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A juíza que protege fake news

Nesta semana, uma manchete no UOL me chamou a atenção: “Juíza condena cientistas por desmentirem post que ligava diabetes a vermes”. Curioso, cliquei no link. Trata-se de uma história bizarra. Uma bióloga, Ana Bonassa, e uma farmacêutica, Laura Marise, foram condenadas por uma juíza de São Paulo por terem postado críticas a um nutricionista que associava a diabetes à presença de parasitas no corpo humano.

O nutricionista em questão, que também se intitula professor de filosofia, defende a tese de que a doença é causada por uma “solitária” que se aloja no pâncreas, provocando uma queda na produção de insulina, o que desregularia os níveis de açúcar no sangue.

Bem, sou jornalista de formação e o funcionamento do corpo humano, muitas vezes, é um mistério para mim. Mas sou movido pela lógica. E assim, faço uma pergunta: como um verme que mede cerca de 4 metros pode caber dentro de um órgão com quinze centímetros de comprimento? Somente essa incompatibilidade já jogaria a teoria do tal nutricionista por terra. Mas as cientistas foram além e mostraram com detalhes a total falta de senso que rege a postagem.

Ocorre que a juíza se compadeceu do nutricionista e mandou a dupla retirar o vídeo que haviam subido no Instagram. “Verifica-se, pois, a ocorrência do dano moral, haja vista a situação de vergonha e tristeza a que fora submetido o autor, em razão da conduta do réu em publicar, sem autorização, seus dados em vídeo junto a rede social de amplo alcance”, diz o despacho.

Ou seja, o fato de o vídeo original ser uma típica manifestação de fake news pouco importa. O importante, isso sim, é a “vergonha e a tristeza” sentidas pelo autor da tese mais bisonha e equivocada já ouvida no campo da saúde.

Não é a primeira vez que este senhor apronta das suas.

Durante muito tempo, ele alimentou um canal no YouTube publicando conteúdos antivacina a seus seguidores. Foi classificado como propagador de “fake news” pelo Ministério da Saúde, mas continua em sua saga contra os antígenos. Em 2023, por exemplo, publicou um vídeo no qual dizia que as vacinas contra a gripe carregam em sua composição “fungos e vírus causadores de câncer”.

Na postagem, ele ainda elabora o seguinte raciocínio: “Dizem eles: ‘A vacina é o que há de mais eficaz para matar as pessoas sem elas perceberem, devagar, leva tempo, é uma bomba com efeito retardado, é menos violento do que dar um tiro’. Os pobres, os feios, os velhos vão sendo eliminados aos poucos, eles vão ter câncer, vão ter doenças. Misericórdia! A que ponto nós chegamos?”.

É muito triste ver uma representante da Justiça defendendo alguém que dedica seu tempo à desinformação barata. Mas isso é reflexo dos tempos – um momento histórico no qual os magistrados parecem achar que estão acima da humanidade e podem tomar qualquer tipo de decisão, mesmo desafiando a lógica e o senso comum.

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Comentários

Respostas de 2

  1. Grato pela análise, caro Aluízio Falcão Filho. Como sempre um ótimo retrato da crônica diária desta terra de Macunaíma.
    O “rabo ainda morderá o cachorro”… não falta muito.
    Abraços.

  2. Querido Aluizio. Realmente, ler suas deliciosas, relevantes, oportunas matérias, se tornou, pra mim, quase que uma obrigação. A diversidade de temas e a precisão nas análises são, pra mim, um oásis nesse deserto de desinformação em que nos vemos hoje.
    Me permita, apenas, fazer duas colocações:
    . essa postura dos juízes, magistrados, de se colocarem “acima dos mortais”, não é de hoje. Desde que eu me conheço por gente, é assim;
    . Me parece que o caso, aqui, extrapola a arrogância ou prepotência. É típico de ignorância mesmo. E o que assusta é que parece estarmos vivendo uma “epidemia de ignorância”. São tantos os casos…Não sei se o “fenômeno das redes”, acentuou isso, ampliou a “visibilidade” de fatos e mais fatos bizarros, insanos, exdrúxulos, surrealistas. Realmente, tudo isso me entriste e me faz lamentar: “ vivemos tempos sombrios. No mínimo, assustadores.”

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