios. Não adianta esconder essa realidade dos filhos. Precisamos, isso sim, ensiná-los a enfrentar esses problemas modernos.
O grande desafio, no entanto, é que ainda não aprendemos o que fazer diante desse mundo digital. Sem ainda ter aprendido tudo sobre o que rola nas redes, fica a dúvida: como é que vamos ensinar para alguém alguma coisa que ainda não aprendemos?
Se você souber a resposta para essa pergunta, pode mandar para MONEY REPORT.